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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Helen Thomas, Turquia e a Liberação de Israel

MÍDIA A MAIS

 por Victor Davis Hanson em 1 de julho de 2010


Helen Thomas
Édifícil ser muito mais influente que o decano do corpo de imprensa da Casa Branca, a quem é dado assento cerimonial na primeira fileira em coletivas de imprensa. Então, quando Helen Thomas [*] sugeriu que os israelenses deveriam deixar seu país e irem “para casa” na Polônia e Alemanha, isso não foi dito por uma obscura e excêntrica anti-semita, mas por uma esquerdista considerada insider que passou a gozar de um status icônico e de certa isenção de críticas.
Note que a Sra. Thomas não pediu apenas por uma Margem Ocidental livre de judeus. E ela não pediu apenas pela eliminação da nação de Israel em si. Mais propriamente, Thomas antevê a partida de israelenses para os locais dos principais campos de concentração de setenta anos atrás, onde seis milhões de judeus foram assassinados em câmaras de gás.
O papel da Turquia em ajudar e encorajar a flotilha, e seus subsequentes ataques contra os israelenses, foi excessivo mesmo pelos padrões muitas vezes doentios do Oriente Médio – mas não exatamente novos. A televisão turca, controlada pelo Estado, levou ao ar dramas anti-semitas virulentos como Valley of The Wolves de 2006, no qual um médico judeu rouba órgãos de civis iraquianos capturados. O antigo Primeiro Ministro turco, Necmettin Erbakan chegou a alegar que judeus instigaram a Primeira Guerra Mundial com intuito de criar Israel. Erbakan ainda declarou, em explosiva prosa hitleriana, que Israel é uma “doença” e uma “bactéria” que precisa ser erradicada. O atual primeiro ministro, Recep Tayyip Erdogan, fala sobre enviar a frota turca para confrontar o bloqueio israelense, diz que está cansado das mentiras israelenses e ameaça dizendo que sua nova Turquia não é “uma nação jovem e sem raízes”, como Israel presumidamente é (note as palavras chave “sem-raízes”). Assim fala nosso aliado na OTAN e aquele que deseja integração na UE. Esta semana, em reação a críticas do Ocidente, Erdogan rotulou tais preocupações como “propaganda suja” – preste bem atenção, não só propaganda, mas aquela de um tipo “sujo”.
De maneira peculiar, as sugestões doentias de Thomas e a nova política externa turca, islamista e veementemente contra Israel, trarão um efeito liberalizante para Israel. Afinal de contas, se a chefe cerimonial do corpo de imprensa da Casa Branca deseja os cidadãos de Israel ou mortos ou fora de sua nação, existe uma suspeita legítima de que as coisas não estão muito certas na capital do mais leal aliado de Israel. E se o país muçulmano mais secular, democrático e ocidental no Oriente Médio, deseja provocar um confronto para comprovar sua lealdade com o mundo muçulmano, então não há muita esperança de que Israel irá persuadir mais alguém na região.  
O anti-semitismo demonstrado tanto por Thomas quanto por líderes turcos não é baseado em criticar Israel, muito menos em discordar de sua política externa. Em vez disso, está dependente em se focar singularmente no comportamento israelense e aplicar a ele padrões que nunca são estendidos a quaisquer outras nações.
Existem diversas disputas fronteiriças e territoriais no mundo. Mas para Helen Thomas ou para o governo turco, a Caxemira ou a fronteira russo-chinesa pouco importam – mesmo que as chances de uma escalada nuclear nestes confrontos sejam muito maiores do que na Margem Ocidental.  Alguma vez Thomas deixou escapar, “Por que esses chineses não caem fora logo do Tibete?” ou “Por que esses indianos não saem da Caxemira?”.
Os “refugiados” palestinos – a maioria dos quais são filhos, netos ou bisnetos das pessoas que realmente foram deslocadas em 1948 – compõem uma pequena parte da população mundial de refugiados. Há três milhões de refugiados em Ruanda, no Congo e em Darfur. Muito mais do que meio milhão de judeus foram etnicamente varridos das principais capitais árabes entre 1947 e 1973, cada onda de expulsões erguendo-se após uma guerra específica no Oriente Médio.
Novamente, poucos se preocupam em se manifestar contra os apuros de qualquer uma dessas pessoas. O Primeiro Ministro Erdogan não conduziu nenhum esforço global para realocar os milhões de famintos em Darfur, apesar de sua forte preocupação com os “refugiados” em Gaza. Os Estados Unidos concedem muito mais milhões de dólares em ajuda aos palestinos do que seu protetor muçulmano na Turquia, que poupa dinheiro ao obter apoio palestino praticando, de forma mais barata, o anti-semitismo. Muito menos já ouvi falar sobre um homem bomba alemão, explodindo-se sobre um território ancestral perdido em Danzig ou no Leste da Prússia, mesmo que essa terra tenha sido perdida na mesma época em que alguns palestinos deixaram Israel. Poucos se preocupam que em 1949, dezenas de milhares de japoneses foram expulsos à força pela União Soviética da ilha Sacalina.
Da mesma forma, o mundo pouco se importa com o conceito de “ocupação” no abstrato; é apenas o exemplo concreto da Palestina que recebe seu opróbrio. Podemos ter certeza que o Presidente Obama não mencionará a Ossétia com o Presidente Putin. Ele não levantará a questão do Tibete com os chineses ou da ocupação de Chipre com o Primeiro Ministro Erdogan. Será que algum dia Helen Thomas vai perguntar, “Como a Turquia pode ter a permissão de manter Nicosia uma cidade dividida?”. Será que ela se preocupará se gregos têm autorização para comprar propriedades no setor turco daquela capital?
Não há nenhum grito europeu em protesto contra o massacre de sul-coreanos, torpedeados por um navio norte-coreano. Não me lembro do Presidente Sarkozy deliberar fortemente sobre essa questão moral específica. A ONU está  mais irritada com Israel por não levantar seu bloqueio naval contra seu vizinho terrorista do que está irritada com a Somália por permitir que piratas matem e roubem ao longo de sua costa marítima. Não houve muitos gritos em protesto ao redor do mundo quando o Irã sequestrou um navio britânico; poucos na Turquia manifestaram-se quando a França explodiu um navio de protesto do Greenpeace.
