1 DE AGOSTO DE 2010
Em Santa Clara, na cerimônia de 26 de julho passado, ouviu-se os hinos de Cuba e Venezuela. Todo um símbolo. Outra vez Cubazuela ou Venecuba. Chávez e Fidel, com a aceitação relutante de um Raul que carece de poder para opor-se, ainda que esteja convencido de que Chávez é um cretino meio louco, e que não há explicação para seu irmão o amar, retomaram a idéia de unir os países em uma espécie de federação. A hipótese de ambos, de Hugo e de Fidel, é que as duas revoluções se necessitam mutuamente para sobreviver.
Por Carlos Alberto Montaner
Por Carlos Alberto Montaner
Para Chávez, Cuba é uma fonte inesgotável de inteligência policialesca, controle político e modelo administrativo. Nem mesmo tem que se esforçar para elaborar um discurso retórico, porque já o fabricaram em Havana há muitos anos sobre um velho script marxista-leninista: a agressiva rapina do império yanqui, o horror da ganância dos capitalistas, a miserável indiferença ante a pobreza que mostra o mercado, a luta dos oprimidos do mundo contra as oligarquias e o resto das idiotices ideológicas típicas da tribo.
A estas alturas, Chávez está ciente de que Cuba é um desastre econômico e absoluto do qual escapa todo aquele que pode, mas esse “pequeno” detalhe pesa muito menos que a imensa capacidade de sobrevivência que lhe aporta esse regime. O que lhe interessa é eternizar-se no poder e essa fórmula não há dúvida de que os Castros a possuem. O fato do empobrecimento progressivo de seu país carece de importância se ele conseguir envelhecer na poltrona presidencial. Afinal de contas, Fidel também construiu uma estratégia infalível para enfrentar a catástrofe material: negá-la, por um lado, enquanto por outro louva a frugalidade e condena o consumismo. Basta fechar os olhos e instalar-se comodamente em um discurso benevolente sobre as crianças que são educadas e os doentes que são curados, fustigando ao mesmo tempo a cobiça dos países que consomem os escassos recursos do planeta. De repente, ser e viver como um mendigo converte-se em uma virtude exemplar.
Para Fidel, Hugo Chávez e a Venezuela são a garantia de que a revolução cubana irá perdurar depois de sua morte. Fidel não confia nas condições de Raúl. Sabe que ele é leal e competente, mas incapaz de sonhar grande. Raúl não é um visionário. Não tem visões grandiosas nem ouve as vozes da história. Falta-lhe esse glorioso toque megalomaníaco, com acentos paranóicos, que caracteriza os grandes revolucionários. Raúl não quer mudar o mundo, senão as vacas. Pretende coisas tão simples como que as crianças possam ter acesso a um copo de leite, depois de sete anos. Puras ordinarices
Além disso, é claro, está o argumento dos petrodólares. A Venezuela, assim como a URSS, serve para custear a ineficiência do sistema. O regime hoje pode seguir sendo minuciosamente improdutivo, porque essa incapacidade é subsidiada pelos venezuelanos de várias maneiras: enviando petróleo que não é cobrado nunca, pagando quantias astronômicas por serviços não prestados, ou que são mal prestados, menos os policialescos, e utilizando Cuba para triangular as compras. A Venezuela, por exemplo, necessita de uma perfuradora para extrair petróleo ou de um milhão de quilos de leite, e faz o pedido às companhias-fantasmas cubanas a um preço descomunal. Essas empresas, por sua vez, adquirem os produtos no mercado internacional a um custo razoável e deixam os imensos ganhos na ilha. Em quase todos os países do mundo isto se chama fraude. Para Chávez e para Fidel são apenas exemplos de solidariedade internacional pagas pelos sofridos venezuelanos.
O interessante dessa fusão progressiva entre os dois países é que ambos também duplicam as zonas de risco. Os cubanos sabem que o esgotado regime dos Castros pende e depende de um tênue fio biológico que sustenta os dois anciãos valetudinários, enquanto os venezuelanos não ignoram que Chávez só tem o apoio firme de uns 30% da população e a crescente rejeição do resto do país, relação de forças que pode desembocar em sua saída do poder. Qualquer dos dois governos que entre em crise vai arrastar o outro para a destruição. Seguro.
– Tradução do FiladaSopa (Arthur)
– Tradução do FiladaSopa (Arthur)
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