Quarta-feira, Dezembro 10, 2008
No artigo A Elite que Virou Massa, Olavo de Carvalho descreve o estado de coisas que vemos hoje no mundo e que Hilaire Belloc chamava escravidão. Vamos ao texto de Olavo. Transcrevo um trecho abaixo. Os negritos são meus (do Angueth).
“Em 1939, Eric Voegelin observava que as condições essenciais para a democracia, tal como haviam sido concebidas no século XVIII, já não existiam mais. De um lado, a economia e a administração pública tinham se tornado tão complexas que o cidadão comum já não preenchia as condições mínimas para formar uma opinião racional a respeito: sua razão refluíra para o círculo estreito das atividades profissionais e familiares, deixando suas escolhas políticas à mercê de apegos emocionais, desejos pueris, sonhos e fantasias que o tornavam presa fácil da propaganda totalitária. De outro lado, as novas classes surgidas na sociedade moderna – o proletariado urbano, o baixo funcionalismo público, os empregados de escritório – eram bem diferentes dos pequenos proprietários que criaram a democracia iluminista: eram exemplares do “homem massa” de Ortega y Gasset, menos inclinados à busca da independência pessoal do que a confiar-se cegamente à mágica do planejamento estatal e da disciplina coletiva. Tudo, no mundo, convidava ao totalitarismo.
“Passados setenta anos, a composição da sociedade tornou-se ainda mais vulnerável à manipulação totalitária. O advento de massas imensas de subempregados, dependentes em tudo da proteção estatal, somada à destruição da intelectualidade superior por meio da transformação global das universidades em centros de propaganda revolucionária, reduziu praticamente o eleitorado inteiro à condição de massa de manobra.”
Olavo segue enumerando as conseqüências da situação descrita acima para a democracia. Vale a pensa ler o artigo.
Vamos agora a Belloc. Em seu livro “As Grandes Heresias”[1], escrito em 1938, ele descreve uma das características do que ele chama de Ataque Moderno à Igreja Católica. É a volta da escravidão. Os negritos são meus (do Angueth).
“Em primeiro lugar, estamos testemunhando um renascimento da escravidão, o resultado necessário da negação da liberdade quando essa negação vai um passo além de Calvino e nega a responsabilidade perante Deus tanto quanto a falta de poder no interior do homem. Duas formas de escravidão que estão gradualmente aparecendo, e que amadurecerão mais e mais com o passar do tempo sob o efeito do ataque moderno contra a Fé, são a escravidão ao Estado e às corporações privadas e indivíduos.”
(...)
“Quando o papa reinante[2], em sua Encíclica[3] falou do homem reduzido “a uma condição não muito longe da escravidão”, ele quis dizer simplesmente o que foi dito acima. Quando as famílias num Estado não possuem propriedades, então aqueles que antes eram cidadãos, se tornam escravos. Quanto mais o Estado interfere para garantir condições de segurança e suficiência, quando mais regula os salários, provê seguro compulsório, plano de saúde, educação – em geral assumindo o controle da vida dos assalariados, em benefício das companhias e homens que empregam os assalariados – mais a condição de semi-escravidão é acentuada. E, se a situação continuar por, digamos, três gerações, ela se tornará tão completamente estabelecida como um hábito social e um padrão mental que não haverá dela escapatória nos países onde um Socialismo de Estado desse tipo tenha sido forjado e incrustado ao corpo político.
“Na Europa, a Inglaterra em particular (mas muitos outros países em menor grau) adotou esse sistema. Abaixo de certo nível salarial, um homem tem garantida uma subsistência mínima, caso perca o emprego. Um salário desemprego é dado a ele pelas autoridades públicas as custa da perda de sua dignidade humana. Cada circunstância de sua família é examinada; ele fica ainda mais nas mãos dessas autoridades, quando desempregado, do que estava nas mãos de seu empregador, quando empregado. A coisa está ainda em transição; a massa de homens ainda não percebeu para qual objetivo ela tende; mas o desprezo pela dignidade humana, a potencial, senão a real, negação da doutrina do livre arbítrio, tem levado, por uma conseqüência natural, ao que são as instituições semi-servis. Estas se tornarão totalmente servis com o tempo.