“Desproporcional” é o termo usado para condenar a retaliação israelense. O termo não se aplica a outras represálias muito mais violentas, como a repressão russa em Grozny, ou os assassinatos de curdos pelos turcos, ou as ocasionais manifestações e assassinatos em massa praticados por hindus contra muçulmanos na Índia.   Será que o Primeiro Ministro Erdogan gostaria de permitir que “ativistas da paz” entrevistassem curdos detidos em suas prisões, ou que adjudicassem a situação de figuras religiosas curdas, armênias ou cristãs que vivem na Turquia? Conseguimos imaginar uma flotilha da paz de esquerdistas suecos e britânicos navegando em direção ao Chipre para “liberar” territórios gregos ou investigar o “desaparecimento” de milhares de gregos em 1974? E se eles fizessem isso, o que lhes aconteceria? O mesmo que aconteceria se tentassem bloquear uma estrada para interditar uma coluna turca blindada seguindo para o Curdistão.
Nem as violações de direitos humanos significam muito mais atualmente. O Irã executa mais de seus próprios cidadãos a cada ano do que Israel já matou palestinos ao longo de guerras em qualquer ano. A Síria assassina a todos que deseja no Líbano sem se preocupar que qualquer instituição internacional condenará suas ações. Já escutei muito sobre o “massacre” ou “assassinato em massa” em Jenin, onde 52 palestinos e 23 israelenses morreram. Realmente, o filme propagandístico de 2002 Jenin, Jenin foi um grande sucesso nos campi das faculdades. Mas eu nunca vi um documentário Hama, Hama recordando o verdadeiro massacre, em 1982, de algo em torno de 10.000 a 40.000 civis pelo criminoso regime de Assad na Síria, com o qual nós agora queremos avidamente restaurar ligações. Eu acredito que uma regra de fatalidades de 1.000-para-1 geralmente se aplica: Cada pessoa morta pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) assegura mais ou menos tanta atenção mundial quanto 1.000 pessoas mortas por africanos, russos, chineses ou árabes.
Eu acreditava que o petróleo, a demografia árabe, o medo do terrorismo islâmico e a reação negativa de sua firme associação com os Estados Unidos explicavam o padrão duplo global que é aplicado a Israel. Mas após a histeria sobra a Flotilha de Gaza, os gritos em protestos de vários membros do governo turco e as francas revelações da Sra. Thomas, eu acho que o ódio raivoso por Israel é mais ou menos por que é um estado judeu. Ponto.
Deixem-me explicar. Intelectuais costumavam condenar amplamente o anti-semitismo porque era largamente associado a aquelas pessoas supostamente menos sofisticadas, frequentemente com inclinações políticas de direita, as quais por fundamentos raciais, nacionalistas ou religiosos viam o povo judeu como indesejável. Odiar judeus era um sinal de chauvinismo grosseiro ou de uma mente conspiratória que transparecia inveja e ciúmes dos mais bem sucedidos.
Mas especialmente nas últimas duas décadas, a esquerda mundial transformou o anti-semitismo em posição respeitável nos círculos intelectuais. A natureza fascista de diversos grupos de liberação palestinos foi esquecida, enquanto os palestinos “ocupados” adicionaram sua causa às dos negros americanos, mexicano-americanos e asiático-americanos. Difamar judeus pós-holocausto ainda era um golpe baixo, mas maldizer a nação-estado de Israel como imperialista e opressiva era considerado fundamentado. Ninguém nunca se preocupou em perguntar: Por que Israel e não outros exemplos mais ilustres? Em outras palavras, agora se podia focar desordenadamente nos judeus, enfatizando que suas críticas eram baseadas em questões cósmicas de direitos humanos e justiça. E ao difamar a nação de Israel, podia-se extravasar seu desapreço pelos judeus sem se sujar com o tradicional rótulo de grosseiro anti-semita.
Portanto, uma anti-semita preconceituosa como Helen Thomas pôde navegar perfeitamente bem por dentre os escalões mais elevados da sociedade em Washington, jorrando seu ódio a Israel, visto que sua animosidade era supostamente contra as políticas israelenses e não contra aqueles que as estabeleciam. Apenas uma observação inadvertida finalmente revelou que seus sentimentos não eram de uma raiva que surgiu por uma disputa territorial, mas de  uma fúria sobre a natureza de um povo inteiro, que deveria ser deportado para os locais do Holocausto.
Finalmente, como eu disse, tudo isto pode ter um efeito incomum em liberar Israel. Nós sabemos, neste momento, que qualquer coisa que Israel faça, o mundo ou ao menos as proeminentes figuras políticas e midiáticas, irão maldizê-lo. Seu padrinho de longa data, os Estados Unidos, não veem muita diferença agora entre suas realizações democráticas e as autocracias ao seu redor, as quais nós agora estamos ou subsidiando ou cortejando. Como resultado, os censores globais perderam influência com Israel, uma vez que provaram serem juízes patéticos do certo e errado quando Israel está envolvido.
Os israelenses já devem ter deduzido que quer eles ajam temporariamente ou definitivamente, a reação negativa será a mesma. Portanto, por que não projetar a imagem de um país forte e que não se desculpa para um mundo, que perdeu completamente seus limites morais e é mais suscetível a respeitar a força de Israel do que sua antiga preocupação em atingir um impossível padrão global?
É estranho que quanto mais os ativistas, os líderes políticos e figuras da mídia determinem restrições morais a Israel, mais eles provem quão humilhantemente amorais são. E quanto mais eles procuram pressionar Israel, mais eles o estão liberando a fazer o que sente que deve.


