Patrícia Campos Mello,
Correspondente Washington
O venda dos caças F-18 da Boeing à Força Aérea Brasileira aproximará os governos dos Estados Unidos e do Brasil e tornará a relação estratégica entre os dois países mais dinâmica e profunda. Esse foi o recado passado pela subsecretária de Estado para Controle de Armas e Segurança Internacional, Ellen Tauscher. "É uma grande oportunidade de aprofundar nosso relacionamento com o Brasil", disse Tauscher, que se reporta diretamente à secretária Hillary Clinton e esteve no Brasil em agosto para entregar ao governo brasileiro a carta da secretária.
"O mais importante desse acordo é nosso relacionamento com o povo brasileiro e o governo brasileiro", disse Tauscher, em entrevista ao Estado. Comentando a vantagem que os franceses, fabricantes dos caças Rafale da Dassault, teriam na disputa, Tauscher afirmou: "Não estamos confusos sobre o que oferecemos; ainda temos o melhor avião, a maior empresa aeroespacial do mundo e ainda somos os Estados Unidos da América; acreditamos que, no fim, esses são os parâmetros."
Segundo ela, a secretária de Estado, Hillary Clinton, o secretário de Defesa, Robert Gates, e o presidente americano, Barack Obama, estão pessoalmente empenhados nessa venda. "Francamente, seria uma pena (o Brasil) não levar o melhor avião e a melhor oportunidade."
Abaixo, trechos da entrevista concedida ao Estado.
Ellen Tauscher: subsecretária de Estado para
Controle de Armas e Segurança Internacional dos EUA
O governo brasileiro está finalizando o processo de escolha dos 36 caças que serão comprados pela Força Aérea. Por que o Brasil deveria comprar os F-18 fabricados pela Boeing?
Porque é o melhor avião, com a melhor tecnologia, transferência completa. O presidente Barack Obama está empenhado na venda e é uma oportunidade de aprofundar o relacionamento com o Brasil.
Quais são os próximos passos do ponto de vista dos EUA?
Nós esperamos ser escolhidos.
Mas o governo brasileiro já indicou várias vezes que os franceses têm vantagem....
Veja, não estamos confusos sobre o que oferecemos. Ainda temos o melhor avião, a maior empresa aeroespacial do mundo e ainda somos os Estados Unidos da América. Acreditamos que, no fim, esses são os parâmetros, e nós temos boa chance de ganhar.
O governo brasileiro tem preocupações em relação à transferência de tecnologia. O Brasil teve uma má experiência quatro anos atrás envolvendo a venda dos Super Tucanos para a Venezuela - os aviões da Embraer tinham tecnologia americana sensível e os EUA vetaram a venda. O governo americano pode garantir que isso não vai se repetir?
Esse é um novo governo e uma nova venda. Nós garantimos a transferência. Essa é uma oferta sem precedentes de transferência de tecnologia.
Por que é sem precedentes?
Porque inclui maior transferência do que estava previsto originalmente. Mas o mais importante desse acordo é nosso relacionamento com o povo brasileiro e o governo brasileiro. A Boeing é a maior empresa aeroespacial do mundo, há oportunidade de gerar empregos bem além da produção desses 36 jatos. Isso significa conectar a Embraer e o Brasil à maior rede de produção de aviões do mundo. Tivemos o secretário de Defesa, Robert Gates, a secretária Hillary Clinton e até o presidente Barack Obama empenhados. Isso vai aproximar os dois governos.
Os suecos (fabricantes do jato Gripen, da Saab) e os franceses melhoraram suas propostas, oferecendo mais contratos para o Brasil.
Aposto que eles fizeram, é difícil competir com os EUA.
Sim, mas então, há alguma coisa mais que vocês oferecem?
Os Estados unidos acreditam que esse é o início de uma relação muito importante em um grande mercado.
Existe alguma chance de o Congresso americano interferir na transferência de tecnologia?
Eles não podem interferir. O Congresso americano teria de passar uma lei para bloquear a transferência de tecnologia e, como o Executivo quer aprofundar o relacionamento com o Brasil, isso não vai acontecer.
