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terça-feira, 4 de novembro de 2008

CNBB (digo, CNB do B) - A IGREJA ENGAJADA

NIVALDO CORDEIRO
04/05/2003

 

“... todo infortúnio, inclusive os das palavras, que é eminentemente o nosso, é ainda assim uma desgraça livre o bastante para ensinar-nos a escapar por entre as malhas infernais da Dama Idéia. E o afortunado que tiver juízo, ao ver-se em fim do outro lado, irá logo encontrar-se com o mundo como tal, que é onde vivem o real e tudo o que, não sendo dela, da veneranda Dama, só pode ser de Deus”.


Bruno Tolentino

 

 

1- Introdução

 

É certo que o século XX trouxe profundas transformações para a sociedade brasileira, que afetaram de forma decisiva a ação da Igreja Católica no Brasil. A pesquisa histórica ainda está insipiente para produzir um quadro explicativo definitivo para o que se passou no interior da Igreja, mas podemos dizer que essas mudanças parecem representar um certo desconcerto da hierarquia católica diante do processo de urbanização, que foi acompanhado por forte aumento nos níveis de alfabetização e tornou o país mais permeável às influências estrangeiras, seja do ponto de vista econômico, social ou político.

 

No contexto internacional vimos a emergência e a derrocada do nazismo, do fascismo e do comunismo soviético. Na segunda metade do século, a Guerra Fria teve poderosa influência geopolítica e, na América Latina, Brasil inclusive, tivemos o ciclo de governos autoritários, com apoio dos Estados Unidos da América, em resposta à agressão comunista e, em especial, ao perigo da exportação da revolução cubana. Não se pode esquecer que o caldo de cultura da expansão dessas ideologias coletivistas deu-se dentro do relativismo moral, que afetou profundamente as crenças das pessoas .

 

Do ponto de vista institucional, foi marcante a criação, em 1952, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, órgão colegiado do episcopado que funciona como uma estrutura de poder da Igreja no Brasil, que mais das vezes chocou-se com a Santa Sé, seja em termos de doutrina, seja em termos de ação política. A CNBB significou uma mudança de postura política radicalmente diferente da Igreja no Brasil: serviu de instrumento para o crescente aparelhamento das instâncias eclesiásticas pelos prelados de esquerda, a ponto de fazer surgir a chamada teologia da libertação, que outra coisa não é que não uma leitura marxista dos textos da Bíblia.

 

No campo da filosofia, que delineou, do ponto de vista teórico, esse novo evangelho de esquerda, destacou-se a figura do padre Henrique Cláudio de Lima Vaz, que formou gerações de lideranças políticas, desde os tempos do movimento Ação Católica nos anos sessenta, balizando toda a ação da Igreja no campo político da esquerda nos anos subseqüentes, culminando com a eleição de Lula para a Presidência da República.

 

No campo da assim chamada teologia da libertação, o Brasil produziu vários autores de destaque, dentro os quais sobressai-se o frei Leonardo Boff, hoje afastado da Igreja em virtude dos seus radicalismos marxistas.

 

Para tentar entender o quebra-cabeças que é a ação política da Igreja no Brasil, ao longo desse texto serão comentados vários artigos e documentos que estão inseridos no sítio da CNBB (www.cnbb.org.br), em virtude da sua facilidade de acesso e da sua atualidade, servindo adequadamente para se ter uma visão do que pensa a alta hierarquia católica no Brasil, o que equivale a dizer, toda a Igreja em nosso país. Espera-se que os textos escolhidos para comentários sejam os mais adequados para dar uma visão panorâmica do pensamento da CNBB.

 

2 – Alguns Fatos Históricos

 

Uma das conseqüências da ação política da CNBB foi a criação da Juventude Universitária Católica – JUC, no final dos anos cinqüenta, organização que definhou mas que deixou frutos duradouros, como a Ação Popular – AP, organização que forneceu quadros de liderança para a luta armada que se desenvolveu a partir dos anos sessenta e que também gerou os principais quadros que seguiriam na liderança de esquerda, até a composição do governo Lula.

 

Podemos ler em Tibúrcio e Miranda  :

 

“A AP surgiu dos quadros da Juventude Universitária Católica (JUC), em 1963. Em 1968, assumiu uma variante maoísta no campo do marxismo, e, em 1971, defendeu a união de todas as correntes marxistas-leninistas. No mesmo ano, a maioria da organização fundiu-se com o PC do B, e os que ficaram passaram a denominá-la de APML (Ação Popular Marxista-Leninista)”.

 

As chamadas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, tornaram-se verdadeiro instrumento de sovietização da Igreja, com penetração em quase todas as paróquias e militância nos movimentos sociais mais significativos. Com o Ato Institucional  5, várias lideranças radicalizaram e recrutaram os seus quadros no meio católico onde a CEBs estavam estruturadas.

 

A partir dos anos oitenta, com a entrada em cena do Papa João Paulo II, houve uma tentativa de Roma de disciplinar a Igreja no Brasil. Várias figuras importantes, como Paulo Evaristo Arns, foram jubiladas por idade e substituídos por prelados mais afinados com o Papa. Várias reformas foram feitas no tamanho das dioceses, entre elas a de São Paulo, com o objetivo de reduzir o poder da esquerda na Igreja do Brasil. Como veremos, tal movimento foi ainda insuficiente para mudar o quadro político dentro da Igreja.

 

Em paralelo, durante toda a segunda metade do século XX vimos a crescente penetração das igrejas evangélicas, sejam as tradicionais, sejam as pentecostais, sejam as neo-pentecostais no meio católico brasileiro. Esse fato comprova estatisticamente que a resposta católica aos anseios espirituais dos brasileiros ficou insatisfatória, espaço que foi crescentemente ocupado pelas igrejas concorrentes cristãs.

 

3- A Análise de Conjuntura de Fevereiro de 2000

 

O texto da Análise de Conjuntura da CNBB, datado de fevereiro de 2001, é emblemático para entender os conflitos hamletianosenvolvendo o governo Lula e a própria CNBB. Vejamos os seguintes trechos:

 

“Cumprindo o que fora acordado com o Fundo Monetário Internacional, a União obteve um superávit primário de R$30.600 milhões. Incluindo-se o resultado dos Estados e municípios, o superávit chegou R$38.200 milhões, ultrapassando em R$1.400 milhões a meta estabelecida. Isso significa que o Governo ficou com todo esse montante para o pagamento de juros, encargos e amortizações das dívidas interna e externa...Esses números revelam o custo humano do superávit primário, que permite ao Brasil continuar tomando empréstimos no mercado e gozando da (relativa) confiança dos credores. O sacrifício da população que paga mais impostos porque não são corrigidos pela inflação e deixa de beneficiar-se com os investimentos e gastos públicos na área social, não permitiu cobrir sequer a metade do serviço das dívidas interna e externa. Fica clara a prioridade conferida aos recursos públicos para a área fiscal (pagar aos credores) e não ao crescimento econômico e ao atendimento dos setores desprotegidos da sociedade. Recoloca-se então a questão do círculo vicioso do endividamento público: apesar da extraordinária economia realizada na execução do Orçamento de2000, a dívida pública aumentou”.