Tradução: Roberto Ferraracio
[*] NTHelen Thomas foi uma correspondente jornalística na Casa Branca desde a presidência de Eisenhower. Presidente e líder do corpo de imprensa na Casa Branca, Helen tinha o privilégio de ocupar poltronas na primeira fileira das salas de imprensa. Ultimamente trabalhava para a Hearst Corporation como colunista. Em 27 de maio de 2010, após a comemoração do Dia da Herança Judaica na Casa Branca, durante uma conversa com o rabino David Nesenoff, Helen Thomas, questionada sobre a situação de Israel disse: “Diga-os para saírem “logo” da Palestina”, quando lhe perguntaram para onde os israelenses deveriam ir, ela completou “Casa” para “Polônia, Alemanha,... América e para qualquer outro lugar. Por que expulsar as pessoas de lá, que viveram lá durante séculos?”. A controvérsia gerada por essa declaração forçou-a a se aposentar, demitindo-se da Hearst. Helen publicou em seu site pessoal “Eu me arrependo profundamente de meus comentários da semana passada em relação aos israelenses e palestinos. Estes comentários não refletem minha crença sincera de que a paz chegará ao Oriente Médio apenas quando todos os lados reconhecerem a necessidade de respeito e tolerância mútuos. Que esse dia chegue logo.”

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