Material essencial

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O mito da reciclagem

Do INSTITUTO LIBERDADE
Autor: Por Per Bylund *
Link: http://www.mises.org
Data de Publicação: 01/10/2008

Artigo Publicado no Mises Institute Daily Article

Como sueco, ouço muitos dos mitos sobre país fantástico a Suécia supostamente é – o socialismo próspero que representa, como um modelo para o resto do mundo. Por exemplo, uns quantos amigos ao redor do mundo comentaram comigo sobre as políticas de reciclagem e a posição coercitiva do governo sueco quanto à ecologia. Da forma que me foi apresentada, a Suécia conseguiu o que a maioria dos outros governos, na melhor das hipóteses, apenas sonha: criar um sistema nacional eficiente e lucrativo para salvar o ambiente através de reciclagem em larga escala. E que todo o povo está participando! Todos estão reciclando.

Esta última afirmativa é verdade: todos estão reciclando. Mas isto é o resultado da imposição do governo, não uma opção voluntária. O monopólio estatal do “serviço” de coleta de lixo não aceita mais lixo: só coletam restos de alimentos e outros biodegradáveis. Qualquer outro tipo de lixo que acidentalmente chegue a sua lata de lixo pode resultar numa bela pequena multa (que não é tão pequena assim) e toda a vizinhança poderá enfrentar aumentos na taxa de lixo (ou seja, aumentos ainda maiores que o usual – ela tende aumentar anual ou bi-anualmente de qualquer forma).

Assim, o que você faz com seu lixo? A maioria das casas tem um número de lixeiras para tipos diferentes de lixo: baterias num, biodegradáveis noutro, madeira num, vidro colorido noutro, outro tipo de vidro num, alumínio noutro, outros metais num, jornais noutro, papelão num, papéis que não se encaixam aí noutro e plásticos de todos os tipos numa outra coleção de lixeira. Os materiais geralmente têm que ser limpos antes de serem jogados fora – caixas de leite com leite dentro não podem ser reciclados, da mesma forma como latas com muito do papel das etiquetas também não. O povo da Suécia é, assim, forçado a limpar seu lixo antes de cuidadosamente separar em diferentes tipos de materiais. Este é o futuro, eles dizem, e isto é, supostamente, bom para o ambiente. (E o que acontece com a economia?).

Mas isto não acaba com o trabalho e com o espaço extras em casa, em todas as cozinhas ocupadas por uma variedade de lixeiras. O que você faz com o lixo que não é recolhido? O serviço de coleta (que, hoje em dia, não faz coleta muito seguido, normalmente a cada duas semanas ou mensalmente, mesmo que as taxas misteriosamente pareçam ser muito mais altas que antes) apenas aceita certos tipos de lixo, normalmente apenas restos de comida biodegradáveis. Mas não se preocupem, tudo está resolvido.

As autoridades estabeleceram centros de coleta de lixo na maioria dos bairros, onde você pode levar seu lixo. Estes “centros” oferecem numerosos contêineres onde você pode se livrar do lixo – há um contêiner dedicado para cada e todo o tipo de lixo e todos são organizadamente codificados por cores, para ajudá-lo a achar o certo. Mas isto significa que é melhor que você tenha seu alumínio separado de seus outros metais e seus jornais separados de seus papelões e outros papéis antes de chegar ali. Você não ia querer jogar fora caixas sujas de leite ou papéis misturados, ia?

Mas parece que é exatamente isto o que as pessoas fazem: trapaceiam se acham que é mais fácil. Então as autoridades reagiram tornando mais difícil a trapaça. A primeira medida foi redesenhar todos os contêineres de forma a dificultar a colocação do lixo “errado” neles. Por exemplo, os contêineres para vidros têm apenas aberturas pequenas e redondas, onde se colocam as garrafas, e os contêineres para papelão tem somente uma fenda, tipo das caixas de correios (você tem que achatar todas as caixas antes de reciclá-las – é a lei.).

Bem, isto não resolveu o problema. As pessoas continuaram trapaceando. E quanto mais as autoridades dificultavam a fraude, mais difícil ficava de se livrar de seu lixo, mesmo que você quisesse colocá-lo na lixeira certa. E as pessoas iam até estes centros e simplesmente colocavam tudo ao lado dos contêineres – por que se preocupar? As autoridades responderam nomeando “espiões de lixeiras” (!) pagos para registrar quem estava trapaceando para que os pudessem processar. (Aconteceram realmente alguns casos onde as pessoas foram processadas por não seguirem as leis da reciclagem.) Será que preciso dizer que isto também não funcionou? Depois de um forte debate na mídia, toda a espionagem nos centros de coleta foi abolida.

Mas a verdadeira questão aqui não é o quanto as autoridades ignoram o que motiva as ações humanas. Já temos muitos exemplos de que esta ignorância é muito grande. A questão é: esta estrutura de reciclagem funciona? A resposta é que, do ponto de vista do governo, enquanto podem, provavelmente, pensar que funciona, do ponto de vista do ambiente a resposta é, definitivamente, “não”.

A estrutura funciona da forma que funciona toda a estrutura planejada centralmente: aumenta e centraliza o poder enquanto os resultados esperados (tentados) não se materializam. Neste caso, a estrutura funciona: as pessoas separam seu lixo em lixeiras separadas – não têm escolha. Por outro lado, as empresas governamentais de coleta de lixo trabalham menos, enquanto recebem cada vez mais. As pessoas estão incomodadas, mas não reagem realmente. Os suecos geralmente reclamam muito (sobre tudo), mas não resistem; estão acostumadas a serem forçadas por um governo poderoso e têm tolerado este destino desde 1523.