Esse discurso supostamente oposicionista elegeu Lula. Qual a surpresa que, Lula lá, aquela política não apenas foi mantida, como foi acentuada. O superávit fiscal cresceu e a taxa de juros subiu. A verdade nua e crua é que não há alternativa a essa política dentro dos marcos estabelecidos pela estrutura de forças que sustenta o governo. A única alternativa é a aplicação do liberalismo econômico, mediante a redução do Estado, coisa que Lula jamais faria e a CNBB sempre exorcizou, pelo lado da receita e da despesa. Haveria que contrariar profundos interesses estabelecidos.


O que restará para a Igreja vermelha e para os “verdadeiros” militantes de esquerda? O nada, o vazio de quem descobriu que seu discurso não pode ser posto em prática, que mentiram para si mesmos e para os outros o tempo todo, que suas análises são expressão de primitivismo cientifico aplicado à economia. É possível que parte da Igreja volte aos cânones papais, ao bom caminho, mas também é possível que parte de seus militantes radicalize para opções revolucionárias leninistas. São os escravos da Dama Idéia de que nos fala Bruno Tolentino em seu último livro . É uma questão em aberto. Aliás, o mesmo vale para todos os militantes de esquerda desiludidos com Lula Lá.


O problema é que essa é a real base de apoio de Lula, a mais sólida e a mais antiga. A Igreja Católica praticamente gestou Lula como político. Ora, se perder essa base, que pode lhe fazer uma oposição barulhenta, a sua condição de governabilidade pode ficar comprometida. Lula e sua troupe estão entre a cruz e a caldeirinha, para usar uma expressão típica das sociedades católicas. Ocontorcionismo verbal ininteligível, que tem sido a marca dos seus discursos, é uma arma fraca para o duelo de idéias que se avizinha.


4- A Análise de Conjunta de Maio de 2000


A Análise de Conjuntura da CNBB, datada de 03 de maio de 2000 e apresentado a 38º Assembléia Geral da instituição, teve por título “Brasil 500 Anos – Diálogo e Esperança”. O texto teve revisão de Roma, daí o tom relativamente moderado que perpassa a redação final, dada a público. Ele, todavia, se presta a uma reflexão sobre o que pensa a própria Igreja Católica do Brasil sobre si mesma.

 

No parágrafo 5, podemos ler: “Nosso diálogo terá como tema um olhar sobre o passado, que nos permita reconhecer feridas e cicatrizes que ele deixou, para buscar caminhos de reconciliação e consenso no presente e discernir nossas responsabilidades e compromissos com o futuro”.

 

Na seqüência, faz uma periodização da história da Igreja no Brasil, tomando como marco a sua relação com o poder político. Do período colonial até a proclamação da República, a unidade entre o Estado e a Igreja; Depois da República, a unidade Estado-Igrejateria sido substituída pela unidade Igreja-povo (sic); E, finalmente, no período recente, especialmente depois do governo militar, a Igreja colocando-se contra o poder constituído.

 

No parágrafo 21 vem a esparrela de um pedido de perdão fora de foco, envergonhado e despropositado, como podemos ler: “Não obstante muitos aspectos positivos do passado, ficaram marcas negativas, fruto também dos erros cristãos (!). Sem pretender culpar nossos antepassados, sentimos a necessidade de pedir perdão daquilo que objetivamente foi contra o Evangelho e feriu gravemente  a dignidade humana e muitos irmãos e irmãs nossos. Aos índios foram tiradas as terras, a vida e até mesmo a razão de viver. Dos negros foi violentada a liberdade e a eles foi dificultada a conservação de sua cultura e memória, e até hoje, não lhes foi restituída a condição de cidadania plena”.

 

Ora, o que vemos aqui é a Igreja Católica brasileira culpar-se por ter pregado o Evangelho e ter convertido os não europeus ao catolicismo. Haverá, pergunto eu, algum outro sentido para a existência da Igreja que não a Evangelização?  Os bispos haveriam que repetir, com Paulo Apóstolo, que não se envergonham do Evangelho de Cristo. Não há que subordinar uma suposta razão ecumênica à missão evangelizadora. Se há um sentido no Cristianismo, este é um só: é o sentido de civilização, ao qual culturas neolíticas não podem, em hipótese alguma, ser comparadas.

 

Dizer que terras foram retiradas dos índios é um absurdo, na medida em que sequer existia o sentido de propriedade. Teria sido ético deixar a multidão de índios nas trevas da ignorância? Claro que não. E a assimilação cultural e racial, pela miscigenação, de forma alguma pode ser equiparada a genocídio. Esse é o grande legado que a colonização portuguesa nos deixou, uma nação única, que tem no mestiço a sua base social. Mas esse mote é excelente gancho para gerar palavras de ordem contra o capitalismo, negando a realidade imediata que se dá.

 

A questão da escravidão negra não pode ser deslocada de seu contexto histórico. A humanidade daqueles tempos era assim e o processo de escravidão começava nos costumes existentes na própria África. É preciso entender que a própria libertação dos escravos foi produto da ética cristã. Deslocar os fatos históricos para serem mimetizados pelos valores vigentes hoje é uma violência e um método inaceitável de análise. Infelizmente, a Igreja tem feito coro com uma visão errônea da questão racial no Brasil, politizando perigosamente uma questão de forma inteiramente desfocada de seu contexto. A miscigenação brasileira é uma realidade.

 

No catolicismo temos a politização de tudo, a substituição do pecador, digno da salvação no Além e a única razão de ser da encarnação do Verbo, pelo pobre, cuja salvação os padres marxistas querem ainda nesse mundo, através da política. Pobre não pode ser confundido com pecador e vice-versa. Ao abraçar o evangelho satânico do marxismo, a Igreja Católica simplesmente deixou de cumprir a sua função primordial. Não posso deixar de notar aqui o eco nostálgico da Igreja que era Estado e quer tornar a sê-lo novamente, ainda que por vias revolucionárias.

 

O restante do texto, como era de se esperar, só fala no governo autoritário, em ações estatais, em corrupção governamental, em pregação política e coisas do gênero. Claro que não esqueceram nem da dívida interna, da dívida externa e nem da globalização, como se isso tivesse alguma relevância espiritual. Não é à toa que o rebanho decresce. Esses discursos podem ter elegido Lula Lá, mas certamente minou a força espiritual da Igreja. A política muda como o vento e a mensagem de Cristo é permanente. O maior não pode estar a reboque no menor. Lamentavelmente, a alta hierarquia da Igreja Católica escolheu o caminho errado.

