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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

FARSA ELEITORAL!

HEITOR DE PAOLA

01/10/2010

As eleições, um assunto exclusivamente político, se transformaram no Brasil em assunto jurídico. Agora em 2010 é espantoso como os desembargadores teimam em embargar todo o processo, de tal forma que a audiência às reuniões do TSE e do STF deve ser proporcionalmente igual à dos debates dos candidatos. Não só embargam candidaturas como escarnecem do eleitorado a ponto de, na antevéspera das eleições, não se sabe ainda se a ficha suja é para valer e quantos documentos o eleitor deve levar para votar. Conte-se isto para um cidadão americano ou europeu e este vai achar que é uma piada: ‘ah, esses brrrazileirrros!’.

O pior é que a própria população pediu isto e os candidatos reforçaram. À tal ficha suja, um disparate jurídico sob todos os ângulos que apenas serve para o ufanismo hipócrita pseudo-ético de uma população que deseja estar numa terra de anjos para encobrir de si mesmos seus próprios deslizes, junta-se a sanha dos candidatos de ‘ganhar no tapetão’ como se diz em futebol! Processam-se os adversários por qualquer coisa. Seja por ter dito alguma asneira, seja por ofensas, seja por ser palhaço, como um candidato de São Paulo. Ora, e o que são a maioria dos eleitores? Aquele ao menos faz da palhaçada uma profissão digna: faz as crianças rirem de bobagens inofensivas. E os demais, incluindo a maioria do eleitorado, riem de quê? Estão na posição da hiena na velha piada contada por outro palhaço genial, Juca Chaves: quando o professor acabou de descrever os hábitos de uma hiena um aluno levanta e pergunta: um animal que faz amor uma vez por ano, e come excrementos, ri de quê? Pois é, os brasileiros são estuprados por impostos altíssimos o ano todo – ah, se fosse uma vez só por ano! – para sustentar esta corja e exige ficha limpa, escarnece de um candidato do qual até o momento não se sabe nenhuma sujeira.

Voltando ao tapetão, desmoralizam-se as pesquisas de opinião ao sabor dos resultados. Se meu candidato está perdendo, há manipulação. Se a situação se inverte, cala-se e não se fala mais em fraude. Depois que a Dilma caiu nas pesquisas, acabou a enxurrada de emails de ‘grandes especialistas’ no setor espalhando teorias conspiratórias oriundas de elucubrações psicóticas. Chegou-se ao cúmulo que o candidato de um partido que alega defender a liberdade de imprensa conseguiu impedir que as mesmas fossem divulgadas no seu Estado (Paraná) há mais de quinze dias antes das eleições.

Do jeito que as coisa vão estamos rumando para uma ditadura, senão dos políticos, do judiciário que exerceria a função que nos países comunistas é do Partido, a seleção de quem pode se candidatar. E com isto muitos eleitores acreditam candidamente (será? Se a OEA está no meio, duvido!) que se impedirá a corrupção.

Se quisermos rumar em direção a um país livre se faz necessária uma reversão de rumo brusca e profunda. Se quisermos diminuir a corrupção dos políticos devemos restringir seu poder de se corromper. Só há uma saída: a desestatização total da economia começando pelas grandes estatais e, principalmente, pelos bancos e pelos fundos de pensão.

Se quisermos ter eleições de verdade, não esta pantomima, uma completa reforma do sistema eleitoral é imprescindível, incluindo: extinção da Justiça e da legislação Eleitoral, incluindo o horário eleitoral obrigatório, implantação do voto voluntário com extinção dos títulos eleitorais, adoção do sistema distrital puro, diminuição dos mandatos – Deputados para dois anos, Senadores seis e só dois por Estado. Isto só para começar. Bem sei de um dos argumentos contrários: isto só serve para povos civilizados e o brasileiro é ignorante. Pois a idéia de eleições iniciou-se numa Inglaterra com mais de 95% de analfabetos, broncos de fazer dó a qualquer brasileiro dos cafundós de hoje. Nos Estados Unidos os primeiros Congressos e Presidentes foram escolhidos por votação de camponeses ignorantes. Mas o que estes ignorantes não ignoram e sabem melhor do que ninguém, são os seus próprios interesses. Não precisam de tutela de Zé-lite hipócrita nenhuma!

Artigo a ser publicado no Jornal Inconfidência, Belo Horizonte, MG

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