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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

QUEM VIVER, VERÁ

PERCIVAL PUGGINA
03/01/2011

Tenho um amigo muito antipetista. "Já reparaste que o Fernando Henrique só errava quando dava bola para o que o PT dizia? E que o Lula só acerta quando vai contra o PT?", costuma ele afirmar com um ar de quem, de tanto ver o mesmo filme, já boceja apenas por ouvir o nome dos atores. Meu amigo está convencido de que a oposição brasileira, para voltar ao poder, precisa parar de fazer o que está fazendo (se é que está fazendo alguma coisa) e começar a estudar o PT.

"Crês que a oposição vai derrotar o PT com discurso moralista? Com teses sobre o Brasil? Com visão de história? Com críticas construtivas? Papo furado, cara!", diz ele. "O PT começa a trabalhar o eleitor desde que ele entra na estufa da maternidade. Lá já tem uma atendente criticando "o sistema" ou um dindinho militante para dar ao bebê um carrinho equipado com bandeira vermelha". No fundo, é isso mesmo. A coisa começa cedo e passa pelas experiências coletivistas do maternal. Engrossa nos cursos fundamental e médio, quando o sistema cai nas mãos dos pedagogos marxistas, do politicamente correto (e do democraticamente incorreto), do Cpers, da relativização da verdade e do bem, da tolerância com tudo que está errado e da intolerância para com quem se atreve a apontar quaisquer erros. E vai adiante com o controle dos sindicatos, dos fundos de pensão (oba!), dos movimentos sociais, de uma constelação de ONGs (oba!), dos cursos de graduação e de pós, das carreiras jurídicas, dos seminários e cursos de teologia, da CNBB, da cozinha dos jornais, do escambau. Se o convidarem para um clube do Bolinha, leitor, em seguida você descobrirá que o bolinha que manda é companheiro.

Quando eu estava meditando sobre essa lista, meu amigo perguntou: "Os sindicatos a que te referes são de trabalhadores ou patronais?", ao que eu esclareci - "De trabalhadores, claro". Mas ele me advertiu que também as organizações patronais vêm sendo aparelhadas desde que o partido assumiu o controle do BNDES. Imagine o leitor: temos no Brasil empresários tão petistas quanto seus operários. E arrematou ele: "Por motivações opostas".

Certa feita, quando o governo Lula se recusou a receber as rodovias pedagiadas do Rio Grande do Sul, ele me olhou com aquele ar de aí tem coisa e sentenciou: "Se o Tarso vencer, essas estradas vão para a União em estojo de veludo e serão recebidas com pompa e circunstância". Eu o chamei de paranóico e me recusei a continuar a conversa. Imagina! Só tu para afirmar um absurdo desses. "Quem viver, verá!" exclamou. Pois não é que ele tinha razão? Logo, logo, o pepino sairá das mãos do governador Tarso e irá para o colo da presidente Dilma. "Mudaram as condições políticas" é a frase com que o PT explica tamanha contradição.

Mas voltemos ao meu amigo. Diz-me ele: "Ninguém pode acusar o PT de fazer oposição cordial, bem educada, respeitosa, construtiva. Como o boxeador martela o fígado do adversário, ele cuida de desfigurar a imagem do opositor. Nariz, lábio e supercílio. Vencido o pleito, ocupada a cadeira, passa a cobrar o quê de seus opositores? Colaboração, e fidalguias. Talquinho e perfume. E até essa oposição esgualepada, esmilinguida, que aí está, passa a ser radical, insuportável e impertinente". Quem viver, verá.


ZERO HORA, 02/01/2011

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