 

5- A Análise do 11 de Setembro


Os dois documentos relativos a setembro e a outubro de 2001 debruçam-se sobre a conjuntura internacional, com foco nos acontecimentos de 11 de setembro nos EUA. É impressionante o que escreveram:

"O atentado ocorre num momento delicado nas relações econômicas e políticas dos EUA com o resto do mundo. O País já estava vivendo o início de uma forte desaceleração no seu crescimento econômico (havia quem previsse uma recessão, com graves conseqüências para a economia mundial) e seu presidente vinha tomando medidas politicamente desastrosas (como a rejeição do acordo de Kyoto, a permissão para exploração do petróleo em reserva ecológica no Alasca, o abandono da reunião da ONU contra o racismo, na África do Sul, e a conivência com a repressão israelense à intifada). Se o contexto global fosse diferente, e os EUA estivessem em posição politicamente confortável, o atentado certamente seria absorvido como foram os muitos atos terroristas do século XX. Mas a percepção unânime é que não se trata de um gesto tresloucado de algum grupo fanático, e sim de uma virada na história dos EUA. De uma hora para outra, vieram à tona os seus crimes contra a Humanidade (talvez a charge mais expressiva seja a montagem da célebre foto de crianças vietnamitas atingidas por napalm correndo por Nova Iorque, tendo ao fundo os escombros do WTC). Também foram lembrados seus ataques ao Iraque, as bombas sobre Hiroshima e Nagazaki, seu apoio ao terrorismo contra governos adversos e as intervenções em países caribenhos e latino-americanos para a instalação de governos títeres. Nesse contexto, o episódio soa como um sinal de fim do império e início de uma era de incertezas e agressividade descontrolada. Será esta a marca do século que agora começa?" (Grifo meu)

Essa análise é de uma impiedade muito pouco cristã. Justifica os atentados dentro de uma de uma lógica ao mesmo tempo vingadora dos supostos pecados dos EUA e responsabiliza a vítima pelo seu próprio sofrimento, da mesma forma com que os intelectuais engajados do mundo inteiro o fizeram. E não dá para não perceber o tom comemorativo e de aprovação que o texto confere aos autores daquele crime hediondo.


E, na verdade, não obstante os seus erros pontuais, o mundo deve aos EUA diretamente a sua liberdade e a longa prosperidade que conheceu desde 1945, pois foi a nação vencedora das hostes do nazismo e do comunismo, que ameaçavam a todos, mas em especial o Ocidente, isto é, a tradição cristã. Não fosse a generosidade dos vencedores a realidade teria sido bem outra. Não reconhecer essas verdades é ser conivente com a mentira, algo bem pouco cristão.


O que veio a tona de uma hora para outra com os atentados não foram os supostos pecados daquele País, mas o ódio que multidões nutrem por ele, motivadas Deus sabe porque. O espantoso é que tal ódio seja veiculado em um site supostamente dedicado a tratar da paz de Cristo e da Justiça Divina, sob a bênção da mais alta hierarquia católica.


Os textos de outubro mudam o tema mas não mudam o foco. A ladainha é contra a ordem neoliberal, que supostamente traz o sofrimento ao mundo. Um dos textos destila uma visão conspiratória dos EUA e do capital financeiros contra os países pobres, supondo que eles querem o pior para esses últimos. Uma análise assaz primária das relações internacionais.


A mensagem do Papa João Paulo II para a comemoração do Dia Mundial da Paz (01/02/2002), intitulada “Não há paz sem justiça; Não há justiça sem perdão”, é um documento exemplar da postura da Santa Sé em relação aos acontecimentos de 11 de setembro. O interessante é também compará-lo com a linha de análise dos fatos adotada pela CNBB, na Análise de Conjuntura relativa ao mês de novembro. O abismo entre ambas as posições é maior do que aquele que separa o Céu da Terra. A seguir vou tentar comparar os textos.


A mensagem do Papa tem um caráter intimista, daí a sua leitura ser ainda mais excitante, tangenciando o poético. E ele não usa de meias palavras para condenar os atentados:


"Este ano o Dia Mundial da Paz é celebrado tendo como pano de fundo os dramáticos acontecimentos do passado dia 11 de Setembro. Naquele dia, foi perpetrado um crime de terrível gravidade: em poucos minutos milhares de pessoas inocentes, de várias procedências étnicas, foram horrorosamente massacradas. Desde então, por todo o mundo as pessoas tomaram consciência, com nova intensidade, da sua vulnerabilidade pessoal e começaram a olhar o futuro com um sentido, jamais pressentido, de íntimo medo. Diante deste estado de ânimo, a Igreja deseja dar testemunho da sua esperança, baseada na convicção de que o mal, o mysteriuminiquitatis, não tem a última palavra nas vicissitudes humanas. A história da salvação, delineada na Sagrada Escritura, projeta uma grande luz sobre toda a história do mundo ao mostrar como sobre ela vela sempre a solicitude misericordiosa e providente de Deus, que conhece os caminhos para sensibilizar mesmo os corações mais endurecidos e alcançar bons frutos mesmo de uma terra árida e infecunda. Esta é a esperança que anima a Igreja no início do ano 2002: com a graça de Deus este mundo, no qual as forças do mal parecem uma vez mais triunfar, há-de realmente transformar-se num mundo em que as aspirações mais nobres do coração humano poderão ser satisfeitas, num mundo onde prevalecerá a verdadeira paz".


Quanta diferença quando comparamos com o que escreveram os analistas conjunturais da CNBB! Vejamos o seu primeiro parágrafo:


"A conjuntura continua marcada pelo atentado terrorista do dia 11 de setembro e pela guerra contra o movimento Taliban, do Afeganistão. À medida que passa o tempo, vai ficando claro que aquele atentado condensou a sensação de mal-estar mundial dos últimos anos. A guerra que se seguiu, desproporcional à sua pretensa causa, só veio agravar esse mal-estar, como se a Humanidade no seu todo estivesse febril".


Em todo o texto do Papa vemos a justa indignação com os atos terroristas perpetrados contra os EUA, não havendo uma única palavra de condenação do Santo Padre contra as ações militares no Afeganistão, ainda em andamento à época, até porque o Papa, em momento anterior, já havia classificado a guerra como "justa". Já os conjunturalistas da CNBB iniciam seu texto relativizando, afirmando com o acontecido em 11 de setembro "condensou a sensação de mal-estar mundial nos últimos anos", implicitamentocolocando a ação criminosa calculada e pensada como uma resposta a uma agressão anterior. Nada mais falso. Além disso, condena de forma categórica ação dos EUA no Afeganistão, em clara contradição com a visão do Sumo Pontífice.

