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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A Avó da Guerrilha Perdeu os Dentes

Do bportal MOVIMENTO ENDIREITAR
Escrito por Augusto Nunes em 13 de fevereiro de 2008

Como Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, Álvaro Uribe tornou-se presidente da República, em 2003, por decisão da maioria dos colombianos, e reelegeu-se quatro anos depois com mais de 60% dos votos. Lula não tem mais legitimidade que Uribe. Nem é mais popular. Segundo o Ibope, 62% dos brasileiros estão satisfeitos com o chefe de governo. Em janeiro, o Gallup constatou que 83% dos colombianos aprovam a performance do presidente.

Não foi o único recorde registrado pela pesquisa: também não tem precedentes a estratosférica taxa de rejeição - 96% do total de entrevistados - alcançada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A conjugação dos recordes informa que o que já foi o maior grupo guerrilheiro da América Latina hoje é apenas uma organização criminosa de bom tamanho.
"Os bandos armados que agem no país não devem ser tratados como meros antagonistas do governo, mas como inimigos do regime democrático", reiterou Uribe durante a campanha eleitoral que precedeu a conquista do primeiro mandato. Seus antecessores, em busca da paz impossível, haviam celebrado com os exércitos fora-da-lei acordos cujos textos, somados, rascunham um formidável elogio da pusilanimidade. Poucas semanas de governo bastaram para deixar claro que aquele advogado de aparência severa estava mesmo decidido a cumprir a principal promessa de campanha: derrotar militarmente as divisões de delinqüentes bandidos que mantinham sob cerco permanente o estado de direito.

Cinco anos depois, o saldo da guerra é amplamente favorável a Uribe. Os paramilitares a serviço de chefões ultraconservadores renderam-se há tempos. O que restou do Exército de Libertação Nacional (ELN) tateia na floresta picadas que o afastem da morte por inanição. As Farc, que no dia da posse de Uribe controlavam um terço das cidades e uma vastidão territorial onde caberiam vários países da Europa, foram empurradas para as selvas nas fronteiras.

Não parece perto do fim o combate entre um governo democraticamente eleito e a sigla que, nos anos 80, jogou no mato a fantasia ideológica em frangalhos e, sempre berrando palavras de ordem contra a exploração capitalista, passou a explorar com gula de banqueiro o esgoto do narcotráfico. Militarmente, a derrota das Farc é questão de tempo. Politicamente, não existem mais. O atestado de óbito foi emitido pela pesquisa do Gallup. O enterro ocorreria na terça-feira de carnaval.

Mais de 5 milhões de colombianos (1 milhão dos quais na capital, Bogotá) saíram às ruas de todas as cidades para gritar palavras de ordem contra as Farc. Em dezenas de países, milhares de democratas exigiram o fim da aventura iniciada em 1954, quando um punhado de militantes comunistas se internou na selva para ali implantar o foco guerrilheiro que derrubaria a ditadura do general Rojas Pinilla. Até este histórico 12 de fevereiro, protestos semelhantes nunca juntaram mais que dezenas de colombianos suficientemente temerários para desafiar as ameaças de morte formuladas pelas Farc. O medo acabou.

"A Colômbia exige o fim do terrorismo", reiteraram incontáveis faixas desfraldadas por manifestantes que enfim se animaram a afrontar publicamente os pastores da morte, os generais narcoguerrilheiros e seus soldados homicidas, os assassinos da liberdade, os profissionais do seqüestro e da tortura. "Chega de terrorismo", berrou a voz rouca das ruas, num endereçado também a presidentes de países vizinhos, para os quais as Farc são uma organização política como outra qualquer.

Hugo Chávez, por exemplo. Depois de negociar, em troca de favores tão nebulosos quanto o destino da gastança com cartões corporativos, a libertação de duas reféns, o presidente venezuelano decretou que "as Farc são um verdadeiro exército insurgente, com um projeto político respeitável". No dia seguinte, seis turistas foram incorporados à multidão de mais de 800 seqüestrados, todos submetidos ao horror como rotina. Nem por isso Chávez arquivou a idéia ultrajante: os parceiros das matas devem ser excluídos do índex do terrorismo.

Com discrição de punguista, o partido do presidente Lula já fez isso em 1990, quando agremiações que se consideram "esquerdistas" se juntaram no Foro de São Paulo. Ali, as Farc se sentam ao lado do PT. "O Brasil não é território de classificação de tendência política ou grupo de luta armada", delira Lula. Que tal convidar o PCC para a próxima reunião do Foro e apresentar às Farc a companheirada das cadeias? No primeiro minuto, as duas siglas desconfiariam de que são parentes. Talvez descubram já no segundo que são irmãs.

Publicado no Jornado do Brasil - Editorial - 13/02/2008

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