por Jeffrey Herf
Editora da Universidade de Yale, 2009, 352 páginas
Comentado por Daniel Pipes
Commentary
Abril 2010
Editora da Universidade de Yale, 2009, 352 páginas
Comentado por Daniel Pipes
Commentary
Abril 2010
Original em inglês: Nazi Propaganda for the Arab World
Tradução: Joseph Skilnik
Tradução: Joseph Skilnik
O impacto do Nacional Socialismo no Oriente Médio costumava parecer breve e superficial. Ao contrário do que ocorreu com o Comunismo, cujos partidos locais e a influência externa por meio do bloco soviético persistiram por muitas décadas, o momento nazista durou aproximadamente seis anos, 1939-45 e teve pequena presença regional além dos exércitos de Rommel no Norte da África e um efêmero regime pró nazista no Iraque.
Porém, dois livros importantes e competentes, acabaram com os mal entendidos. Djihad und Judenhass (2002) por Matthias Küntzel, traduzido para o inglês em 2007 como Jihad and Jew-Hatred: Islamism, Nazism and the Roots of 9/11, demonstra a influência contínua das ideias nazistas sobre os islamistas. Nazi Propaganda for the Arab World por Jeffrey Herf enfoca um período anterior, anos 30 e 40 e o grande esforço de Hitler e seus apaniguados em transmitir suas ideias através do Oriente Médio. Após ler Küntzel e Herf, eu percebi que a minha educação no que diz respeito ao Oriente Médio encontrava-se desprovida de um ingrediente vital, o Nazista.
Especializado em história alemã moderna na Universidade de Maryland, Herf traz à luz um novo corpo de informações: Relatórios resumidos de transmissões de rádio em ondas curtas dos nazistas em idioma árabe gerados por mais de três anos pela embaixada dos Estados Unidos no Cairo. Esse material revela de forma ampla, pela primeira vez, o que Berlim expôs aos árabes (e em menor proporção, aos iranianos). Página após página o Nazi Propaganda for the Arab World estabelece de maneira estonteante, embora com os necessários detalhes, que os alemães, acima de tudo perseguiam dois temas: barrar o sionismo e promover o islamismo. Cada qual merece um exame minucioso.
A propaganda nazista em língua árabe retratava a Segunda Guerra Mundial, a maior e mais destrutiva guerra da história, focalizada primeiramente no pedaço de terra entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão. Essa interpretação tanto bajulava os árabes quanto ampliava a grande teoria de Hitler de que os judeus queriam dominar os países árabes e finalmente o mundo inteiro, de que as Forças Aliadas eram apenas peões de xadrez nessa conspiração sionista e que a Alemanha liderava a resistência a ela.
A Palestina era a chave, de acordo com essas transmissões. Se os sionistas se apoderarem dela, irão "controlar os três continentes: Europa, Ásia e África. Desta maneira poderão governar o mundo todo e expandir o capitalismo judaico". Tal eventualidade levaria à opressão dos árabes e à extinção do islamismo. "Caso o Bolchevismo e a Democracia sejam vitoriosos", anunciava a rádio nazista, "os árabes serão dominados para sempre e quaisquer traços do Islã serão eliminados". Para evitar esse fim, os árabes teriam que se unir ao Eixo.
Enquanto a guerra progredia, o incitamento de Berlim ficava cada vez mais furioso. "Vocês precisam matar os judeus antes que eles atirem em vocês. Matem os judeus" dizia uma transmissão em julho de 1942. Herf observa a amarga ironia: "Nesse momento de total impotência dos judeus, as transmissões em árabe provenientes de Berlim foram habilmente adaptadas à linha da propaganda geral nazista com respeito à dominação dos judeus da coalizão anti-Hitler a uma visão radical árabe e islâmica".
Ao mesmo tempo, o regime nazista desenvolveu uma abordagem para os muçulmanos que ignorava consideravelmente Os Protocolos dos Sábios de Sião, Minha Luta e outras fontes européias em favor de passagens selecionadas do Alcorão.
Os propagandistas de Hitler asseguraram aos muçulmanos, primeiro, que os países do Eixo "respeitavam o Alcorão, santificavam as mesquitas e glorificavam o profeta do Islã". Ela citava o respeitado trabalho de Orientalistas Alemães como um importante sinal de boa vontade. Segundo, ela sustentava o que Heinrich Himmler chamava de "compartilhar objetivos e compartilhar ideais" do Islã e do Nacional Socialismo. Esses incluíam monoteísmo, devoção, obediência, disciplina, abnegação, coragem, honra, generosidade, comunidade, unidade, anti-capitalismo e enaltecimento do trabalho e operações militares.