Eles acrescentam à sua análise:


"À medida que passa o tempo e continuam as operações militares comandadas pelos EUA na Ásia Central, vai ficando claro que esta guerra tem outros objetivos além do alegado combate a grupos que adotam o terrorismo como estratégia política. Um desses objetivos é assegurar aos países membros do G-7 o controle sobre as rotas de petróleo e gás natural da Ásia Central e do mar Cáspio (cujas reservas serão a grande alternativa para o Ocidente quando se esgotarem os recursos do Oriente Médio, dentro de 20 anos no máximo). Outro objetivo, de importância estratégica, é a presença militar nas vizinhanças da China (a potência emergente dos próximos anos, já se preparando para ocupar o terceiro lugar na corrida espacial), da Índia e da Rússia/Sibéria. Enfim, é preciso lembrar que a guerra aumenta os investimentos na indústria bélica e dinamiza a economia estadunidense para fazê-la sair da recessão que já a ameaçava antes mesmo de 11 de setembro".


Fica claro nesse trecho que os analistas adotam uma visão conspiratória, tratando os EUA como agressores e não como quem combate em ato de defesa, aí englobando o G-7. Como se países como França não tivessem suas reservas contra os EUA e aquele colegiado fosse um monolito. Na visão dos analistas, a mobilização militar no Afeganistão não tem por objetivo destruir as bases terroristas, mas fazer a guerra de conquista, em claro desacordo com a realidade dos fatos. A paranóia vai além, sugerindo que o Ocidente precisaria de bases militares adicionais por causa da China e da Rússia, como se ainda estivéssemos vivendo a Guerra Fria e o comunismo não tivesse sido derrotado em 1989. A pobreza dos parâmetros dos analistas é, por assim dizer, franciscana. Chega mesmo a ser colegial.


O seguinte trecho é ainda mais insípido:


"A escolha do mundo árabe-muçulmano como alvo de guerra, porém, pode ter efeitos explosivos no médio prazo. Como já foi assinalado (Conjuntura de setembro), a opção pela guerra provoca a radicalização de posições extremas e dificulta o desenvolvimento de alternativas viáveis para a Justiça e a Paz mundial (como as alternativas nascentes do Fórum Social Mundial). Vemos multiplicarem-se medidas autoritárias contra pessoas suspeitas, principalmente nos EUA, onde o governo Bush está fazendo lembrar o AI-5 da ditadura militar brasileira. A recente vitória eleitoral da direita na Dinamarca parece ser um mau presságio de agravamento da xenofobia e do endurecimento político do Ocidente. Os problemas mundiais tendem a ser resolvidos pela força das armas e em favor dos mais fortes sob o ponto de vista econômico e militar, uma vez que agora mais que nunca é evidente a inter-relação entre segurança e economia.. A aversão ao risco ganha maior peso como fator de decisão sobre os investimentos: o Estado que não oferecer segurança aos investidores ficará prejudicado no financiamento da sua economia".


Os EUA escolheram os mundo árabe-muçulmano como alvo? Foi exatamente o contrário, eles atacaram os EUA de forma rapace e traiçoeira. Aqui os analistas conjunturais transformam o agredido em agressor. E, como bons marxistas, colocam o drama como sendo motivado por razões econômicas, quando toda a gente sabe que a motivação é de outra natureza, está no ódio ancestral e tribal contra a modernidade, contra a sociedade aberta, contra a libertação feminina e, podemos dizer, contra as liberdades em geral do meio árabe. E as medidas de proteção contra os novos prováveis atentados (quem esquece do terrorista do sapato tentou derrubar um outro avião, uma forma de terrorismo que poderíamos chamar de pé-de-chinelo? É possível não ser previdente contra esses dementes?) Quem tentou resolver os problemas mundiais pelas armas foram os terroristas. E, que mal pergunte, o que tem a ver a segurança dos investidores com os atos terroristas? Só marxistas cegos pela ideologia para misturar alhos com bugalhos. É a Dama Idéia em ação.


Mas voltemos ao texto do Santo Padre:


"Os recentes acontecimentos, com os terríveis fatos sangrentos aqui lembrados, estimularam-me retomar uma reflexão que freqüentemente brota do mais íntimo do meu coração, quando lembro os acontecimentos históricos que marcaram minha vida, especialmente nos anos da minha juventude. Os indescritíveis sofrimentos de povos e indivíduos, vários deles meus amigos e conhecidos, causados pelos totalitarismos nazista e comunista, sempre interpelaram o meu espírito e motivaram a minha oração. Muitas vezes me detive a refletir nesta questão: qual é o caminho que leva ao pleno restabelecimento da ordem moral e social tão barbaramente violada? A convicção a que cheguei, raciocinando e confrontando com a Revelação bíblica, é que não se restabelece cabalmente a ordem violada, senão conjugando mutuamente justiça e perdão. As colunas da verdadeira paz são a justiça e aquela forma particular de amor que é o perdão".


Quanta diferença! Enquanto que a CNBB emprega declaradamente a sociologia marxista para fazer o seu arremedo de interpretação da realidade, o Papa usa a doutrina de cristã, prega o Evangelho, a grandeza da justiça e do perdão. E vai além. Denuncia o totalitarismo, inclusive o comunista, que é tão caro para uma parcela importante do clero brasileiro.


Continua o Papa:


"Mas, nas circunstâncias atuais, pode-se falar de justiça e, ao mesmo tempo, de perdão como fontes e condições da paz? A minha resposta é que se pode e se deve falar, apesar da dificuldade que o assunto traz consigo, e da tendência que há a conceber a justiça e o perdão em termos alternativos. Mas o perdão opõe-se ao rancor e à vingança, não à justiça. Na realidade, a verdadeira paz é « obra da justiça » (Is 32, 17). Como afirmou o Concílio Vaticano II, a paz é « fruto da ordem que o divino Criador estabeleceu para a sociedade humana, e que deve ser realizada pelos homens, sempre ansiosos por uma mais perfeita justiça » (ConstpastGaudium etspes, 78). Há mais de quinze séculos que na Igreja Católica ressoa o ensinamento de Agostinho de Hipona, segundo o qual a paz, a ser conseguida com a colaboração de todos, consiste na tranquillitas ordinis, na tranqüilidade da ordem (cf. De civitate Dei, 19, 13). Por isso, a verdadeira paz é fruto da justiça, virtude moral e garantia legal que vela sobre o pleno respeito de direitos e deveres e a eqüitativa distribuição de benefícios e encargos. Mas, como a justiça humana é sempre frágil e imperfeita, porque exposta como tal às limitações e aos egoísmos pessoais e de grupo, ela deve ser exercida e de certa maneira completada com o perdão que cura as feridas e restabelece em profundidade as relações humanas transtornadas. Isto vale tanto para as tensões entre os indivíduos, como para as que se verificam em âmbito mais alargado e mesmo as internacionais. O perdão não se opõe de modo algum à justiça, porque não consiste em diferir as legítimas exigências de reparação da ordem violada; mas visa sobretudo aquela plenitude de justiça que gera a tranqüilidade da ordem, a qual é bem mais do que uma frágil e provisória cessação das hostilidades, porque consiste na cura em profundidade das feridas que sangram nos corações. Para tal cura, ambas, justiça e perdão, são essenciais".


