Por Jorge Serrão na segunda-feira, agosto 11, 2008
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Machado de Assis, que era um sujeito muito vivo, defendia a tese de que “há coisas que melhor se dizem calando”. O conselho do sábio imortal serve, perfeitamente, para os revanchistas do desgoverno e para os militares da ativa ou da reserva. Todos já falaram o que pensaram sobre a questão da revisão da Lei de Anistia. A discussão, que nem deveria ter existido, agora ganha dimensões de crise institucionalizada ou “generalizada”. Sobrou para Lula, que teme ser o Boi (de piranha) nessa história.
Revanchistas x Legiões. O jogo deve terminar empatado. Estamos na Olim-piada. Sem graça. Afinal, no Brasil, depois de muito barulho e falação, tudo acaba em conciliação. E a embromação ideológica colabora para agravar o problema da tendência ao conchavo e à conivência com os erros do passado. Eis por que somos uma nação especializada em repetir velhos erros do passado, enquanto deixamos de cometer os acertos necessários ao nosso verdadeiro desenvolvimento como nação rica, próspera e divina.
Machado nos socorre com outra frase: “Matamos o tempo; o tempo nos enterra”. Continuamos perdendo tempo, no Brasil, com discussões estéreis. Desviamos do foco histórico e não tratamos do essencial. Não solucionamos nada. Nem propomos soluções. Só enxugamos gelo. Só remoemos o passado. Apenas repetimos velhos erros. Não cometemos novos acertos. Somos coniventes com as coisas erradas. E alguns cínicos ou caras-de-pau chamam isso de tolerância. Nada disto! Conivência não é sinônimo de tolerância.
A gente vai levando... Enquanto perdemos tempo com discussões ideológicas (como se fôssemos fanáticos e fundamentalistas torcedores de time de futebol), a Oligarquia Financeira Transnacional deita e rola sobre o Brasil. A banqueiragem e seus tentáculos corporativos e especulativos ampliam o seu domínio sobre nossa colônia. Menos por mérito deles. Mais por incompetência e conivência da nossa parte. Preferimos matar nosso tempo, enterrar nossa civilização, com idéias fora do lugar. Desta forma, asseguramos sempre nosso lugar como a eterna vanguarda do atraso.
“Bronca é ferramenta de otário”. Machado não teve tempo de proclamar tamanha lição de sabedoria. A frase é de um político baiano já falecido. Lembrava isso aos seus assessores, sempre que algum se exaltava e ameaçava perder tempo com conflitos inúteis, que não levariam a lugar algum. Bronca ideológica também é ferramenta de otário. As ideologias são meras formas de dominação. Existem. Devemos aceitá-las ou tolerá-las. Mas perder tempo brigando por elas é coisa de otário. Geralmente otário com nível superior. Aquele que tira onde de intelectual.
Voltamos à vaca maturada na frieza do debate inútil. O Brasil precisa superar a eterna briguinha ideológica entre as Legiões e a autoproclamada esquerda. Os primeiros tiveram a ilusão de que ganharam a guerra ideológica pós-64. Os outros alimentam a mesma ilusão de que são os vencedores pós-abertura lenta, gradual e segura. Sempre que pode um lado tripudia com o outro. E no meio de tanta cacofonia, o Brasil, oh...
E nessa guerra sem fim os dois lados ficam reféns do passado. Obliteram a visão no presente e não conseguem vislumbrar um futuro para o Brasil. Tornam-se prisioneiros de suas convicções ideológicas. Não compreendem – como nos ensinou G K Chesterton (1874-1936) – que “toda convicção é uma prisão”. Não conseguem entender a importância de se “Pensar Brasil”.
Os radicais ideológicos só pensam em golpe. Desrespeitam e desconsideram a Política (com P maiúsculo). Os extremistas não respeitam a democracia. Pelo contrário, demonstram total desapreço por ela, embora ainda tenham o cinismo de citá-la, sem conceituá-la devidamente. Ou por ignorância ou por pura filhadaputice. Aliás, os radicalóides nem sabem ou preferem nem saber que a democracia é a prática da segurança do Direito natural, através do exercício da razão pública, para a construção e consolidação da cidadania.
