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Qua, 08 Set, 10h50
Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os efeitos da crise global sobre o mercado de trabalho brasileiro no ano passado foram maiores do que apontavam os dados iniciais e, segundo a Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD), houve aumento de quase 20 por cento na desocupação ante 2008.
Outros indicadores, como o de rendimento, no entanto, não sofreram igualmente.
De 2008 para 2009, o número de pessoas sem emprego que tomaram iniciativa para tentar entrar no mercado de trabalho subiu de 7 milhões para 8,4 milhões no país.
"Isso foi um efeito claro da crise, uma vez que o mercado não gerou vagas suficientes para atender a demanda", disse o economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Cimar Pereira Azeredo.
"O efeito da crise na PNAD foi mais expressivo que na PME (Pesquisa Mensal de Emprego). A desocupação mostra isso de maneira clara e nítida", acrescentou a coordenadora da PNAD, Márcia Quintslr. A PNAD tem cobertura nacional, enquanto a PME cobre as seis maiores regiões metropolitanas do país.
Pelos dados da PME, a desocupação tinha ficado praticamente estável entre 2008 e 2009. "A PME sinalizou bem o que aconteceu com a ocupação e com o emprego com carteira, mas na desocupação não. O comportamento real foi diferente", destacou Quintslr.
Os pesquisadores do IBGE avaliam que há vários fatores por trás desse aumento da desocupação. "O fato da procura por trabalho aumentar pode significar que a pessoa perdeu seu emprego na crise e está tentando voltar; ela pode estar tentando recompor a perda salarial da família ou porque a pessoa espera melhora do mercado no futuro", disse Quintslr.
Com a baixa geração de postos e a expansão da desocupação, a taxa de desemprego encerrou 2009 no maior patamar desde 2006. A taxa média foi de 8,3 por cento, ante 7,1 por cento em 2008.
No ano passado, indústria e setor agrícola foram os que mais perderam postos de trabalho. Nas regiões Norte e Nordeste, a taxa de desemprego subiu de 6,5 para 8,6 por cento e de 7,5 para 8,9 por cento, respectivamente.
"Os mais jovens são sempre os mais penalizados e, em mercados menos estruturados como esses, é natural que com uma crise o efeito seja maior", avaliou Cimar Pereira Azeredo.
RENDIMENTO EM ALTA
Apesar do aumento da desocupação e da taxa média de desemprego, o comportamento do mercado de trabalho em um ano de crise foi taxado como positivo pelo IBGE. Além do aumento do emprego com carteira, houve em 2009 expansão do rendimento e do índice de Gini (indicador usado para medição da desigualdade).
"Pode-se dizer que houve mais qualidade no mercado de trabalho ou manutenção dela', afirmou Quintslr.
O índice de Gini medido pelo IBGE manteve a tendência de queda em 2009, ficando em 0,518 ante 0,521 em 2008.
Quanto mais perto de zero, menor é o nível de desigualdade de um país, segundo critérios internacionais. O indicador baixou em todas as regiões com exceção da Norte.
Mesmo assim, de acordo com o IBGE, os 10 por cento mais ricos concentravam no ano passado 42,5 por cento dos rendimentos totais do trabalho, enquanto os 10 por cento mais pobres detinham apenas 1,2 por cento das remunerações.
O rendimento do trabalhador brasileiro com 10 anos de idade ou mais avançou 2,2 por cento entre 2008 e 2009 e foi estimado em 1.106 reais.
Apesar da expansão, o país ainda não conseguiu recuperar as perdas acumuladas em 13 anos. O recorde foi registrado em 1996, quando o salário do trabalhador bateu 1.144 reais.
"Ao longo da história da PNAD houve diversos planos econômicos. Entre as idas e vindas de planos que provocam ganhos e perdas, a recuperação da renda fica difícil. Houve ainda impacto de várias crise externas', avaliou Azeredo.
(Edição de Daniela Machado)
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