Há, nesse trecho, apoio implícito a ação dos EUA, que têm a missão de restabelecer a ordem quebrada, o equilíbrio perdido. A tranqüilidade da ordem exige a ação da justiça, que deve ser seguida da ação do perdão, tão bela e poeticamente aqui lembrado pelo Santo Padre.


Nada mais diferente do que a pífia análise dos analistas conjunturais da CNBB. O Papa não usa de meias palavras para condenar o terrorismo, como podemos ler no seguinte trecho:


"É precisamente a paz baseada na justiça e no perdão que, hoje, é atacada pelo terrorismo internacional. Nestes últimos anos, especialmente após o fim da guerra fria, o terrorismo transformou-se numa rede sofisticada de conluios políticos, técnicos e econômicos, que ultrapassa as fronteiras nacionais e se estende até abranger o mundo inteiro. Trata-se de verdadeiras organizações, dotadas freqüentemente de enormes recursos financeiros, que elaboram estratégias em vasta escala, atingindo pessoas inocentes, de forma alguma envolvidas nos objetivos que se propõem os terroristas. Usando os seus mesmos sequazes como armas para atingir pessoas incautas e indefesas, estas organizações terroristas manifestam de modo assustador o instinto de morte que as alimenta. O terrorismo nasce do ódio e gera isolamento, desconfiança e retraimento. A violência atrai violência, numa trágica espiral que arrasta também as novas gerações, herdando elas assim o ódio causador das divisões precedentes. O terrorismo baseia-se no desprezo da vida do homem. Precisamente por isso, dá origem não só a crimes intoleráveis, mas constitui em si, enquanto recorre ao terror como estratégia política e econômica, um verdadeiro crime contra a humanidade".


E também não usa de meias medidas para o seu combate:


"Existe, portanto, um direito a defender-se do terrorismo. É um direito que deve, como qualquer outro, obedecer a regras morais e jurídicas na escolha quer dos objetivos quer dos meios".


Mais um claro apoio à ação internacional que está em curso. O restante do texto continua explorando por outros ângulos o mesmo tema, condenando o terrorismo e apoiando a ação "justa" e o perdão.


6- A CNBB e o Fórum Social Mundial


A CNBB tornou-se porta-voz do Fórum Social Mundial na Análise de Conjunta de fevereiro de 2002. Os analistas conjunturais não se cansam de repetir os clichês desgastados que a esquerda tem repetido onde pode, como se vê no trecho que segue, retirado daquele documento:


“O lema do Fórum “Um Outro Mundo é possível” já propõe a superação do pensamento único no neoliberalismo vigente por um processo de diversidade em todos os campos do saber e em todos os níveis da vida humana: “o mundo do outro é possível”, estudaram os psicólogos; “a economia solidária é possível”, disseram os economistas; “outro tipo de justiça é possível” refletiram os juristas; “outra maneira de integração na globalização é possível”, “no meio rural outra maneira é viver é possível”. Em suma, “um mundo sem guerra é possível” desde que a paz seja baseada na justiça e na solidariedade”.


Um outro Mundo possível... Só mesmo mentes tomadas pelo afã gnóstico  de transformar a natureza humana para repetir essa sandice. Onde o empreendimento foi tentado o que a História registrou foi o caos demoníaco, a guerra, a fome, a escravidão. Todas as pragas trazidas pelos cavaleiros do Apocalipse foram disseminadas pelos portadores do lema que se propõe transformar o Mundo. Aqueles possuídos pelo fogo demiúrgico de fundadores de novos mundos são na verdade os portadores do caos e da negação do Espírito.


E, pior, onde se empreendeu a construção de um Mundo Novo, a primeira coisa que se fez foi instituir o ateísmo como credo oficial. As experiências socialistas radicais, como o nazismo e o comunismo soviético, sempre tiveram como principal objetivo destruir a fé cristã.


Superação do pensamento único... Ora, o pensamento único que se tem hoje é a idéia do socialismo. Até mesmo a mensagem cristã, que deveria ser cara aos membros da Igreja, foi deixada de lado para exaltar a mensagem revolucionária. O que se vê é que mais valem as coisas desse Mundo do que a salvação da alma. Os Evangelhos foram deixados de lado, a bíblia que vale mesmo é O Capital e a subliteratura dele derivada.


7- A Análise de Abril de 2002


O documento dado ao público em abril de 2002 é uma aula de deturpação da História e de aplicação das técnicas gramscianas para a formação de revolucionários, sem qualquer compromisso com a verdade dos fatos. Como de costume, o documento passa ao largo de temas religiosos. Os analistas conjunturais da CNBB só têm olhos para a pregação mundana da revolução. Para piorar, o texto pode ser considerado um panfleto eleitoral em prol do Partido dos Trabalhadores, então disputando a eleições gerais e o cargo de presidente de República.

 

O seguinte trecho é interessante: “Portugal criou aqui uma classe de proprietários de terra e escravos, capaz de comandar a produção de mercadorias (açúcar, ouro, café e outras) e assim movimentar o comércio com a metrópole. Para isso, os povos indígenas foram desestruturados enquanto nações, sendo incorporados à sociedade brasileira apenas enquanto famílias ou indivíduos. Os africanos escravizados foram submetidos a um processo ainda mais forte de desestruturação política, social, familiar e cultural”.

 

Os conjunturalistas historiadores só esqueceram de dizer que Portugal foi o agente de civilização, que conseguiu implantar nessas terras o Cristianismo católico romano e que aquela era a única forma possível de ocupação econômica do território. Se não fosse por Portugal, aqui nem haveria catolicismo, nem CNBB, nem padres, ou seja, nem eles mesmos. A alternativa de deixar os nativos como eles próprios se encontravam, assim como os africanos recém chegados, não existia: o diferencial de cultura era tremendo, seja na religião, seja nas técnicas, seja nas artes militares, seja no conhecimento em geral. Os vencidos de guerra, à época, tanto na América como na África, só com muita sorte eram escravizados, pois estavam sujeitos a serem mortos sumariamente e mesmo devorados em rituais antropofágicos. É a civilização européia, representada por Portugal, que tirará esses povos do tempo neolítico, trazendo-os para a modernidade. Incorporá-los como famílias e indivíduos era a única alternativa cristã, na medida em que os portugueses estavam muito convictos de sua fé, o que não parece ser o caso dos padres redatores das análises de conjuntura.

 

Outro trecho: “A afirmação de que essa estrutura social é um problema não resolvido desde a colônia, não isenta, contudo, a atual elite no poder de sua responsabilidade. Este é o discurso escapista de quem não admite mudanças estruturais e atribui aos antepassados a culpa por uma ordem social injusta. De fato, em pelo menos 3 momentos cruciais de nossa formação econômico-social a elite jogou politicamente contra a justiça: em 1850, quando a Lei de Terras substitui o regime das sesmarias pelo regime da compra de terras; em 1888, quando a Lei Áurea abole o trabalho escravo e quando, no pós-guerra, a industrialização e a urbanização pouco alteram os regimes agrários e de trabalho. A estratégia sempre foi de evitar que a massa viesse a se tornar um povo organizado, isto é, capaz de exercer a cidadania em igualdade de direitos e deveres”.

