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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Israel e as Drogas: informações e reflexões

HEITOR DE PAOLA

Mina Seinfeld de Carakushansky

Há um ditado popular segundo o qual: "Em Haifa as pessoas trabalham, em Jerusalém elas rezam e em Tel-Aviv elas se divertem". A cidade de Haifa, o maior porto de Israel, com as suas refinarias de petróleo, tem sido um centro de comércio marítimo desde a antiguidade e atualmente o principal centro financeiro de Israel. A cidade tem o único sistema de metrô israelense, o Carmelit, o menor sistema de metrô no mundo. Cerca de 28% dos judeus que emigraram da antiga União Soviética para Israel moram em Haifa. O recente incêndio nas montanhas de Carmel matou 41 pessoas e devastou milhares de hectares de terras. Cerca de 17.000 pessoas foram evacuadas de suas casas, enquanto os bombeiros de Israel combatiam o incêndio, ajudados por vários outros países.

Um rapaz de 14 anos, ao ser interrogado pela Polícia israelense, admitiu que tinha ido para a floresta na região do Carmel, do norte de Israel, para fumar um cachimbo narguilé de tabaco (nicotina) ou de maconha, vítima do engodo segundo o qual a maconha não é tão nociva para a saúde Acendeu o narguilé com um pedaço de carvão em brasa e, quando terminou de fumar, jogou a carvão dentro da floresta, onde os arbustos próximos rapidamente se incendiaram, alastrando o fogo e causando o maior incêndio na história recente de Israel. Segundo o Haaretz, o rapaz correu de volta para a escola, mas não comunicou o incêndio.

A tragédia ocorrida em Haifa trouxe à baila um assunto que poucas vezes é discutido nos nossos meios, que é o crescente consumo de drogas dos jovens judeus em geral e dos israelenses em particular. As drogas são substâncias químicas que alteram, em menor ou maior grau, a percepção do usuário sobre a realidade. Com o uso continuado, o uso de drogas age sobre as funções do cérebro, podendo reforçar o desejo de continuar usando drogas, independentemente das conseqüências que o usuário pode até conhecer, mas que assim mesmo não consegue controlar.

Não há cura para a dependência de drogas. Os tratamentos, em geral longos e de alto custo, visam ajudar os pacientes a parar de usar drogas, diminuir os efeitos tóxicos dos medicamentos utilizados, ajudar a tratar dos sintomas da abstinência de drogas ("desintoxicação") e prevenir as recaídas. O sucesso do tratamento depende do reconhecimento do problema pelos toxicodependentes e do seu firme desejo de mudar. A recuperação leva muito tempo - de três a sete anos - e não é um processo fácil. Os pacientes podem necessitar de várias etapas de tratamento e os índices de sucesso (ficar cinco ou mais anos sem uma recaída), são de apenas 10%.

Existem milhares de trabalhos científicos sobre as causas e os efeitos das distintas drogas sobre o ser humano. Pode haver um componente genético que predisponha a pessoa a usar e abusar de drogas. Mas o que já é admitido por todos aqueles que lidam com o assunto de forma profissionalmente séria é que o abuso de drogas é um comportamento aprendido e que as pessoas começam a usar drogas copiando o comportamento das pessoas ao seu redor, colegas, amigos ou até mesmo parentes muito próximos. Os judeus, seja em Israel ou na diáspora, sempre foram conhecidos pelo seu baixo consumo de álcool e menos ainda de outras drogas. A religião, os fortes laços familiares e comunitários, o relativamente alto grau de instrução que os pais desejam inculcar nos seus filhos constituem uma blindagem que explica a conhecida aversão dos judeus por substâncias que possam entorpecer a mente.

Por outro lado, os israelenses, desde o advento do sionismo, sempre cresceram e se pautaram por ações. Construir o país, fazer florescer os desertos e defender-se eram objetivos importantes que ocupavam as energias e a atenção dos israelenses. Entretanto, essa característica vem sendo um tanto neutralizada entre os judeus de Israel e também entre os que vivem em outros países. Tem havido um aumento contínuo do uso de drogas em Israel por parte da juventude. Como Israel é um país tão pequeno, os problemas são mais acentuados. Os controles estruturais deixaram paulatinamente de agir sobre o abuso de drogas, o qual se transformou em um problema e social.

Embora o consumo de drogas em Israel não seja um fenômeno novo, tem havido uma mudança nos padrões de consumo, em especial, no que se refere à distribuição demográfica dos usuários. Antes da Guerra de 1967, o consumo estava restrito à maconha e aos opiáceos, mas ainda assim confinado aos grupos marginais e de boêmios ou de criminosos. Depois de 1967, o uso de maconha tornou-se prevalente também entre artistas e segmentos consideráveis de universitários e de alunos do segundo grau. Por causa do acesso dos israelenses a Jerusalém oriental e à Cisjordânia, onde o produto das plantações de maconha no Líbano e na Síria entrava com facilidade, os israelenses também ficaram expostos aos padrões de consumo de turistas voluntários e de estudantes vindos de outros países ocidentais, em especial os EUA. A música pop (muito popular entre a juventude israelense) e as artes nos EUA e na Europa possuem uma forte conotação de uso de drogas, transformada em um símbolo de rebeldia e de protestos.

