por Heitor De Paola em 14 de março de 2008
Resumo: O reconhecimento das FARC-EP como força beligerante por parte de Chávez abre o caminho para os demais países que as consideram terroristas e narcotraficantes deixarem de fazê-lo.
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A análise da crise colombiana exposta no meu último artigo veio a ser confirmada por ninguém menos do que o Presidente Chávez num vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=DzxOK21kXms&feature=related) em que, entre outras revelações, como a de ter conhecido Lula e Raúl Reyes na reunião do Foro de São Paulo de 1995 em El Salvador, disse: “Ayacucho de ese siglo será em Colombia”. Estava se referindo à Batalha de Ayacucho de 9 de dezembro de 1824, a batalha decisiva das campanhas de independência da América do Sul. O Vice-Rei do Peru era o único que ainda resistia ao ímpeto de independência e, cercado em Pampa de la Quinoa, Departamento de Ayacucho, rende-se. O vencedor, Marechal Antonio José de Sucre, havia dito a seus homens antes da batalha: “¡Soldados!, de los esfuerzos de hoy depende la suerte de América del Sur; otro día de gloria va a coronar vuestra admirable constancia. ¡Soldados!: ¡Viva el Libertador! ¡Viva Bolívar, Salvador del Perú!”. Em 2 de abril do ano seguinte o Departamento do Alto Peru torna-se independente com o nome de Bolívia (si de Rómulo, Roma, de Bolívar, Bolívia).
Se Ayacucho representou o fim do Império Espanhol nas Américas, Chávez, sentindo-se legítimo sucessor de Bolívar, prevê que sua Ayacucho será a derrota do “império” americano, representado pelo “vice-rei” Uribe em Bogotá revirando a “suerte de América del Sur” outra vez, obviamente com ele mesmo como El Libertador.
Mas Chávez não é louco nem burro, sabe muito bem do que está falando e conta com o apoio de quase todos os mandatários sul-americanos co-irmãos no Foro de São Paulo, com a possível exceção de Alan García que enfrenta crescentes exigências dos “movimentos populares” ligados a Ollanta Humala. No Paraguai, segundo as pesquisas eleitorais, provavelmente será eleito o candidato da Alianza Patriótica para el Cambio (APC), Fernando Lugo, ex-Bispo da Demonologia da Libertação, chamado “o Bispo dos pobres”, que tem encontro marcado com Lula para abril. Conta com o apoio maciço dos “movimentos sociais” reunidos no Movimento Tekojoja (de Caaguazú) e no Movimiento Agrário y Popular (MAP). O Tekojoja está firmemente ligado à Via Campesina e às “lutas dos camponeses de todo o mundo contra os transgênicos” (ver em http://www.lasojamata.org/?q=node/86 e similares - notar bem o nome do site: a soja mata!). Há um ano foram os destaques da Cúpula do Protocolo de Biossegurança (MOP3) e da Convenção da Biodiversidade (COP8) em Curitiba (http://www.biodiversidadla.org/content/view/full/22620).
O Grupo de Reflexión Rural (http://www.grr.org.ar) de Buenos Aires lançou no Centro Cultural Guapachoza, em dezembro passado, a compilação Repúblicas Unidas de la Soja sobre as conseqüências do plantio de soja. A conclusão principal dos ‘investigadores’ da Argentina, Paraguai, Bolívia, Equador, Brasil, Argentina, Suíça e Espanha é que “a soja não é um mero cultivo, mas um sistema com um valor geopolítico que sustenta a globalização econômica e a agricultura em função dos interesses corporativos. (...) (promovem) a desumanização da agricultura e o despovoamento do campo (no que chamam de ‘republiquetas sojeiras’), em favor dos interesses corporativos dos países do Sul e do Norte”. Os autores propõem “outro futuro com Soberania Alimentar e Territorial para todos nossos povos”.
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Grifei Territorial porque é também da separação de territórios indígenas (e, no Brasil, quilombolas) que estamos tratando quando se discute o problema colombiano.