Além disso, disseram aos muçulmanos que eles e os nazistas estariam, pelo visto, ambos combatendo uma "grande batalha pela liberdade" contra os britânicos, a mais importante potência colonial no Oriente Médio. O regime fez uma comparação entre Maomé e Hitler e apresentou a umma (termo árabe que exprime a ideia de nação), em linhas gerais análoga a sua própria noção de uma Volksgemeinschaft comunitária ("comunidade do povo").
Os nazistas retratavam o Islã como um aliado e, assim sendo, pediam sua revitalização ao mesmo tempo exortando os muçulmanos a agirem com humildade e imitarem Maomé. A Rádio Berlim em árabe chegou a ponto de declarar em árabe "Allahu akbar! Glória aos árabes, Glória ao Islã". Os alemães sustentavam que os muçulmanos que não fossem virtuosos o bastante (i.e., não seguiam o modelo ideológico nazista) estavam causando o enfraquecimento da umma: "Muçulmanos, vocês são atrasados porque vocês não demonstraram a devida devoção e temor a Deus". E não somente atrasados, como também "invadidos por tiranos cruéis". Especificamente para os shiitas, os nazistas davam a entender que Hitler era o esperado Décimo Segundo Imã ou a escatológica figura muçulmana de Jesus, que irá combater o anti-Cristo (em outras palavras, os judeus) e provocar o fim dos dias.
Os nazistas notaram o paralelo entre as palavras do Alcorão (Sura 5:82, "Você não encontrará inimigo maior dos fiéis do que os judeus") e as de Hitler ("Ao resistir aos judeus em qualquer lugar, estou lutando pela obra do Senhor") e transformou o Alcorão em um tratado antisemita cujo principal objetivo era estabelecer o ódio eterno aos judeus. Eles chegaram a alegar falsamente que Maomé ordenou aos muçulmanos que combatessem os judeus "até que estivessem extintos".
Na narrativa nazista, a hostilidade judaico-muçulmana data do século VII. "Desde os dias de Maomé, os judeus eram hostis ao Islã" continuava a transmissão. "Qualquer muçulmano sabe que a animosidade dos judeus para com os árabes data do surgimento do Islã" declarava outra. "Hostilidade sempre existiu entre árabe e judeu, desde os tempos antigos" insistia outra. Os nazistas acreditavam nessa premissa para consolidar a base para a Solução Final no Oriente Médio, instruindo os árabes a "não medirem esforços a fim de que nenhum judeu sequer... continuasse vivo nos países árabes".
Herf enfatiza a impressionante simbiose entre elementos alemães e os do Oriente Médio: "Em consequência da comparticipação em seus interesses e paixões, eles criaram textos e transmissões que cada um deles não conseguiria criar sozinho". Peculiarmente, os árabes aprenderam "os melhores enfoques do raciocínio conspiratório do antisemitismo", enquanto os nazistas aprenderam a valorizar a focalização na Palestina. Ele descreve a junção de temas nazistas e islâmicos em Berlim como "um dos mais importantes intercâmbios culturais do século XX".
Após detalhar a propaganda nazista em árabe, Herf passa a investigar o seu impacto. Ele começa documentando a notável energia e custo destinado a essas mensagens — a qualidade do pessoal dedicado a ela, seu alto grau de suporte nazista, as milhares de horas de transmissões de rádio e os milhões de panfletos.
Em seguida ele reúne avaliações do impacto do Eixo, todas apontando para o seu sucesso. Estimativas dos Aliados em 1942, por exemplo, descobriram que "a população estava saturada com a conversa do Eixo", que "mais de três quartos do mundo muçulmano eram a favor do Eixo" e que "90% dos egípcios, incluindo seu governo, acreditavam que os judeus eram os principais responsáveis pela escassez e pelos altos preços dos artigos de primeira necessidade". Um relatório de 1944 descobriu que "praticamente todos os árabes que possuíam rádio… ouviam Berlim".
A relutância dos Aliados em contradizer a propaganda nazista também aponta para o sucesso do Eixo. Receosos em alienarem os povos do Oriente Médio, os Aliados permaneceram humilhantemente em silêncio sobre o genocídio que estava ocorrendo contra os judeus, deixaram de refutar alegações com respeito ao domínio judeu de Londres, Washington e Moscou; não contestaram as distorcidas interpretações corânicas; e esquivaram-se em endossar o sionismo. A mera contestação das acusações nazistas, temiam os aliados, iria unicamente confirmar as alegações nazistas sobre a Grã-Bretanha, Estados Unidos e Rússia como sendo marionetes do poder judaico. Uma diretiva interna dos Estados Unidos no final de 1942 reconhecia que "a questão das aspirações sionistas não pode ser mencionada, visto que,… [isso] iria comprometer nossa estratégia no Mediterrâneo Oriental".
