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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Nova comissão de paz?

MÍDIA SEM MÁSCARA

O que as FARC chamam de "negociação de uma solução política", é a rendição gradual do Estado e da sociedade ante o bando terrorista.
De maneira que, da noite para o dia, a Câmara de Representantes ofereceu ao país uma nova e reluzente "comissão de paz". Parece que ela é integrada por 13 deputados. Tudo isso seria encantador e sugestivo se não fosse por dois ou três detalhes: Iván Cepeda Castro, um chefe do Polo Democrático (comunista), é quem será o porta-voz da mesma, pois, como detalhou a imprensa (que esqueceu de dizer como se gestou essa idéia, que critérios defende e quem a integra) eles o elegeram "por unanimidade". Enviada aos meios de comunicação pelo mesmo Cepeda, a informação diz que a comissão exaltou a figura de Piedad Córdoba. Seguindo o ritual desinformador, a comissão pediu às FARC que não voltem a seqüestrar. O que é o mesmo que pedir ao diabo que faça hóstias.

Se as coisas são assim, temos que esperar o pior. Com Iván Cepeda e Piedad Córdoba à frente dessa "comissão de paz", o que aguarda ao país é o horror de uma nova farsa que começa com frases de salão e termina nos cemitérios.

Essa "comissão de paz" é uma antecipação de algo que ainda não é visível. O governo ainda não abriu, ao que se saiba, "negociação de paz" com ninguém. Horas depois de Cepeda lançar no ar sua curiosa "comissão", o presidente Santos descobria, pelo contrário, um novo exemplo do jogo duplo das FARC: enquanto estas deixavam em liberdade um de seus seqüestrados, seqüestravam dois trabalhadores de Cartón Colômbia e outras quatro pessoas no Cauca. Faltou pouco ao Presidente para fechar a janela das libertações.

O país não tem nada que negociar com as FARC. Exceto a rendição do que resta dessas tétricas hostes.

Embora a idéia de negociar com as FARC tenha sido rechaçada pela maioria colombiana em três eleições presidenciais, agora alguns estão tratando de instalar de novo esse espectro na agenda do governo.

O que as FARC chamam de "negociação de uma solução política", é a rendição gradual do Estado e da sociedade ante o bando terrorista. Todos sabemos que um "processo de paz" com as FARC equivale a um recrudescimento automático da guerra de devastação que elas levam desde há cinco décadas. Essa negociação tem um primeiro objetivo: paralisar as Forças Militares e o resto das instituições, e deixar o campo aberto aos tráficos de droga, assaltos e seqüestros. As FARC sempre fizeram assim, cada vez que convenceram os governos a se deixarem levar a um "processo de paz".

Desta vez acreditam que após oito anos de segurança democrática, o novo governo, que abandonou sem mais nem menos essa doutrina e encontra-se a mercê de um falso e manhoso "progressismo", acabará por cair nessa arapuca. Se Santos fizer isso, já sabemos a que o país se expõe: a democracia terá que responder à violência de seu interlocutor com as mãos atadas. Essa é a essência do que está por trás da prematura gestão "de paz" que Iván Cepeda e Piedad Córdoba pretendem dirigir.

Estão impondo ao país, discretamente e por trás dos bastidores, os maiores absurdos. Só um exemplo: o Senado estuda nesse momento uma lei que, se não for reformulada, acabará obrigando o Estado a financiar a guerrilha.

Pois as FARC se sentem em plena primavera, depois de um longo inverno, em um momento propício aos idílios.
Sabem que aqui a memória é curta e tola. Estimam que a conjuntura é favorável para acabar de atar os braços do Estado e prosseguir com sua caminhada para o poder. Pisoteando sobretudo os civis, os menos protegidos da sociedade.

A Colômbia acreditava que a classe dirigente havia aprendido algo, após a sangrenta experiência da iníqua negociação de paz de três anos na zona de 42.000 km² cedidas às FARC, por um governo lunático e irresponsável que estava levando a Colômbia a ser co-governada por Tirofijo. E que havia se curado da horrível tara de acreditar que a paz depende de converter as FARC em interlocutor político. Na realidade, não aprendemos nada. Desde o 7 de agosto passado, uma mão invisível começou a reinstalar as peças do xadrez da nova catástrofe.

Quem poderia negar que a insegurança crescente faz parte do "Plano Renascer" de Cano? Que as FARC contam com as Bacrim [1] para reforçar sua capacidade de desestabilização? Que a Venezuela e o Equador enganam o presidente Santos e continuam ajudando as FARC, e que isto se vê no que ocorre em Arauca, Cauca e Nariño?

Com a promessa de "negociar a paz", as FARC bajularam Belisario Betancur. A política de trégua e concessões deste permitiu às FARC criar a União Patriótica (UP) e, ao mesmo tempo, forjar com seus aliados uma coordenadora guerrilheira que atraiu bandidos estrangeiros. Essa operação de longo alento, que incluiu uma "comissão de paz" que amarrava o braço do Exército que defendia o país, culminou com a matança do Palácio da Justiça. Os governos de Samper e Pastrana agravaram o problema em seguida. O país chegou à apavorante conjuntura dos 3.000 seqüestrados ao ano, da gente bloqueada nas cidades e nas estradas em poder dos bandidos. E, sobretudo, de umas FARC mais arrogantes do que nunca, que procuravam partir o país em dois. Enquanto Andrés Pastrana calculava que permitir tais coisas lhe abriria as portas de um Prêmio Nobel, a Colômbia expirava sob um incêndio como Roma sob Nero.

A política do presidente Uribe salvou o país, porém, em que pese isto, os colombianos não aprendemos nada. E voltamos a nos assomar ao abismo do "diálogo com as FARC" com olhos de virgens néscias, que sorriem ante a Gorgona sem saber de quem se trata.


Nota da tradutora:

[1] "Bacrim" é a sigla recentemente criada para designar "bandos criminosos", conformada por gangs de delinqüentes comuns que assaltam, roubam e matam, sem qualquer conexão direta com o narco-tráfico. Por se tratar de bandidos que não têm nada a perder, estão beneficiando (ou sendo manipulados, ou financiados) as FARC na desestabilização da segurança nacional.

Tradução: Graça Salgueiro

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