Assinalei no artigo anterior que o cerco à Colombia não está relacionado somente às fronteiras externas, mas inclui uma extensa fronteira interna com os territórios dominados pelas FARC. O reconhecimento das FARC-EP como força beligerante por parte de Chávez – e conseqüentemente, em pé de igualdade com o legítimo Exército da Colombia - abre o caminho para os demais países que as consideram terroristas e narcotraficantes deixarem de fazê-lo. E adotem uma atitude safada à la façon de Brésil como foi definida pelo Ministro (ele acha que é, mas quem manda é o MAG) Celso Amorim, que declarou perante a Comissão de Relações Exteriores do Senado ontem (12/03) que o Brasil “não classifica as FARC de grupo guerrilheiro, beligerante ou criminoso porque isso poderia atrapalhar nossas estratégias diplomáticas ou humanitárias”. De acordo com ele o Brasil “segue a classificação das Nações Unidas, que define apenas a Al-Qaeda como organização terrorista”. “Algo novo e positivo que se pode fazer é por meio de medidas práticas, como a criação de confiança (em quem cara pálida? Em terroristas?), a verificação de compromisso (pergunte ao Chamberlain como eles respeitam compromissos!) e a maior facilidade de comunicação entre os governantes”, disse Amorim para os senadores durante a reunião (Tatiana Damasceno em http://congressoemfoco.ig.com.br:80/Ultimas.aspx?id=21414). Maior facilidade como, depois da Internet banda larga, dos celulares e das comunicações via satélite?
Não só na ONU, mas a definição de terrorismo ainda não foi encontrada, pois os terroristas e países que os apóiam participam das discussões e fazem tudo para que nunca haja definição – ou quando houver, seja tarde demais! (ver em http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5606 e na Revista Tecnologia & Defesa, Suplemento Especial, nº 15, Ano, 23). Em relação às FARC-EP, a ONU tem razões especiais para isto, como veremos adiante.
As FARC reconhecem ter 745 pessoas seqüestradas (organizações independentes falam no dobro), dos quais somente 41 são considerados “trocáveis” – são os que têm apoio em Paris, os que têm peso político e ajudariam as FARC a obter reconhecimento “humanitário”. Os demais 704 são “cidadãos esquecidos”, “não-pessoas”. Em troca as FARC exigem a libertação de 500 companheiros especializados em colocar colares-bomba em suas vítimas. Além disto, e aí vem a tramóia, exigem a liberação de parte do território colombiano onde seriam realizadas as trocas. Coincidentemente, os municípios de Pradero e Florida estão estrategicamente localizados no corredor de comunicação da zona ocidental, Departamento de Chocó, com a fronteira com o Panamá e saída para o Pacífico e para o Golfo de Urabá, onde a ONU, com o apoio da Inglaterra, patrocina um movimento separatista, no mínimo desde 1995. Logo após a derrota dos cartéis de Cali e Medellín pelo Plano Colombia se iniciaram os preparativos para a instalação de grupos guerrilheiros. Já que não existem argumentos étnicos – como na Amazônia, Bósnia ou Kosovo - criem-se incidentes que permitam trazer os “capacetes azuis”. O golfo se estende ao longo do Caribe, da fronteira com o Panamá (ver mapa) através dos Departamentos de Chocó e Antioquia (capital Medellin) até o de Córdoba.
Atua na região a organização belga Pax Christi International, (http://www.paxchristi.net/members) da qual fazem parte a Comissão Pastoral da Terra (e através dela o MST), a Red Nacional de Iniciativas Ciudadanas por la Paz y contra la Guerra (REDEPAZ) (http://www.redepaz.org.co/). A REDEPAZ, um conglomerado de 51 grupos de trabalho, realizou em 1999 o Congresso Nacional pela Paz, que elegeu um Comitê Temático Nacional de 20 membros, dos quais 10 eram representantes das FARC-EP para “negociar” com o legítimo governo colombiano. Este Comitê não funciona mais mas a REDEPAZ também está integrada na luta contra os transgênicos. Segundo o documento Poder Popular en Colombia, de autoria do Presidente de seu colegiado, Luis Emil Sanabria Duran, a rede tem interesse na reformulação da Constituição colombiana que visa o estabelecimento de uma democracia direta e não mais representativa (ver em http://www.redepaz.org.co/IMG/pdf/GENESIS_FINAL_CONSTITUYENTE__resumen__PDF_1_.pdf, principalmente o Capítulo III, na página 12).
Todo o apoio a Uribe é pouco.
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