HEITOR DE PAOLA
Abel F. Costa
Mais uma vez o brasileiro foi convocado compulsoriamente a participar do processo democrático de escolha de seus governantes, onde a vedete principal tem sido a urna eletrônica e seu expresso método de apuração eleitoral, bastando um período de apenas três horas para que o resultado final seja conhecido.
A impressão predominante é a que alcançamos um elevado estágio de desenvolvimento cibernético, onde já se acha disponível para uso a identificação biométrica através de impressões digitais, o que a propaganda institucional apregoa como o mais avançado e seguro sistema de apuração eleitoral, não fosse por um pequeno e insignificante detalhe, que é a impossibilidade de impressão do comprovante de votação. Interessante no caso é que o Congresso acaba de aprovar uma Lei que obriga as empresas a adotarem nos sistemas de controle eletrônico de frequência, equipamentos que imprimam comprovantes do registro de entrada e saída, assim como das horas extras porventura realizadas.
O eleitor brasileiro é levado a concluir que o sistema de votação adotado no país é rápido, seguro e eficiente, desde que não seja obrigado a emitir um comprovante do ato processado, pois o que se passa entre o fim da apuração, a retirada do chip da máquina e a transmissão desses dados até o TSE é tão nebuloso quanto a contabilidade da PETROBRAS.
Por que o eleitor não recebe um comprovante de sua opção eleitoral? Por que o processo eleitoral se realiza basicamente nas escolas se o mesmo poderia ser utilizado nas salas de atendimento das agências bancárias que estão fechadas aos domingos e ainda poderia usar o sistema de transmissão de dados para acionar diretamente o TSE e assim o eleitor, comparado a um cliente de banco, poderia votar em qualquer lugar do território nacional, não precisando mais justificar ausência e nem necessitar se cadastrar previamente para votar em trânsito.
Reparem que na segunda-feira seguinte ao pleito, as salas de aulas não estão em condições de receber os alunos devido às eleições ali realizadas, enquanto as agências bancárias continuam fechadas até as dez horas desse mesmo dia, sem prejuízo para seus correntistas. Talvez o sistema financeiro seja mais importante para o país do que o sistema educacional e, assim, se justifica a posição do Brasil quando comparado a outros países com relação a educação e conhecimentos.
Passada a euforia dos vencedores e a apatia dos vencidos, vejamos o que podemos garimpar dessa etapa cívica que, nos moldes existentes, cada vez mais afasta o eleitor de seus eleitos, não forma consciência política em seus cidadãos e apenas os mantem presos ao cabresto da participação obrigatória.
Os eleitos para as funções legislativas municipais, estaduais e federal, ao se diplomarem para suas funções, se tornam infiéis e fisiológicos, pactuam da forma mais torpe com seus financiadores de campanha e se aglutinam em bancadas espúrias aos interesses de seus eleitores, passam a defender apenas seus interesses pessoais em detrimento das propostas que deixaram como promessas em suas campanhas.
Os eleitos para Prefeito se intitulam chefe do poder municipal mas, em muitos casos como por exemplo em nossa cidade do Rio de Janeiro, não tem autonomia para governar na sua plenitude, visto que uma grande parte do município segue suas próprias leis, de modo que o Prefeito não consegue administrar os transportes públicos, não exerce poder nas comunidades, não tem poder sobre o trânsito e suas sequelas, onde os motoristas tem mais respeito aos flanelinhas do que à determinação palaciana, a desordem urbana se manifesta imperiosamente pelos camelôs nas calçadas, os estacionamentos impróprios, as obras irregulares e não autorizadas, a sujeira é de uma agressividade calamitosa, a saúde com suas UPP e Clínicas de Família continuam fazendo suas vítimas por descaso, falta de recursos e de matérias e, até mesmo, por falta de decisão, ocorrem óbitos enquanto se discute se a tarefa é municipal ou estadual.
Pelo menos nosso querido prefeito é uma pessoa inteligente e ao perceber que o cargo que almejou era bem aquém do que imaginou, agarrou-se ao governados como um carrapicho se prende ao tecido de uma calça e, assim, passou a mostrar notoriedade e provar que ainda existe, caso contrário não lembraríamos que tinha um prefeito na cidade dos jogos olímpicos de 2016 (que por sinal não deverá ser ele, ou será?).
Os eleitos para Governador, ao tomarem posse, procuram logo rever o orçamento e preparar licitações que venham a atender os interesses das empreiteiras que lhes financiou a campanha eleitoral e, logo surgem pontes que ligam nada a lugar nenhum, estradas são asfaltadas com material que parece barro, pois nas primeiras chuvas já estão se deteriorando, hospitais são reformados e os pacientes são transferidos por que alas são interditadas, equipamentos estão inoperantes, faltam médicos e, quando existem, se descobrem são acadêmicos contratados por seus colegas mais velhos, ambulâncias não possuem motoristas e outras coisas do gênero.
Na segurança temos um capítulo à parte, onde a PMERJ depois de duzentos anos de criação, atingiu um nível tal de corrupção que não existe um único tipo de crime ocorrido onde não haja envolvido um policial ou ex-policial. Se existe irregularidade no desmanche de carros roubados, lá estará um PM, se há conivência entre a recuperação de carros roubados e as seguradoras, lá estará um ou mais PMs, se os flanelinhas estão atuando em determinada área da cidade, lá estará um PM, se existe milícia numa comunidade, lá estarão mais PMs, se o depósito de gás é irregular, lá estará um PM, se o carro cai num canal e seu motorista desaparece, lá estará um PM, se o transporte alternativo é feito ilegalmente lá estarão os PMs.
Ainda bem que o nosso governador (carregando o prefeito agarrado) descobriu uma nova forma de implantar segurança em nosso estado, montando as UPP em várias comunidades com efetivo de policiais militares recrutados em Marte, Júpiter, Saturno, Vênus e Netuno. A Secretaria de Segurança Pública jura que estes são diferentes dos outros e que não degeneram com o passar do tempo, só não dá para entender é como ainda mantem os outros se estes são tão bons. Talvez haja uma esperança de que os atuais consigam melhorar os anteriores, embora a sociedade tenha a desconfiança de que os anteriores venham a contaminar os atuais.
Já a eleição para presidente não traduz muita novidade, pois se o país já acumula a experiência de ter escolhido um metalúrgico sem instrução, julgado incapaz até para ingressar no quadro de garis da COMLURB (nosso presidente seria considerado não apto a preencher o cargo por não possuir grau de instrução necessário), qual seria o inconveniente de escolher um candidato que nunca concorreu a nada não é mesmo? Afinal para esse cargo no Brasil qualquer um que se candidate serve.
Vamos continuar comprando carros importados, brinquedos, roupas, vinhos e trigo do exterior, vamos continuar vendendo aviões e utilizando aeronaves estrangeiras em nossas empresas e no transporte do governo, vamos viajar em trens coreanos e chineses e continuar plantando soja, cana e extraindo e exportando minérios e importando aço para construção de navios, vamos extrair petróleo do pré-sal para dar e vender e continuar importando óleo diesel para movimentar caminhões, ônibus e tratores, vamos comprar dólares que o banco central americano emite e que os investidores trazem para o nosso país varonil para receber 10,75%, enquanto nosso banco central aplica em títulos do tesouro americano sendo remunerado em 0,25%.
Somos jovens com nossos cinco séculos de existência e teremos muito chão pela frente, afinal assim caminha a nossa sociedade.
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