“Contra o mal do sistema salário-escravidão, há tempos foi proposto, e já está agora em pleno funcionamento, certo remédio. Seu nome mais breve é comunismo: escravidão ao Estado, muito mais avançada e integral do que a primeira forma, escravidão ao capitalismo.”
Como se vê, Olavo (e também Eric Voegelin) e Belloc se aproximam do assunto de perspectivas diferentes. Belloc toma como ponto de partida o fato de o Ataque Moderno ser uma heresia religiosa, contra a Igreja. Isso lhe dá um ângulo de visão diferente, mais profundo, mais elementar, mais radical. Vale pena ler o livro.
__________________________________________
[1] A ser publicado em 2009, pela Editora Permanência.
[2] Pio XI.
[3] Quadragesimo anno.
“Passados setenta anos, a composição da sociedade tornou-se ainda mais vulnerável à manipulação totalitária. O advento de massas imensas de subempregados, dependentes em tudo da proteção estatal, somada à destruição da intelectualidade superior por meio da transformação global das universidades em centros de propaganda revolucionária, reduziu praticamente o eleitorado inteiro à condição de massa de manobra.”
Olavo segue enumerando as conseqüências da situação descrita acima para a democracia. Vale a pensa ler o artigo.
Vamos agora a Belloc. Em seu livro “As Grandes Heresias”[1], escrito em 1938, ele descreve uma das características do que ele chama de Ataque Moderno à Igreja Católica. É a volta da escravidão. Os negritos são meus (do Angueth).
“Em primeiro lugar, estamos testemunhando um renascimento da escravidão, o resultado necessário da negação da liberdade quando essa negação vai um passo além de Calvino e nega a responsabilidade perante Deus tanto quanto a falta de poder no interior do homem. Duas formas de escravidão que estão gradualmente aparecendo, e que amadurecerão mais e mais com o passar do tempo sob o efeito do ataque moderno contra a Fé, são a escravidão ao Estado e às corporações privadas e indivíduos.”
(...)
“Quando o papa reinante[2], em sua Encíclica[3] falou do homem reduzido “a uma condição não muito longe da escravidão”, ele quis dizer simplesmente o que foi dito acima. Quando as famílias num Estado não possuem propriedades, então aqueles que antes eram cidadãos, se tornam escravos. Quanto mais o Estado interfere para garantir condições de segurança e suficiência, quando mais regula os salários, provê seguro compulsório, plano de saúde, educação – em geral assumindo o controle da vida dos assalariados, em benefício das companhias e homens que empregam os assalariados – mais a condição de semi-escravidão é acentuada. E, se a situação continuar por, digamos, três gerações, ela se tornará tão completamente estabelecida como um hábito social e um padrão mental que não haverá dela escapatória nos países onde um Socialismo de Estado desse tipo tenha sido forjado e incrustado ao corpo político.
“Na Europa, a Inglaterra em particular (mas muitos outros países em menor grau) adotou esse sistema. Abaixo de certo nível salarial, um homem tem garantida uma subsistência mínima, caso perca o emprego. Um salário desemprego é dado a ele pelas autoridades públicas as custa da perda de sua dignidade humana. Cada circunstância de sua família é examinada; ele fica ainda mais nas mãos dessas autoridades, quando desempregado, do que estava nas mãos de seu empregador, quando empregado. A coisa está ainda em transição; a massa de homens ainda não percebeu para qual objetivo ela tende; mas o desprezo pela dignidade humana, a potencial, senão a real, negação da doutrina do livre arbítrio, tem levado, por uma conseqüência natural, ao que são as instituições semi-servis. Estas se tornarão totalmente servis com o tempo.
“Contra o mal do sistema salário-escravidão, há tempos foi proposto, e já está agora em pleno funcionamento, certo remédio. Seu nome mais breve é comunismo: escravidão ao Estado, muito mais avançada e integral do que a primeira forma, escravidão ao capitalismo.”
Como se vê, Olavo (e também Eric Voegelin) e Belloc se aproximam do assunto de perspectivas diferentes. Belloc toma como ponto de partida o fato de o Ataque Moderno ser uma heresia religiosa, contra a Igreja. Isso lhe dá um ângulo de visão diferente, mais profundo, mais elementar, mais radical. Vale pena ler o livro.
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[1] A ser publicado em 2009, pela Editora Permanência.
[2] Pio XI.
[3] Quadragesimo anno.
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