 

É próprio da ignorância histórica caminhar para uma teoria conspiratória, aqui explicitada com todas as letras. É como se uma minoria de macrocéfalos malfeitores tivesse projetado fazer o mal para os mais pobres, o que não passa de delírio. A Lei das Terras foi uma necessidade imposta para a criação do mercado de trabalho, a única forma de organização social que permite a liberdade e a prosperidade de todos. A abolição da escravatura era um imperativo de civilização, que de fato tardou, sendo esse o único senão a colocar sobre a matéria. E, se há algo a reparar no pós-guerra, é o fato de que jamais se conseguiu a experiência de um mercado de trabalho livre, mas o seu contrário: passamos de uma sociedade agrária escravocrata para outra regulamentada por leis inspiradas no fascismo, que não passa de outro nome para experiência coletivista, vale dizer, socialista.

 

Depois de anatematizar a globalização e os EUA, eles afirmam: “A conjuntura política de 2002 mantém-se polarizada entre duas propostas radicais: a manutenção da atual política econômica, e uma virada em seu eixo para resgatar as dívidas sociais num novo pacto nacional. Visando o êxito eleitoral, contudo, os partidos buscam abrandar suas propostas em direção a um meio-termo mais palatável tanto às elites (a propalada aliança entre o PT e o PL), quanto para os setores médios e populares, que repudiam a continuidade pura e simples do governo FHC”.


Polarizada entre o vermelho e o mais vermelho cor-de-sangue? Não havia polarização alguma. Havia aqui os que têm sede de poder e aqueles que têm mais sede de poder, ou os que estão no poder e aqueles que o querem a qualquer preço, o delírio faustico de quem vendeu a alma ao Diabo e busca a salvação nesse mundo. Não havia polarização alguma, exceto se entendermos por elas a sua personificação. As políticas de longo prazo são rigorosamente as mesmas, antiempresariais, anticapitalistas e anti-EUA.

 

E concluem: “No outro pólo (ao governo FHC), está a proposta de política econômica cujo eixo é o pacto social entre os trabalhadores incluídos no sistema produtivo, o empresariado como um todo e a população hoje excluída do mercado. Enfatizando o Projeto “fome zero”, essa proposta em suas linhas-mestras se inscreve no largo processo sócio-histórico de constituição da cidadania nacional que, desde o início do século XX perpassa as organizações populares (como hoje a CUT e o MST) e movimentos específicos (mulheres, negros, indígenas e tantos outros), e adquiriu forma política no Partido dos Trabalhadores (PT) e em outros pequenos partidos de esquerda. Essa proposta alternativa vem ganhando vulto na medida em que se insere na corrente mundial de movimentos alternativos à globalização capitalista, da qual o II Fórum Social Mundial é a melhor expressão. Consolidando a convicção de que Um Outro Mundo é Possível (este foi seu lema), ele quebra a hegemonia neoliberal no campo ideológico e abre horizontes políticos alternativos ao propor uma planetarização solidária”.


É com tristeza que leio coisas assim em um site católico. Nada tem a ver com a linha pastoral do Papa João Paulo II, certamente a maior e mais brilhante personalidade viva e um reserva moral do mundo. Entre outros feitos, o Papa ajudou a destruir o comunismo da Cortina de Ferro, especialmente em sua querida Polônia. E, é bom que se diga, nada tem a ver com a tradição cristã. Sempre foi propósito dos partidos comunistas destruir o cristianismo em sua essência. E, inversamente, a liberdade cristã e a sacralidade dada por ela ao indivíduo nunca poderia endossar qualquer fé coletivista.

 

Essa, todavia, é a missa dos padres redatores, endossada pela cúpula da CNBB. Reduziram a Igreja do Brasil a um departamento de propaganda petista. É um aviltamento voluntário e irracional para quem vê de fora. O que a hierarquia católica ganha ao assumir um papel tão menor no processo? Por que não obedece ao Papa, que recomendou explicitamente o desengajamento da Igreja do processo político? Por que esquecem a sua missão pastoral e se empenham na causa revolucionária, algo bastante distante dos anseios religiosos?

 

8- A Análise de Agosto de 2002


O preâmbulo da análise de agosto é uma síntese desse do discurso contra os EUA e o neoliberalismo. Vejamos:

 

“Mais que um período de crise, o mundo vive um tempo de desordem causada pela subordinação dos povos ao jogo do mercado. Na ausência de uma instância mundial de poder legítimo, os interesses dos mais fortes se impõem aos mais fracos. Essa conjuntura mundial afeta diretamente a economia brasileira, agora em sua maior crise desde o início do Plano Real, e muda o curso do processo eleitoral, retirando-lhe o caráter plebiscitário que, desde 1989, marca as eleições presidenciais. É provável que as grandes decisões políticas venham a ser tomadas num “terceiro turno” que o ápice da crise econômica provocará. Entender a natureza dessa crise, de modo a nos prepararmos para melhor enfrentá-la e dela sair com um projeto de sociedade globalmente solidária, é o que procuramos oferecer nesta Análise conjuntura”.

 

Como alguém que clama contra a globalização pode reclamar da ausência de um governo mundial? É lógico isso? O que seria uma “instância mundial de poder legítimo”? O texto não especifica, mas provavelmente, a crer no que têm escrito, seria uma ONU, dominada que está pelas esquerdas, com poder militar e de polícia sobre o conjunto das nações, uma forma qualquer de ditadura mundial. Seria o fim das liberdades individuais.


O primeiro capítulo do texto é dedicado à análise dos EUA e do que chamam de desordem mundial. Para começar discorrem sobre os acontecimentos de 11 de setembro. Para os conjunturalistas, os culpados pelos atentados foram os próprios EUA e os atacantes têm um tratamento de vítima, na mais completa e injusta inversão de responsabilidades de que tenho conhecimento. O texto denuncia “morte atroz dos combatentes talibãs”, mas silencia sobre o horror das pessoas desavisadas que estavam naqueles edifícios no dia do traiçoeiro atentado e foram mortas de forma impiedosa. Essa avaliação, além de injusta, é imoral. Um verdadeiro cristão não pode dar as costas aos fatos. E, para piorar, cristãos foram mortos por muçulmanos pelo simples fato de serem cristãos, algo que agrava ainda mais a inversão de valores propagada pelo texto.


