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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

VALORES CULTURAIS

VIVERDENOVO
TERÇA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2010

Por Arlindo Montenegro

Heitor Vila Lobos e Monteiro Lobato, na música e na literatura, têm povoado os sonhos e brincadeiras infantís dos brasileiros há muitas gerações, fixando valores consuetudinários presentes na certidão de nascimento do projeto de nação, que o Jeca Tatu caracterisa em transformações diversas, desde a economia agrária até a industrialização.

As cantigas de roda de Vila Lobos, o Sitio do Pica Pau Amarelo, os personagens da epopéia de Canudos descrita por Euclides da Cunha, o romântico encontro amoroso de índios e brancos de José Alencar e mais recentemente a obra de Guimarães Rosa, descrevem personagens e valores compartilhados pela memória coletiva dos habitantes desta terra.

No nascedouro da nação "independente" o gigante José Bonifácio de Andrada e Silva, defendia instituições que, apoiadas em Leis liberais, integrassem os negros, como cidadãos da nação. Somente afirmando o direito à vida e ao trabalho de todos os segmentos, o Brasil poderia encentar o caminho da independência. Estaria no caminho de mostrar a cara como nação com identidade propria.

Continuamos buscando esta identidade. Enquanto uns afirmam os valores culturais ancestrais, outros tentem impingir valores fabricados em laboratório internacionais de reengenharia mental, que anulam e descartam valores universais hereditários, presentes e acreditados na nossa evolução como seres humanos.

O direito consuetudinário abre espaço para todas as crenças e limita os direitos à prática de deveres. Num estado democrático de direito, não cabe a imensa desigualdade que encontramos e que se fomenta, dividindo em classes chocantes, brasileiros todos pagantes de impostos, obrigados a manter um estado cada vez mais distanciado das realidades humanas locais e cada dia mais envolvido com a reengenharia interncional, cujo valor único é o dinheiro, produzido com o nosso suor.

Nos últimos anos, a partir dos bancos escolares como na literatura e na vida política, vem-se cristalizando um sentido de oposição entre dominantes e dominados. Quem tem, quem pode tudo, de um lado. Do outro lado, todos os outros,trabalhando para manter o poder crescente do estado, cuja dívida interna (hoje beirando "2 TRILHÕES e 300 BILHÕES, exigindo amortização anual de 250 BILHÕES, mais ou menos" – Helio Fernandes) e uma dívida externa de 262 BILHÕES de dólares!

Aqueles valores concernentes à dignidade, honestidade, verdade, ética, busca do bem estar, moral, patriotismo, família, espírito crítico, deveres gerando direitos materiais, direitos humanos universais e valor da vida, foram pervertidos, invertidos e frequentam os discursos políticos, frequentam os bancos escolares, como "novas" verdades, impostas, que todos devem aceitar, sem protestar.

Há um vazio intelectual, uma aridez de idéias que possam guiar para a formação da identidade nacional. Jogamos na lata de lixo e esquecemos nas prateleiras mofadas das bibliotecas, tudo quanto se formulava nesta busca. Neste sentido somos bem diferentes de povos mais antigos, como os latinos das civilizações Inca, Maia e Azteca.

Os peruanos estão exigindo que os EUA, especificamente a famosa Universidade de Yale, devolvam os tesouros de Machu Pichu, retirados da cidadela pelo explorador que a descobriu, em 1912. Os Egito quer que a Inglaterra devolva os tesouros dos faraós. Como não temos tesouros arqueológicos representativos, sequestrados por nações do mundo "civilizado", o mínimo que poderíamos fazer era preservar nossos tesouros mentais, nossa memória cultural.

Neste momento, nada disto parece fazer sentido para os nossos políticos ou para os nossos acadêmicos, todos envolvidos nos valores da colonização comercial que se insinua neste mundo, onde a "casta" da instituição jurídica, guardiã dos valores morais, protagoniza um espetáculo de desprezo aos princípios e valores que tem o dever de defender, em nome de todos os brasileiros.

Eis a notícia: "Empresas públicas e privadas patrocinarão nesta semana encontro de (700) juízes federais em luxuoso resort na ilha de Comandatuba, na Bahia, evento organizado pela Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil)."

"Cada magistrado desembolsará apenas R$ 750. Terá todas as despesas pagas, exceto passagens aéreas, e poderá ocupar, de quarta-feira a sábado, apartamentos de luxo e bangalôs cujas diárias variam de R$ 900 a R$ 4.000."

"A diferença deverá ser coberta por Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes, Souza Cruz, Eletrobras e Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial - Frederico Vasconcelos, de São Paulo)".

Alguns juízes não aceitaram o convite. Parece que ainda existem homens que pensam numa nação brasileira.

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