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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Obama nas Alturas

NIVALDO CORDEIRO

15/11/2008

 

Quero falar de economia e crise econômica, mas não é possível fazê-lo sem ter o descortino completo da paisagem política, daí o titulo deste comentário. O que quero sublinhar, caro leitor: primeiro, a unanimidade quase absoluta dos “doutores” da crise. Todos os economistas que estavam no “armário” assumiram seu lado estatista e desde o setembro negro a ala assumida e alegre dos apologistas do deus-Estado ganhou as ruas e as colunas de jornais. Há um franco campeonato para saber quem é mais sabido em agigantar o Estado a fim de nos livrar da crise, quem tem mais “coragem” em estatizar.

 

Em segundo lugar, a ausência de economistas que assumam a defesa franca da verdade científica. O fato de a doxa urrar a mentira econômica igualitarista e estatista não aboliu a verdade enquanto tal, que precisa de novo de defensores e de bons escritores. Há exceções, como o notável Nouriel Roubini, que nunca se enganou e jamais enganou seus alunos e leitores (veja o link http://pages.stern.nyu.edu/~nroubini/e os economistas seguidores da escola austríaca (veja os links http://austriaco.blogspot.com/ e http://www.ubirataniorio.org/ ). Mas essas pessoas formam uma espécie de gueto científico, um cume isolado e coberto permanentemente pela névoa da poeira da planície onde a massa trota e produz o ruído da doxa.

 

Os jornais do mundo inteiro estão tomados pelos “sabedores” da receita anticrise: mais emissão de moeda, mais crédito, mais intervenção de Estado, menos juros (exceto no Brasil, onde os economistas tupiniquins conseguiram o milagre esdrúxulo de aumentar a oferta de crédito sem reduzir a taxa de juros. Os macunaímas economistas são todos assalariados da Banca). Os artigos de Paul Krugman, amplamente traduzidos no Brasil, dão um deprimente painel dessa tragédia, verdadeira desgraça que não se esgota no anular o saber econômico, mas que tem forte impacto nas ações de homens de Estado, os tomadores de decisão. Há um consenso entre eles de que, para a humanidade se livrar da crise gerada pelo ogro estatal, é preciso alimentá-lo mais e mais, a ponto de transformá-lo no Tiranossauro Rex do pesadelo de todos os homens livres.

 

Remember, remember, the 5th november!” Refiro-me aqui não ao lindo filme V DE VINGANÇA, mas ao último quinto dia deste trágico novembro, ao espantoso evento na praça pública de Chicago onde Barack Obama fez o primeiro discurso como presidente eleito. O conteúdo daquele discurso – sóbrio, diga-se – é irrelevante diante do simbolismo daquela multidão prostrada diante daquele que consideram um salvador, um Sóter. Hipnose de massa, eu lá vi, gente do  porte de Colin Powell a chorar feito criança. Um general em topo de carreira não poderia se prestar àquela cena deprimente e não perceber o perigo que se acerca. O que dizer dos homens simples? Powell estava cego pela hipnose de massa. Uma multidão de zumbis urrava ao presidente eleito: “Yes,we can” e “Change”. Deus nos acuda!

 

Obama nas alturas do poder fecha o círculo mágico demoníaco no qual a humanidade se enroscou nesses tempos sombrios: a economia entrou em débâcle e assumiu o poder um governante que encabeça uma conjunção de forças políticas que é um consórcio das forças do Mal. Essa gente não apenas não sabe como enfrentar a crise, mas quer precisamente usar dos mesmos expedientes que estão na gênese da crise. Então a forte crise, que seria sofrida e perigosa se conduzida por gente consciente e sábia, pode tornar-se algo de proporções catastróficas por falta de líderes capazes.

 

Obama nas alturas do poder é essa realidade política incapaz de fazer frente à necessidade dos tempos. Obama é o presidente que espelha os anseios das multidões, mas que não sabe o caminho a percorrer e não tem autoridade para impor às massas os sacrifícios que precisam ser feitos. As massas esperam dele precisamente facilidades e bondades artificiais. Mas haverá sacrifícios da mesma forma, só que aleatórios,  impostos pelas circunstâncias incontroláveis, uma tempestade de areia em pleno deserto. Uma desgraça.

 

Precisávamos de alguém como José do Egito regendo o poder, não de um Faraó despreparado. Será que teremos que ter sete anos de seca e miséria? E, depois, Deus mandará de novo a fartura das chuvas fecundas? Onde está o José? Oh, dor terrível, só vejo Obama nas alturas.

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