O texto revela grande ignorância sobre o processo de funcionamento da economia mundial e dos EUA em particular. Afirma que “o pouco que a economia norte-americana tem conseguido crescer deve-se ao investimento público”. Isso é mais que resultado de ignorância, é má fé. A pujança da economia daquele país tem sido resultado de sua sólida economia de mercado. Afirma também que “as medidas protecionistas visam garantir que a recessão não piore”. Ora, qualquer economista recém formado sabe que protecionismo só piora a recessão e não o contrário.


Na seqüência, o texto dedica um capítulo à cúpula Rio + 10, que ainda não se havia encerrado quando fizeram o texto. Expressa otimismo que a tal “Agenda 21”, o delírio esquerdista por um governo mundial, “com suas 2500 recomendações (que) deveriam ser reescritas e aplicadas a cada país”. Graças a Deus essas previsões não foram realizadas.


O capítulo seguinte fala da crise cambial na América do Sul. Vejamos a pérola: “Apesar da diminuição do fluxo de divisas, o ideário neoliberal impôs o preceito da estabilidade monetária e a abertura comercial”. Ora, o ideal de estabilidade monetária e de abertura comercial é um imperativo de boa governança e uma condição para a prosperidade econômica, nada tendo de impositivo de fora para dentro. Qual a alternativa? O caos da inflação e da inadimplência internacional. Quem escreve algo assim não pode ser considerado normal. Não é uma questão de simples ignorância, mas de sociopatia.


“A financeirização substitui o critério da produção eficiente de mercadorias, pelo critério de retorno de capital”. Isso é sandice e ignorância misturados. Eficiência econômica é retorno de capital.


E o que os conjunturalistas não querem ver é que a crise do Brasil, como de resto dos demais países da América Latina, tem origem unicamente no excesso de intervencionismo estatal, na irresponsabilidade dos gastos públicos, na castração sistemática da iniciativa privada. É exatamente o contrário do que dizem e querem fazer, que é aumentar o Estado. A dívida pública não nasce do nada, é resultado de décadas de descaso dos governantes populistas, que nunca enxergam além da próxima eleição.


Finaliza com um capítulo dedicado ao processo eleitoral brasileiro. É curioso o puxão de orelhas que é dado em Lula. O seguinte trecho é notável:


“A crise cambial e o risco de moratória da dívida pública, contudo, alterou a conjuntura. O acordo com o FMI submeteu os presidenciáveis aos imperativos do sistema financeiro, retirando destas eleições o caráter plebiscitário, que era dado pela candidatura do PT. O próprio slogan de Lula, por um Brasil “decente”, mas não “diferente”, como em 1998, evidencia essa mudança. Nem ele fala mais em “ruptura” ou “mudança de eixo” na orientação da política econômica. É como se a crise econômica tivesse vindo restabelecer a hegemonia do “pensamento único” e feito esquecer a mensagem do Fórum Social Mundial que afirmou “um outro mundo é possível”. Seria esta apenas uma estratégia eleitoral, sabendo que a fama de “radical” assustou o eleitorado e impediu sua eleição em 1989? Ou é o realismo – afinal, a política é “a arte do possível” - que recomenda uma transição lenta, gradual e segura, e adia a verdadeira mudança para 2006”?


Um outro mundo possível? Só com a ressurreição, mas dessa os sacerdotes militantes não querem mais saber. O negócio mesmo é trabalhar pela revolução.


9- A Análise de Novembro de 2002


Na última edição de novembro de 2002, temos a interessante constatação da cisão esquizofrênica de que padece Lula, candidato da CNBB que venceu as eleições, bem como os seus apoiadores. Lula teve que passar por uma súbita e postiça metanóia, mudando de posição relativamente a quase tudo que defendeu há não muito tempo, objetivando obter apoios mais amplos para a sua candidatura. Deu certo, elegeu-se, mas ao preço de criar a cizânia insuperável. O problema é que os seus aliados históricos, como a CNBB, não engoliram esse processo e prometem cobrar a coerência do candidato com o seu passado. Nas suas palavras:


“A batalha está agora apenas começando. Passados os dias de alegria e festa, a celebração da posse e os primeiros dias do novo governo – como concessões ao povo e ao presidente eleito – os donos do poder vão querer recolocar tudo em ordem, como se nada houvesse acontecido, como se FHC e Malan não tivessem perdido as eleições, como se estas não fossem mais do que uma encenação... Para eles, a legitimidade de um governo não vem das urnas e das políticas que respondam às necessidades básicas da população, mas sim do cumprimento das obrigações financeiras. Fazer uma política social? Faça Lula o que quiser, desde que respeite as promessas e concessões feitas durante a campanha. Submeta-se e será aceito. Sua estratégia é a neutralização da Memória subversiva e do Desejo de mudança, fazendo de Lula um De La Rua que, elei to para fazer mudanças, foi impedido de mudar qualquer coisa. Se Lula tentar implementar algo novo, será chamado de “populista” e “irresponsável”, criando-se um clima tensão e confronto com os donos do capital, do saber, da mídia e o apoio militar dos EUA. Serão 52 milhões de eleitores, já desmobilizados e pouco organizados, contra um pequeno mas poderoso grupo que, com alguns telefonemas, pode provocar uma crise econômica de grandes proporções”.


Memória subversiva... Os analistas conjunturais não escondem que se movem pelo receituário revolucionário nos moldes leninistas. Pelo trecho em tela, vê-se que eles esperam de Lula que reviva na memória “de que lado está”. É como se problemas sociais e econômicos existissem por capricho das políticas estatais e a pobreza fosse decorrência disso. O remédio, fica claro, é fazer a revolução, que para eles é voluntarismo estatal ilimitado, ainda que, para isso, seja necessário o uso da violência revolucionária (um pleonasmo).


Já nas conclusões do texto, os escribas insistem:


“Diante do clima de medo reinante no mundo, as eleições no Brasil, em clima de festa nacional, são um sinal de esperança. Um movimento social gestado há meio-século, tem agora um de seus principais expoentes alçado à Presidência da República. Sua prioridade é erradicar a fome, e isso implica profundas reformas na sociedade brasileira. Mas é e será forte a pressão do capital financeiro para que tais mudanças não afetem seus interesses. Será possível conciliar essas duas forças? A participação política dos cristãos, motivados pelas exigências éticas e evangélicas de superação da miséria e da fome, poderá ser um peso importante nessa correlação de forças, fazendo pender a balança em favor dessa grande causa popular”.


Aqui está, com todas as letras, a promessa de que o governo Lula não terá trégua, se não seguir o caminho há muito tempo traçado. Quando se referem ao capital financeiro, podemos ler os detentores nacionais e internacionais da dívida pública, o FMI, o Banco Mundial e todas as instituições que o funcionamento do mercado e a inserção do Brasil no comércio internacional. Essas pessoas não querem a normalidade de mercado e vão grudar na pele de Lula até que ele revele coerência com as suas origens.


