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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Extirpando qualquer pudor

BRUNO PONTES
16 DE SETEMBRO DE 2010

Meu artigo O Estado:

“Meu principal adversário político é de São Paulo. E veja se, quando eles [PSDB] tinham um presidente da República, ele [Serra] foi tratado com respeito e com a decência que eu dou a ele e dei a ele até agora. Porque é assim que eu sou, e a gente não muda depois de velho”.

Palavras do Estadista Global. Dias antes, apostando na debilidade mental dos eleitores (inegavelmente uma aposta segura), ele usara o 7 de setembro para acusar Serra de ser o candidato da turma anti-Brasil e de fazer oposição a todas as conquistas do povo, tal como Lula e seu partido passaram 20 anos se opondo a qualquer coisa que beneficiasse o país. O presidente também acusou Serra de “praticar um crime contra a mulher brasileira”. Ele personifica em Dilma Rousseff todas as mulheres deste país. Senti pena da minha mãe.

Caso os leitores tenham esquecido (já faz mais de uma semana), Lula se sentiu ultrajado porque Dilma foi acusada por Serra de envolvimento na violação do sigilo de gente ligada ao PSDB. Desesperado como ele só, o tucano teve o desplante de supor que um crime cometido por e para benefício dos petistas pode ter alguma relação com os petistas. Lula não poderia engolir a tese absurda e fez o que deveria ser feito: mandou a vítima calar a boca. O petismo vibrou.

Agora o Estadista Global renova os votos de apreço à democracia e reivindica, com respeito e decência, que a oposição seja extirpada da política. “Extirpar” é arrancar, destruir, eliminar. Fico imaginando Barack Obama num comício: “Precisamos extirpar o Partido Republicano”. Haveria imprensa para cair em cima do homem, protesto de rua, reação vigorosa dos republicanos etc. Mas o Brasil vive uma democracia especial, e não há o menor risco de a população e muito menos as classes letradas interpretarem a fala de Lula como a expressão do desejo de ver a oposição extirpada da política.

É fácil dizer que o povão é estúpido. É fácil e cai bem. Para a classe letrada, nada mais gratificante que exercitar a pose de superioridade, especialmente em tempo de eleição, quando sobram oportunidades para os chavões irritantes sobre ética, conscientização e responsabilidade social. Burra, presunçosa e ignorante de seu dever, é a classe letrada a responsável maior pelo estado das coisas no Brasil. Quando a elite dá de ombros e olha para o outro lado, os bárbaros tomam conta e derrubam a civilização. Mas não estamos falando de mero alheamento. É muito mais grave. O que se vê é a orgulhosa, altiva e nojenta cumplicidade na institucionalização do reino da mentira.

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