22 de março de 2009
“O estandarte do sanatório geral vai passar”.
Chico Buarque de Holanda
O primeiro-ministro da Inglaterra, Gordon Brown, concedeu entrevista às páginas amarelas da revista Veja que chegou ás bancas. Quero aqui, meu caro leitor, explorar alguns pontos da entrevista do político britânico, que são emblemáticos para se entender a cegueira que tomou conta de praticamente todos os dirigentes do mundo. Essa entrevista reflete não uma mera visão político-partidária, mas sobretudo a cegueira predominante no meio acadêmico bem pensante.
Para ilustrar esse fato, informo que acabei de escrever a resenha de um livro de um compatriota de Brown, John Gray (MISSA NEGRA – Religião Apocalíptica e o Fim das Utopias, Editora Record, 2007), que será publicada proximamente. Ali está o suporte teórico, se podemos chamar a essa xaropada ideológica esquerdista de teoria, a base sobre a qual o primeiro-ministro se apóia para descrever seu proceder político diante da crise. John Gray será certamente o seu guru em ciência política.
Vamos à entrevista. Perguntou o repórter a Gondon Brown: O que a Europa está fazendo para sair da crise?Resposta: “A União Européia tem um papel-chave a desempenhar nos preparativos para a Cúpula de Londres. Três meses atrás, os 27 países-membros do grupo concordaram em dar uma resposta coordenada à crise, agindo com rapidez para aumentar os gastos e acelerar as reformas. Trata-se, sobretudo, de ações nas áreas de educação, emprego, eficiência energética e infraestrutura digital. Esse tipo de política é crucial. Quando os países atuam de forma unida, o impacto nos negócios e na confiança do consumidor é muito maior do que quando agem separadamente”.
Veja, meu caro leitor, a candidez tonta da resposta. A crise é a expressão do fracasso do Estado gigante que se sobrepôs ao livre mercado. A Inglaterra, como de resto a Europa do Euro, somados a carga tributária e o déficit público terá algo próximo a 50% do PIB abocanhado pelo Estado. Uma insanidade sob todos os aspectos. Essasobrepresença do Estado na economia e na regulação da vida privada foi alargada agora com a nacionalização dos bancos falidos. Deus saberá quanto está a representar o Estado no Produto daquele país agora. Lembro que a mídia esquerdista mundial elogiou muito o primeiro-ministro britânico pela suposta “coragem” no seu gesto de nacionalizar os bancos, como se coragem houvesse nisso, e não a pura e simples loucura de achar que o Estado tem poderes mágicos para eliminar os riscos existenciais. Brown levou o receituário keynesiano ao limite da demência. Sua condição é de caso psiquiátrico. Brown é o abre-ala da turma do sanatório geral de que nos fala a canção do Chico Buarque.
O único antídoto racional contra a crise é precisamente desinflar o Estado e pôr as legiões de vagabundos remunerados pelo Estado a trabalhar. A volta da economia natural. E o que o primeiro-ministro nos informa? Que está “agindo com rapidez para aumentar os gastos e acelerar as reformas”. Apagando fogo com gasolina. Essa fé cega na ação do Estado vai precipitar a economia mundial na maior tragédia econômica de todos os tempos, sob os aplausos da mídia e das massas estúpidas, tornadas clientes do Estado.
Um segundo ponto eu quero aqui sublinhar. Pergunta: O governo britânico gastou bilhões de libras para salvar os bancos nacionais. Medidas com perfil estatizante como essa sinalizariam o fracasso do capitalismo e do livre mercado? Resposta: “Acredito firmemente que as economias baseadas no livre mercado oferecem melhorias reais no padrão de vida das pessoas. Seria um erro grosseiro desistir desse modelo apenas por causa da crise econômica. Os problemas com que estamos lidando, porém, podem reforçar a necessidade de uma regulação mais efetiva dos mercados financeiros para que consigam funcionar adequadamene e produzir crescimento econômico. Os mercados devem ser livres, mas não podem ser livres de valores éticos. O governo britânico interveio no setor bancário para garantir que ele continue a apoiar as famílias e os empresários. Os bancos têm de prover as fundações para que a economia possa crescer no futuro. Isso é algo com que o presidente Lula e eu concordamos firmemente, e devemos conversar sobre o assunto durante minha visita”.
A resposta começa com a tradicional profissão de fé no mercado, eco do passado são que ainda se expressa como chiste de linguagem, enquanto o portador do discurso age no sentido oposto, em ato de loucura explícita. O descolamento do discurso da ação do sujeito é coisa de maluco. “Os mercados devem ser livres, mas não podem ser livres de valores éticos”. Veja, caro leitor, o salto lógico que ele faz aqui, que é culpar a vítima (os agentes econômicos privados) pela crise, por causa de sua suposta falta de ética. Implícita aqui a capacidade de o Estado aperfeiçoar a humanidade, como se o Estado, a podridão humana cristalizada e amplificada pelo poder de polícia, tivesse condições de dar lições de moral a quem quer que seja. Um agente político como Gordon Brown carrega em si todos os pecados do mundo e se arvora no legislador da moralidade privada.
Obviamente ele se vale de um recurso sofistico para justificar o injustificável. Como não há motivação econômica para a ampliação do Estado, então ele vai buscar uma justificativa ética. Coisa de malandros coletivistas, recurso usado no passado por Roosevelt, outro que dava a si mesmo o apelido de “progressista”. Ou Hitler, que queria purificar a humanidade. Ou Stalin, que queria o mesmo, sem o conteúdo racista. Pergunta: Como o senhor se define ideologicamente? Resposta: “Sempre fui um progressista. Um membro do governo deve se perguntar a todo momento o que ainda pode fazer para melhorar a vida das pessoas comuns. Temos a obrigação de promover prosperidade e crescimento econômico e ao mesmo tempo construir uma sociedade mais justa. Quando deparamos com uma crise econômica como a atual, essa postura fica mais importante do que nunca. Se olharmos para o passado, para os momentos de instabilidade, veremos que foram os pobres, os idosos e os trabalhadores comuns que sempre pagaram o preço mais alto pelas crises. Eles são sempre a parte mais vulnerável. Nessa ocasião, temos o dever de pôr esses grupos em primeiro lugar e protegê-los dos piores e mais prolongados efeitos da crise”. Gordon Brown declara-se um servo das massas estúpidas, um charlatão adulador das multidões irracionais.
É esse o grande perigo em que vivemos, meu caro leitor: o de vermos os loucos transformados em chefes de Estado. “O estandarte do sanatório geral vai passar?”. Creio que não antes de uma violência política como nunca vista antes, necessária para devolver os loucos ao manicômio.
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