O consumo de álcool entre os jovens também está em ascensão. Nove em cada 10 jovens admitem ter usado regularmente bebidas alcoólicas, um fenômeno consistente em classe sócio-econômica, etnia e localização geográfica. A idade em que os menores começam a consumir álcool caiu, com jovens relatando que haviam começado a beber regularmente desde os 11 anos de idade. Aumentou também a quantidade de álcool consumida. Em Israel há um número crescente de menores que se sentem alienados de suas famílias e passam por crises de identidade e em relação à sua fé. Além do incremento do uso de drogas na procura por um prazer imediato, esta havendo também um aumento alarmante de outros problemas sociais tais como o fenômeno relativamente novo de vadiagem entre os adolescentes, permissividade sexual, gravidez de adolescentes, violência sexual além de outras formas de violência, jogo ilegal entre os jovens em situação de risco (loteria, pôquer, jogos online), o que os leva muitas vezes a roubar para poder saldar suas dívidas. A desagregação familiar, o estresse emocional, tanto de filhos como de cônjuges, as eventuais crises financeiras, o abuso físico e emocional, a erosão e até o abandono da fé são outros efeitos negativos que podem explicar o consumo de drogas. Além disso, a falta de confiança mútua e a criação de "segredos" para que não se saiba fora de casa o que lá ocorre, acaba transformando as famílias de dependentes de drogas em grupos quase isolados.

O fato de que as fronteiras de Israel são muito mais fortemente patrulhadas do que os de outras nações menos ameaçadas em todo o mundo pela entrada de drogas lhe dá a capacidade de sustar o fornecimento de drogas provenientes do estrangeiro. No entanto, mesmo com todos os recursos dispendidos pelo governo para impedir a entrada de drogas ilegais no país, mais de 110 toneladas de maconha ainda conseguem entrar todos os anos. As três principais rotas de comércio são Jordânia, Líbano e Egito – sendo a origem do fornecimento da droga para esse país na Líbia e no Marrocos.

Segundo a Autoridade Antidrogas Israelense, 10 % dos jovens de 12 a 17 jovens israelenses consomem algum tipo de droga. Embora todos os estabelecimentos devem conduzir uma política comum com uma mensagem de prevenção que proíbe o abuso de drogas, existem mensagens dúbias e confusas, O fato de que a venda de narguilés não está proibida é interpretado por muitos como uma permissão tácita para uso de drogas tais como a maconha. A Autoridade Antidrogas lidera uma campanha para testagem de drogas nas escolas e 81% da população apóia esses testes. Embora a população israelense em sua grande maioria (91%) se declare claramente contra o abuso de drogas e apoie a apreensão de veículos pelo prazo de três meses de motoristas pegos dirigindo sob a influência de drogas ou álcool, 31% dos estudantes universitários usam drogas e 70% dos atos violentos cometidos por adolescentes, incluindo assaltos, são realizadas sob a influência de drogas ou do álcool.

O consumo de drogas em Israel é inversamente proporcional ao nível educacional do indivíduo, isto é, quanto mais alto o seu nível intelectual e de estudos formais, mais baixo é o seu índice de consumo. Assim, de acordo com a Autoridade Antidrogas do país, 300.000 israelenses são usuários de drogas. Destes, cerca de 20.000 a 30.000 são dependentes. Dos dependentes, 25 por cento são mulheres. Dos 300 mil, cerca de 70.000 têm menos de 18 anos de idade. Estes números não incluem o abuso de álcool, que é "muito maior". Os adolescentes israelenses usuários de drogas são em geral do sexo masculino, imigrantes, moram numa cidade grande, costumam ingerir bebidas alcoólicas e sofrem de ansiedade e depressão. Além disso, seus pais estão separados e o pai com o qual o moram está desempregado. As palavras do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com relação ao problema das drogas são impactantes: "Nós enfrentamos uma epidemia pois nos últimos três anos tem havido um aumento de 15% no consumo de álcool em Israel. Um terço de todos os jovens entre as idades de 12-18 relataram que eles ficaram intoxicados no ano passado, o que é uma estatística terrível. Cerca de 20% dos alunos da sexta série afirmam que consumir uma bebida alcoólica uma vez por semana, o que constitui o segundo maior índice da Europa ".

O judaísmo insiste que jamais se devem buscar formas de escapar da realidade ou de anestesiar o sofrimento. A essência do ser humano está em seu lado espiritual, que deve ser sempre aprimorado. Duas frases muito repetidas, mesmo pelos judeus leigos, são: “Kol Israel Arevim Ze La Ze” que significa “somos todos responsáveis uns pelos outros e “ Kol Hametzil Nefesh Echad, Keilu Hitzil Olam Kuló” que significa que o indivíduo que salva uma pessoa é como se tivesse salvado todo o mundo (Sanhedrin).

No artigo "Spirituality, Prayer, the Twelve Steps and Judaism” (Espiritualidade, Oração, os Doze Passos e o Judaísmo) o famoso rabino e psiquiatra americano Abraham Twerski (muito ligado ao JACS Brasil) mostra como todos os passos têm profundo apoio no Talmude, tratado de Sukáh, bem como nas interpretações do Sábio R. Elimelech de Lizensk e no mais importante compêndio de Leis Judaicas, o Shulchan Aruch. Num outro artigo, ele insiste que Dinei Nefashot - as Leis sobre as Almas - exige que o rabino oriente seus congregados a buscar ajudas - e nestas incluem-se grupos como AA, NA, JA para dependentes, Alanon e Naranon para os seus familiares. Como idéia final é importante que a sociedade, seja em Israel ou no Brasil contribua para que os jovens saibam que as drogas prometem o céu, mas cortam as asas de quem fica dependente delas e que se convençam da necessidade de adotar como postura básica da vida que para resolver um problema, não devem ser criados outros problemas, pois muitas vezes esses podem resultar sendo ainda mais graves do que o problema original. Nós, como adultos, devemos envidar esforços para ajudá-los a atravessar em segurança física e emocional os anos de vida até atingirem a maturidade física e mental.

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A Autora é Presidente da BRAHA – Brasileiros Humanitários em Ação, Diretora da World Federation Against Drugs e Membro do International Board da Drug Watch International. Artigo publicado no "Jornal ALEF, da comunidade judaica"

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