Esta coercitiva estrutura de reciclagem está organizada em camadas, onde o consumidor (“produtor” de lixo) acaba fazendo a maior parte do trabalho de separação, limpeza e transporte do lixo até os centros de coleta. Empresas nomeadas pelo governo então esvaziam os contêineres e transportam o material para centros regionais onde o material é preparado para a reciclagem. Depois tudo é transportado para usinas de reciclagem onde o material é preparado para novo uso ou incinerado. Finalmente, o que sobra dos materiais é vendido a empresas e indivíduos, a preços subsidiados para que eles possam fazer opções “ambientalmente favoráveis”.

O que é interessante sobre esta reciclagem planejada no estilo soviético é que, oficialmente, ela é lucrativa. Supostamente é eficiente quanto a recursos, uma vez que reciclar materiais consume menos energia do que, por exemplo, mineração ou a produção de papel a partir da madeira. Também é economicamente lucrativa, uma vez que o governo acaba gerando receitas com a venda de materiais recicláveis e produtos produzidos no processo de reciclagem. O processo final de reciclagem custa menos do que o que é faturado com a venda de produtos reciclados.

Contudo, isto é a lógica usual de governos: é “eficiente” em energia pela simples razão de que o governo não conta o tempo e a energia usados por nove milhões de pessoas limpando e separando seu lixo. Autoridades do governo e pesquisadores chegaram à conclusão de que os custos de (a) água e a eletricidade usadas para limpar o lixo caseiro, (b) transporte dos centros de coleta de lixo e (c) processo final de reciclagem são realmente menores do que o necessário para produzir estes materiais desde o começo. É claro que eles não contam as, literalmente, milhões de vezes que as pessoas dirigem até os centros de recolhimento para esvaziar suas lixeiras; também não contam, por exemplo, os custos e a energia necessários para o espaço extra nas casas necessário para uma dúzia adicional de lixeiras em cada lar.

Economicamente, a reciclagem na Suécia é um desastre. Imagine toda uma população gastando tempo e dinheiro para limpar seu lixo e transportando-o pelo bairro, em vez de trabalhar ou investir num mercado produtivo! De acordo com as contas do governo, entra mais dinheiro do que sai, portanto a reciclagem é lucrativa. Mas isto ignora os custos da coerção. Os contadores do governo também tiram vantagem do corte de custos que eles conseguiram fazer ao centralizar o sistema de coleta. Estes cortes, contudo, são, na maioria, cortes nos serviços, enquanto as taxas para os consumidores têm aumentado. Um problema recente com os centros de coleta de lixo é que os contêineres não são esvaziados com muita freqüência (típico exemplo de “economias” governamentais) e assim ficam cheios, o que significa que o lixo da população se amontoa ao lado dos contêineres transbordantes, enquanto os terceirizados pelo governo ficam parados: eles são pagos apenas para esvaziar os contêineres nos dias programados, não para recolher o lixo ao lado destes. O resultado? Doenças e ratos. Os jornais têm relatado uma invasão de ratos em Estocolmo e em outras cidades suecas nos anos recentes.

Se considerarmos os custos em termos monetários, de tempo perdido e em termos de aumentos na emissão de gases dos automóveis, isto dificilmente é bom para o ambiente. Acrescentando a incomodação e o aumento no risco de doenças, o sistema sueco de reciclagem é no mínimo tão desastroso como qualquer outro plano governamental.

Isto é de se esperar, já que o sistema é muito autoritário no estilo, na estrutura e na gerência. Pode ser até de melhor tecnologia do que os sistemas soviéticos jamais foram, mas ainda é um sistema baseado em ordens do que uma escolha voluntária baseada no interesse ou no incentivo. Muito interessantemente, o sistema é socialista demais até para o jornal socialista número um da Suécia, Aftonbladet. Num editorial em 4 de janeiro de 2002, Lena Askling escreveu sobre o sistema público de coleta de lixo:

“Nós, consumidores, temos a obrigação de separar, fazer compostagem, empacotar, armazenar e transportar o lixo. Temos que suportar esta idiotice de armazenar lixo composto em pequenos recipientes nos apartamentos e casas e então transportar o mal cheiroso lixo com líquido vazando a coletores dedicados que parecem estar sempre transbordando. Por que, em nome de Deus, o governo não pode introduzir “incentivos de mercado” para estimular as indústrias e produtores a desenvolverem sistemas de racionais de embalagem e sistemas de remoção de lixo que permitam reciclagem, produção de energia e futura importação de receita? E talvez um aceitável sistema higiênico e pró-consumidor no lugar do atual caos de lixo e sujeira? Enquanto estou esperando, os ratos estão circulando pelo meu compartimento de lixo.”

Mesmo Askling, que escreve propaganda socialista para viver, sabe que o sistema sueco de recolhimento de lixo não funciona, e ela conclui que o sistema está precisando de “mais mercado”.

Por favor me esclareçam: onde está o tão aclamado sucesso deste sistema?

* Per Bylund é doutorando em economia pela University of Missouri e o fundador de Anarchism.net. Visite seu website em www.PerBylund.com ou seu blog (http://www.anarchism.net/) onde ele comenta sobre este artigo e mais.

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