TRIBUNA DA IMPRENSA
segunda-feira, 03 de janeiro de 2011 | 17:02
Carlos Newton
Erenice Guerra era a convidada mais feliz, saltitante e risonha, na posse da presidente Dilma Rousseff. O sorriso ia literalmente de orelha a orelha, praticamente engolia o rosto dela.
No meio da multidão, somente Erenice e mais meia dúzia de pessoas sabiam que a comissão de sindicância instaurada na Casa Civil, para apurar denúncas de tráfico de influência envolvendo os servidores Vinícius de Oliveira Castro e Stevan Knezevic, terminara sem apontar nenhuma irregularidade por parte dos dois e, portanto, sem punições.
Para a exultante Erenice Guerra, era como se todas as acusações que pesam sobre ela subitamente tivessem se dissipado. Tudo não passara de um pesadelo. Mas agora ela podia voltar a ter sonhos, porque a providência principal já fora executada.
Como num milagre de Natal, desapareceu na Casa Civil o documento original do convênio assinado em 2005 entre a Unicel e a diretoria de telecomunicação da Casa Civil para testes de um serviço móvel especializado (rádios comunicadores). Por coincidência, é claro, na época a Unicel tinha como diretor comercial o marido de Erenice, José Roberto Camargo Campos.
Tomada na chamada undécima hora, exatamente na véspera de deixar o cargo, a decisão do então Chefe da Casa Civil de Lula, Carlos Eduardo Esteves Lima, inocentamdo os funcionários, foi constrangedora e mostra que no interior do Palácio do Planalto o tráfico de influência continua a pleno vapor.
O funcionário Vinicius de Oliveira Castro (agora inocentado) é filho de Sonia Castro, que aparece como sócia de filhos de Erenice na Capital Assessoria e Consultoria. Já Stevan Knezevic, que é funcionário concursado da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e estava cedido à Casa Civil, também era sócio de Israel Guerra. Durante o processo, Stevan portou-se de forma altamente suspeita e usou a prerrogativa de não prestar depoimento, já que, por lei, só está obrigado a fazê-lo a seu órgão de origem, no caso, a Anac.
Somente a criação dessa empresa de “consultoria”, para vender facilidades dentro do Planalto, já seria suficiente para incriminar todos eles (incluindo a própria Erenice, que era Chefe da Casa Civil, que Deus nos perdoe), especialmente pela intermediação da licença para a MTA Linhas Aéreas operar nos Correios.
Mas o jogo ainda não terminou. As acusações envolvendo a ex-ministra hipoteticamente continuam sendo apuradas pela Polícia Federal e pela Controladoria Geral da União (CGU), uma vez que, como ela era titular do ministério, não podia ser investigada por uma sindicância interna. Mas a decisão da Casa Civil, “inocentando os funcionários” já é meio caminho andado para “melar” a investigação.
No último dia do ano, sexta-feira, o Diário Oficial da União publicou uma portaria do então ministro Carlos Eduardo Esteves Lima para uma nova sindicância, desta vez destinada a analisar o convênio assinado em 2005 entre a Unicel e a diretoria de telecomunicação da Casa Civil para testes de um serviço móvel especializado (rádios comunicadores). A Unicel, repita-se, tinha como diretor comercial o marido de Erenice, José Roberto Camargo Campos.
Mas o documento original não foi encontrado pelos servidores que apuraram as eventuais irregularidades. Milagrosamente, sumiu. Por isso Erenice Guerra estava tão eufórica. Os motivos abundavam.
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