Para o relacionamento estratégico entre o Brasil e os Estados Unidos, qual é o significado da venda dos caças?
Nós temos uma relação muito forte com o Brasil, compartilhamos valores e interesses. O sentido do acordo é assegurar que esse relacionamento se torne mais profundo e mais dinâmico.
Os EUA ficariam decepcionados se não ganhassem a concorrência?
Claro que sim. Mas sabemos que há várias razões para as pessoas tomarem decisões, que não são a qualidade do produto e os detalhes específicos do acordo. Nos méritos do acordo, nós temos o melhor avião, a melhor transferência e a melhor parceria estratégica. Nós vamos continuar amigos do Brasil se não ganharmos, mas, francamente, seria uma pena o Brasil não levar o melhor avião e a melhor oportunidade.
***
Encontro entre Boeing e indústria brasileira reafirma Super Hornet como solução de melhor valor
SÃO PAULO, 15 de Setembro, 2009 – A Boeing Company [NYSE: BA] iniciou hoje, em São Paulo, dois dias de conferências com 140 fornecedores e parceiros em potencial, reafirmando seu compromisso em cumprir plenamente, com seu Super Hornet, todos os requisitos brasileiros especificados na concorrência de caças F-X2.
“Estamos confiantes que a nossa oferta representa a solução de melhor valor para o Brasil, proporcionando a mais avançada tecnologia disponível, superior e comprovado sistema de apoio logístico e preço que é consideravelmente mais baixo que aquele apresentado pelo Rafale”, disse Bob Gower, vice-presidente da Boeing para o programa F/A-18E/F.
Foi dado aos concorrentes até 18 de setembro para melhorar suas ofertas, e a Boeing está examinando todas as alternativas.
Em agosto, a Boeing entregou à Força Aérea Brasileira uma proposta que incluía plena transferência de tecnologia. A proposta já contemplava a opção de co-produzir o Super Hornet no Brasil e o compartilhamento de tecnologia, o que permitiria ao Brasil integrar suas próprias armas.
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos, bem como o Departamento de Estado e o Congresso daquele país, deram plena autorização e apoio à venda do Super Hornet ao Brasil.
“O governo dos Estados Unidos aplicou medidas sem precedentes para dar apoio a essa oportunidade, tanto em termos de acelerar a velocidade normal do processo de aprovação, como ao apoiar os objetivos brasileiros quanto à autonomia nacional”, disse Gower.
Durante a conferência, líderes da gerência de fornecedores da Boeing se reunirão com representantes de empresas brasileiras para discutir as certificações e requisitos necessários ao empreendimento de negócios com a Boeing, e ainda obter melhor visão dos padrões e das complexidades peculiares à condução de negócios internacionais na indústria aeroespacial.
“O objetivo da Boeing é montar uma rede de fornecedores que representem o que há de melhor na indústria, e nós vislumbramos oportunidades promissoras no Brasil”, disse Ron Shelley, vice-presidente de Abastecimento Global e Gerência de Fornecedores da Boeing Integrated Defense Systems. “As oportunidades para as empresas do maior país da América Latina vão muito além da concorrência F-X2, estendendo-se para todas as áreas de negócios da Boeing”.
A Boeing conta com um índice de 100% de sucesso na condução de seus programas de cooperação industrial em quase 40 países. Ela já concluiu obrigações, dentro ou antes do prazo, que ultrapassam a marca de US$ 31 bilhões. Hoje em curso, a Boeing conta com mais de 45 programas industriais em mais de 17 países, cujos valores representam outros US$ 13 bilhões distribuídos entre mais de uma dúzia de produtos da Boeing.
Unidade pertencente à The Boeing Company, a Boeing Integrated Defense Systems é uma das maiores empresas do setor de defesa e espacial, especializando-se em soluções inovadoras e de realçada capacidade de acordo com as necessidades de seus clientes. Ademais, é o maior e mais versátil fabricante de aeronaves militares do mundo. Sediada em St. Louis, a Boeing Integrated Defense Systems detém negócios avaliados em US$ 32 bilhões, contando ainda com 70.000 funcionários distribuídos por todo o mundo.
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