A questão é simples, curta e grossa. O Brasil precisa de algumas pré-condições para, um dia, se tornar um País Desenvolvido. Primeiro, é necessária uma mudança estrutural do Estado. Segundo, é urgente um investimento real em ensino básico de qualidade para formar cidadãos. Terceiro, é preciso investir em Política e Democracia. Isto para gerar um Núcleo Monolítico de Poder Ético, voltado para o Bem Comum e para o Pensar Brasil. Só com estes três elementos teremos a chance de desenvolver uma nova cultura política patriótica.
O pressuposto para começar tal trabalho é a Ética. Infelizmente, somos carentes dela no Brasil. Enquanto isto perdurar, o País será definido apenas como uma “É(ti)tica”. Ninguém merece sobreviver em uma “nação de merda”, sem ética. Por isso, precisamos da Ética para dar partida em qualquer projeto para o Brasil. Os radicalóides ideológicos estupram a ética. Tal como fazem com a democracia, por ignorância ou filhadaputice, rejeitam o conceito básico de que a ética é uma rigorosa avaliação consciente sobre o que é bom ou mal, envolvendo obediência aquilo que não é obrigatório.
A ética questiona e teoriza sobre o que é justo e apropriado ao agir humano, a fim de que ele possa realizar o bem. Os valores éticos são ligados ao respeito à pessoa humana tento em sua individualidade quanto em sua dimensão social. Quem atenta contra o bem comum, por exemplo, é anti-ético por essência. Quem se propõe a ser ético tem de praticar, respeitar e atender a três requisitos: a liberdade, a consciência e a norma. È fácil perceber que os radicalóides ideológicos sempre desrespeitam tais princípios. Às vezes, detonam todos eles ao mesmo tempo.
Retornamos à vaca atolada pela inútil e falsa polêmica ideológica. O Brasil não agüenta mais perder tempo com o extremismo, o radicalismo burro e o fundamentalismo ideológico. Ao longo de nossa mal contada História, as broncas ideológicas sempre se transformaram em perigosas ferramentas de otários. Nosso problema não é qual “ismo” pode mais.
O que precisamos saber e definir, com urgência, é que País queremos. Nunca fomos capazes de formular um projeto para o Brasil. Nunca dá tempo para isso. Matamos o tempo discutindo as preferências ideológicas. Nunca chegamos a qualquer conclusão. Nossos controladores e exploradores externos agradecem nossa perda de tempo.
A semana que começa promete uma continuação cínica do debate ideológico inútil. Os comandantes das Forças Armadas, amadas ou não pelos viciados em ideologias fora do lugar, exigem que o chefão Lula da Silva ponha um final na polêmica aberta pelo ministro da Justiça, o tenente R/2 de Artilharia Tarso Genro, e seus revanchistas amestrados sobre a questão da Lei de Anistia ou sobre uma flexibilização dela para punir os militares que atuaram na repressão à guerrilha urbana na década de 60/70.
As Legiões esperam uma manifestação do Chefão-em-comando, a partir das 10 horas, nesta terça-feira, quando acontecerá a tradicional solenidade de apresentação dos oficiais-generais promovidos, no Palácio do Planalto. A velha cria sindicalista do “general” Golbery do Couto e Silva, legítimo filhote bovino da dita-dura, fará a costumeira demagogia. Seguirá mordendo e assoprando os militares. Até porque Lula sabe que as Legiões, mesmo enfurecidas, não têm a mesma força de outros tempos.
E a palhaçada ideológica vai prosseguir, apesar da contrariedade dos Generais. Tanto que, na mesma terça-feira em que receberá os militares, Lula também vai receber o “Alto Comando” da União Nacional dos Estudantes. Lula vai participar do lançamento da caravana da UNE pelo País, em defesa da educação, da saúde e da cultura. Curiosamente, os jovens da UNE que se reunirão com o Chefão-em-comando, na tarde de terça, no Rio de Janeiro, serão os mesmos que foram ao Clube Militar, na quinta-feira passada, gritar palavras de ordem contra os militares.
A luta (ideológica) continua... E se, porventura, os arquivos pós-64 forem abertos, não será surpresa se muita informação verdadeira já não estiver devidamente manipulada para alimentar, ainda mais, a batalha insana entre os Revanchistas e as Legiões (hoje caladas, mal equipadas, endividadas e desmoralizadas por anos de campanhas ideológicas difamatórias).
Ou seja, tudo continuará como dantes no quartel do Abrantes. Até quando? Eis a questão... O Brasil não suporta mais isso.
Releia os artigos:
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O poder da fé, do verbo e o da elegância
Qual o alcance dos acontecimentos que envolvem os militares?
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