Assim, quando dois proeminentes senadores americanos, Robert Taft de Ohio e Robert Wagner de Nova Iorque, propuseram uma resolução em 1944 endossando um lar nacional judaico na Palestina, a rádio Berlim, no idioma árabe, classificou-a como um empreendimento "para extinguir a civilização islâmica" e "para erradicar o Alcorão". Em pânico, o peso de todo o Poder Executivo caiu sobre os senadores, que se sentiram compelidos a retirarem sua resolução. Claramente, as explanações nazistas ressoavam profundamente no Oriente Médio.
Elas continuaram a dar bom resultado após o colapso nazista e o fim da guerra. A derrocada da agressiva expansão do General nazista Erwin Rommel adentro do Norte da África denotava que as ambições nazistas no Oriente Médio, em particular, a Solução Final de aniquilar sua população de aproximadamente um milhão de judeus, nunca foi implementada. Porém, anos de ódio da rádio e dos panfletos e a repetitiva, grotesca, ambiciosa, antissemita mensagem com base no Islã detalhada por Herf criaram raízes. Como se não fosse o bastante terem os nazistas do Oriente Médio emergido praticamente invulneráveis a ações penais, também prosperaram e foram louvados. Um exemplo: em 1946, Hasan al-Banna, fundador da Irmandade Muçulmana, glorificou, com muita ênfase, o árabe predileto de Hitler, Haj Amin el-Husseini, chamando-o de "um herói... um milagre de homem". Banna acrescentou, ainda mais: "A Alemanha e Hitler se foram, mas Amin el-Husseini continuará a luta". Reconhecendo o elevado status de el-Husseini, um oficial britânico descreveu-o em 1948 como "o grande herói do mundo árabe".
Ideias difundidas pelos nazistas no Oriente Médio deixaram uma duradoura dupla herança. Primeira, tal qual na Europa, eles basearam-se em preconceitos existentes contra os judeus com a finalidade de transformar esse preconceito em algo muito mais paranóico, agressivo e homicida. Um relatório da inteligência dos Estados Unidos de 1944 estima que o material anti-judaico constituía a metade do total da propaganda alemã direcionada ao Oriente Médio. Os nazistas viam virtualmente qualquer acontecimento na região através do prisma judaico e exportavam essa obsessão.
Os frutos dessa diligência podem ser vistos não apenas em décadas de furioso antisionismo muçulmano, personificado por Arafat e Ahmadinejad, mas também na perseguição de antigas comunidades judaicas em países como o Egito e Iraque, que se encolheram a ponto de estarem praticamente extintas, mais a contratação de nazistas como Johann van Leers e Aloïs Brunner para ocuparem importantes posições no governo. Desse modo a herança nazista oprime as comunidades judaicas no Oriente Médio pós 1945.
Segunda, o islamismo incorporou a qualidade nazista. Como alguém que criticou o termo "islamofascismo" pela razão dele fundir gratuitamente dois fenômenos distintos, eu tenho que comunicar que as evidências de Herf agora me conduzem a reconhecer as profundas influências fascistas sobre o islamismo. O que inclui o ódio islâmico à democracia e ao liberalismo e seu desprezo por múltiplos partidos políticos, preferência por unidade em vez de divisão, culto à juventude e ao militarismo, moralismo autoritário, repressão cultural e economia não liberal.
Mais além das peculiaridades, essa influência se estende para o que Herf chama de uma "habilidade de introduzir uma mensagem radical por meios que ressoavam com, além de aprofundar e radicalizar, sentimentos já existentes". Embora seja especializado, por formação, sobre a Europa, o trabalho investigativo de Herf nos arquivos dos Estados Unidos, abriram novos panoramas a respeito do conflito árabe - israelense e o islamismo, bem como uma contribuição que servirá de ponto de referência mais abrangente para a compreensão do Oriente Médio moderno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá internauta
O blog Cavaleiro do Templo não é de forma algum um espaço democrático no sentido que se entende hoje em dia, qual seja, cada um faz o que quiser. É antes de tudo meu "diário aberto", que todos podem ler e os de bem podem participar.
Espero contribuições, perguntas, críticas e colocações sinceras e de boa fé. Do contrário, excluo.
Grande abraço
Cavaleiro do Templo