10- A Análise de Fevereiro de 2003


Eu sempre leio e releio os Evangelhos e quanto mais me aprofundo, mais me convenço de que a opção preferencial de Cristo foi a de salvar os pecadores, e não os pobres. Várias passagens dos Evangelhos comprovam isso e não é o caso aqui de enumerá-las, pois que futuramente pretendo explorar melhor o tema. 

Cristo jamais demonstrou preocupação com os bens materiais, a imanência, pois para Ele o Pai sempre provê: “Olhai os lírios do campo...” Essa tal de opção preferencial pelos pobres não passa de um recurso sofístico para enganar os incautos. É triste ver o que deveria ser a Casa de Deus fazer do púlpito um local da mentira e dela o seu emblema.

 

O texto está dividido em vários segmentos, analisando a guerra do Iraque, as tensões políticas na América Latina, faz também um balanço do III Fórum Social Mundial e do Programa Forma Zero. O ponto que realmente nos interessa, todavia, é aquele em que analisa o governo Lula  (“Perguntas incômodas sobre o novo Governo”). Os escrevinhadores conjunturais não escondem as suas decepções, embora ainda mantenham uma linguagem civilizada. O texto afirma:

 

“A vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve-se, entre outros fatores, ao grande leque de alianças que ele foi capaz de costurar durante a campanha eleitoral. Entretanto, à medida que tais alianças se consolidavam, crescia a insatisfação numa determinada ala do Partido dos Trabalhadores, aquela mais identificada com os núcleos de base e com os princípios originários do partido. Mas o clima da campanha, as expectativas do novo governo e as festividades da posse eclipsaram momentaneamente as diferenças no interior do partido vitorioso. 

O que importava era chegar no Palácio do Planalto. As divergências seriam resolvidas depois”.


Como resolver as divergências depois? O que querem os bispos integrantes da CNBB? Digo-lhe, caro leitor, o que está na cabeça deles é uma forma de socialismo que imagina que o mercado, a ordem capitalista, é o seu inimigo. Não desconfiam que colocar em prática as suas crenças é condenar a população brasileira como um todo ao desespero, a regredir em anos o progresso econômico, é tornar o país um pária na comunidade internacional. Socialismo marxista, que é o que verdadeiramente professa a maior parte da Igreja do Brasil, é suicídio econômico. O texto continua:


“Deve-se reconhecer que as preocupações da ala esquerda do PT têm fundamento. O programa Fome Zero custará R$ 6 bilhões este ano, mas os juros da dívida pública consumiram R$ 114 bilhões em 2002 (um crescimento de 32% em relação a 2001) e agora certamente aumentarão. A cada dia do ano passado, o governo (União, estados e municípios) transferiu R$ 312,268 milhões para os bancos e fundos de investimento. Os gastos com juros foram mais do dobro do superávit primário (R$ 52,4 bilhões) e o setor público fechou 2002 com um rombo de R$ 61,6 bilhões. Fernando Henrique ainda deixou como herança a dívida bruta de R$ 1,132 trilhão. A meta de superávit primário para 2003 é 4,25% do PIB (R$ 68 bi), e certamente não será sequer a metade do pagamento de juros no ano”.


Os homens da Igreja não percebem que a dívida de hoje foi o bem-estar de ontem. Os brasileiros das gerações anteriores sacaram contra as gerações futuras. A dívida é legítima e deve ser honrada. Não há nenhum roubo nos juros. Ninguém foi obrigado a assinar contratos de empréstimos, nisso o nosso governo tem sido soberano. É de espantar que homens supostamente íntegros na sua formação sugiram implicitamente alguma forma de calote na dívida, como se nisso houvesse alguma virtude cristã. Não há. Não passa de slogan de revolucionários leninistas. Quem não lembra que Lênin pregou retoricamente certa vez: “O que é um ladrão de banco perto do próprio banco?”


“Isso é o que está fazendo a atual equipe econômica. Diante do agravamento da situação (volta da inflação, queda da taxa de câmbio, recrudescimento do “risco Brasil”), ela intensifica as doses dos mesmos remédios (maior superávit primário, taxa de juros elevadíssima,intocabilidade do Banco Central) embora eles não tenham dado resultado positivo e ainda façam diminuir as possibilidades de crescimento econômico e do nível de emprego”.


Não enxergam os nossos prelados que a ÚNICA salvação para os brasileiros (o Brasil não passa de uma abstração jurídica) é reduzir o Estado. Cada centavo que se retira dos cidadãos produtivos para alimentar o ogro filantrópico serve apenas para agravar o empobrecimento coletivo. Deveriam ler as encíclicas “Rerum Novarum” e “Centesimus Annus”, verdadeiras aulas de mestres católicos sobre a economia e as relações de trabalho. O problema é que nossos bispos lêem mesmo é Marx, Lênin e Gramsci, homens que encarnaram a visão das trevas e pregaram o conflito, a guerra, a escravidão e, tudo sobre tudo, a mentira pura e simples, para confundir os espíritos tolos.


É desagradável ler as análises conjunturais da CNBB. Mas é necessário. Estou curioso para saber aonde vai dar a linha de raciocínio dos bispos, com o agravamento da crise econômica e o acirramento das contradições do governo Lula.


11- Palavras Finais


A visão de mundo da alta hierarquia católica está balizada pelo materialismo dialético marxista-leninista, o que coloca os prelados diante de um dilema insuperável: o Cristianismo não se coaduna com o materialismo e vice-versa. Passa-se a impressão de que os sacerdotes fizeram da Igreja Católica brasileira um baluarte para a luta revolucionária, tendo deixado de lado completamente os fundamentos transcendentais da fé cristã.


Essa forma de e agir no mundo afastou a Igreja da orientação papal, tendo, em certos momentos, havido uma cisão próxima de uma cisma. Felizmente a gestão do Papa João Paulo II, habilidosa e diplomática, conseguiu contornar os problemas mais agudos, substituindo alguns dos prelados mais engajados por outros de sua confiança. É preciso reconhecer, no entanto, lendo as Análises de Conjuntura da CNBB, que há um núcleo duro de revolucionários na Igreja que está empenhado em engajar a instituição em um processo revolucionário não apenas no Brasil, planejando, a partir de uma revolução bem sucedida aqui, multiplicá-la por todo o mundo.


O ódio aos Estados Unidos da América, ao livre mercado, às instituições capitalistas, um ideal igualitário que deita raízes na Revolução Francesa, uma incompreensão absoluta das leis econômicas, uma confusão filosófica que não distingue mais materialismo de transcendentalismo, uma inadequação intrínseca ao mundo moderno transformaram a Igreja em uma perigosa escola formadora de quadros para a ação revolucionária. Sua maior vitória foi ter feito Lula presidente da República, mas isso não foi o bastante para os bispos, vez que, no poder, Lula tem feito concessões que desagradaram os seus apoiadores.


O que virá agora? É uma questão em aberto. Sei apenas que uma legião de homens de batina e e leigos por eles influenciados estão de prontidão, para fazer a luta revolucionária, construindo um outro mundo possível.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".