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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O caso Eloá: a mídia no comando das operações

 

Luciano Porciuncula Garrido é psicólogo e policial civil do Distrito Federal
E-mail: garrido1974@gmail.com

Com autorizaçãodo autor.

Não restam dúvidas a respeito da má atuação da PMESP no seqüestro de Eloá. A condução do caso foi, em linhas gerais, bastante equivocada. Não creio que valha a pena comentar a malfadada decisão que resultou na devolução da jovem ao poder do perpetrador, coisa absolutamente bisonha sob todos os aspectos: técnico, moral e legal. Passemos aos pontos mais controversos.

O ânimo passional do perpetrador já prenunciava um desfecho trágico do episódio. O clima de tensão levou Lindemberg às efusões de um delírio quase psicótico. Alguns chegaram a traçar-lhe o perfil psicológico semelhante ao de um caráter obsessivo-compulsivo, transtorno no qual a ambivalência afetiva - isto é, as oscilações entre amor e ódio - é bastante pronunciada. Assim sendo, o prognóstico do quadro não era dos melhores, e muito menos autorizava a imprudência de tomá-lo apenas como uma "crise amorosa".

O fato do perpetrador não ter antecedentes criminais tampouco era razão suficiente para subestimar o seu potencial ofensivo. Por outro lado, em nenhum momento se ouviu falar em possíveis antecedentes psiquiátricos ou comportamentais, coisas muito mais relevantes em crimes dessa natureza.

Naquelas circunstâncias, e conforme ensinam as técnicas de gerenciamento de crise, todos sabiam que as jovens tomadas em poder de Lindemberg não eram propriamente reféns, mas sim vítimas. Nos casos em que há reféns, a barganha é a motivação central na ação do perpetrador, sendo a negociação muito mais viável. Contudo, quando nos deparamos com pessoas na condição de vítimas, o espaço para negociações fica extremamente reduzido, pois os alvos em poder do perpetrador não se configuram como instrumentos de troca; eles são, ao contrário, o próprio objeto da ação delituosa. Em casos como esse, portanto, as negociações limitam-se quando muito a tentativas precárias de dissuasão verbal, donde muitas vezes se mostram inócuas frente à perturbação mental em que se encontra o autor.

Acrescente-se a tudo isso as interferências constantes de jornalistas e âncoras de TV, que faziam com o perpetrador contato telefônico em tempo real, protagonizando um verdadeiro show de barbaridade às custas da pobre adolescente. Eis aí o enredo perfeito para um desenlace macabro.

Que as vicissitudes deste episódio nos tragam uma lição exemplar. E que essa lição não se restrinja apenas a formulações tecnicistas para uso operacional dos órgãos de segurança pública. Que o drama vivido em Santo André nos sirva para repensar toda atuação de nossas próprias polícias.

Quais influências sofrem os órgãos de segurança pública para que suas ações não se pautem unicamente por fatores técnicos e científicos na condução de eventos críticos? Que utopia desvairada é essa que obriga a polícia a poupar vidas a todo custo, mesmo quando essa obstinação "politicamente correta" assinala como prelúdio a morte de inocentes? O pronunciamento de quem comandou a operação é bastante sintomático: "Se tivéssemos dado o tiro de comprometimento, os senhores (imprensa) estariam questionando essa decisão"

Que importam os questionamentos de uma imprensa leiga? Basta apenas que a polícia cumpra o seu dever convicta de sua isenção profissional, de sua capacidade técnica e munida de uma coragem moral inabalável. Se assim não for, continuará refém de toda sorte de hesitações obtusas e de melindres ideológicos, que redundarão inevitavelmente em erros primários de conseqüências desastrosas.

Que a polícia venha optar sempre pelo "tiro de comprometimento", se o compromisso for com a vida de inocentes! E aos que titubeiam diante de possíveis questionamentos alheios, recomendo as sábias palavras do apóstolo São Paulo: "A nossa glória é essa: o testemunho de nossa consciência".

2 comentários:

  1. A mídia está tentando se lavar na própria merda que fez.
    A merda de se meter num assunto tenso e delicado e de atrapalhar a ação policial.
    Não há como saber,mas poderia ter um desfecho diferente se os carniceiros não se aproveitassem disso para ter audiência,como voltaram a fazer agora.
    Simplesmente ridículo isso tudo.
    Ainda querem demonstrar autoridade e consciência limpa.

    Anderson

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  2. A imprensa fez bobagens por conta da busca de audiência, mas houve falha no trato do caso porque a área deveria ter sido isolada,mantendo a imprensa a uma distância maior. A presença da imprensa, com cobertura ao vivo, certamente inibiu decisões do comando da operação de resgate.
    A meta da operação não seria, certamente, eliminar o sequestrador, mas isso poderia ter sido necessário, ou não?
    Quando os policiais entraram no apartamento alguns poderiam ter sido mortos por ele; também poderiam tê-lo matado, caso não houvesse outro modo.
    Creio que a pressão da presença constante da TV e a possível falação dos envolvidos com os Direitos Humanos (ongs de esquerda) impediria, se fosse o caso, que alguém ousasse decidir mandar um atirador eliminar Lindemberg. Essa seria, dadas as circunstâncias, uma decisão legítima. Ou não?
    Afinal, ninguém impediu a morte de deixar sua marca; provavelmente na pessoa errada.
    Independente das doutrinas de negociação, que, falharam, pelo visto, a parte mais dura da história, a decisão de atirar, também não foi tomada.
    creio que por medo absoluto da patrulha.
    Não sou favorável à pena de morte e nem que os policiais fiquem atirando nas pessoas.
    Mas, no caso de Eloá isso poderia ter ocorrido, e a polícia não estaria errada.
    Gutenberg

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