por Jeffrey Nyquist em 23 de julho de 2008
Resumo: O Último Homem de Fukuyama é um especialista, um inseto na colméia, um não-ente, um burocrata – com falsas noções de nobreza que invertem o elevado e o baixo. O Último Homem está enredado na lógica descendente do igualitarismo: ele não mais aspira a nada, não mais olha para coisas mais altas. Seu olhar se fixa para baixo, na sarjeta, e não até o Paraíso no alto.
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A colunista britânica Melanie Philips[1] teme que a Guerra ao Terror esteja sendo perdida. Em 2006, ela publicou um livro intitulado Londonistan [Londonistão], que delineia a crescente ameaça islâmica e a débil reação britânica. Entre os seus insights você encontrará a seguinte acusação contra a política cultural britânica (que se aplica igualmente aos Estados Unidos): “A Grã-Bretanha tornou-se uma sociedade decadente, enfraquecida por alarmantes tendências na direção do suicídio social e cultural”.
Você sabe, estamos todos destinados a viver numa “aldeia global” e a nação é um obstáculo em nosso caminho. Somos encorajados a nos tornarmos “multiculturais”. Ao mesmo tempo, os ideais nacionais são rotulados como culpados pela xenofobia, pela guerra e pelo racismo. Uma utopia igualitária toma o centro do palco. Portanto, Deus e o país devem ser enxovalhados. Em meio a essa nova “revelação”, não há nenhuma surpresa no fato de que nossa cultura tenha se tornado uma contracultura; que nossas tradições sejam atacadas abertamente pelos descontentes com procuração outorgada sabe-se lá por quem.
Certa vez, na pequena cidade de Dewsbury, [West Yorkshire, Inglaterra] ocorreu uma batalha amarga, “quando os pais de vinte e seis crianças brancas recusaram-se a mandá-las para uma escola pública primária cuja maioria dos alunos era muçulmana”, e sobre a qual se tinha a idéia de estar “privilegiando a cultura asiática e muçulmana”. De acordo com Philips, “Dezoito anos mais tarde, Dewsbury acordou para o fato de que tinha sido o lar... de Mohammed Sidique Khan, aparentemente o líder dos ataques a bomba de 7 de julho de 2005, em Londres”.
O que devemos entender disso? É muito simples: o sistema britânico perdeu seu instinto de autopreservação, pois permite que estrangeiros imponham idéias estrangeiras aos cidadãos nascidos na Grã-Bretanha. De acordo com Philips, “Este colapso da autoconfiança nacional surgiu de uma combinação de coisas”. Em especial, brotou do advento do niilismo europeu e do igualitarismo. O establishment britânico, nas palavras de Philips, tornou-se “particularmente vulnerável à ideologia revolucionária da esquerda, que dominou o mundo ocidental nos anos 1960 e 1970 e no cerne da qual repousam os ódios aos costumes e tradições da sociedade ocidental”.
Para aqueles com olhos para ver, a gravidade da situação tornou-se dolorosamente aparente durante os anos 1980 – quando os conservadores estavam ocupados demais congratulando-se a si mesmos pelas vitórias que não obtiveram. Ronald Reagan foi um bom líder, mas o ambiente cultural que o circundava já estava saturado de relaxantes produtores de ilusão. Enquanto a Doutrina Reagan era proclamada pelo presidente, quase não era apoiada pela nação ou pela burocracia em Washington. Portanto, não é nenhum acidente que uma defesa eficaz contra mísseis russos intercontinentais jamais tenha sido posta em prática, que a retirada soviética do Afeganistão já anunciasse a emergência da Al Qaeda, que Daniel Ortega retomasse a Nicarágua, que Jonas Savimbi perdesse a guerra civil angolana para os comunistas, que a África do Sul caísse nas mãos do CNA[2], que o Congo se tornasse igualmente comunista, e ainda a Venezuela, a Bolívia, etc.
Quem realmente venceu a Guerra Fria? Parece incrível considerar a idéia; mas talvez seja mais do que jamais possamos compreender: a história é algo que não aconteceu contada por pessoas que não estavam lá. Os anos 1960 trouxeram mudanças sinistras, os anos 1970 trouxeram crise, mas, nos anos 1980, tudo se submeteu sob o estandarte “Morning in America”.[3]
Considere a realidade: o trombeteado retorno aos valores tradicionais foi, em grande medida, fraudulento. A queda do comunismo foi projetada m Moscou. As escolas públicas ficaram piores e piores. O crescente comércio com a China foi um câncer. Um presidente com a memória cada vez mais fraca foi cercado e minado por renegados e apaziguadores em sua própria administração. “Aqueles que não conseguem lembrar o passado”, escreveu George Santayana, “estão condenados a repeti-lo”. E não era apenas a memória do presidente que falhava. Os próprios Estados Unidos tinham desenvolvido Alzheimer. De que outra forma podemos explicar a popularidade do clamorosamente confessional livro de Francis Fukuyama, The End of History and the Last Man [O Fim da História e o Último Homem]?
Aqui encontramos uma racionalização do hedonismo através dos tempos, e uma razão para esquecer o Holocausto, para esquecer os açougueiros marxistas dos campos da morte do Camboja, para esquecer o Gulag soviético, o massacre da Praça Tiananmen, o legado totalitário e negar a sua prontidão para acontecer de novo. O Último Homem de Fukuyama é um especialista, um inseto na colméia, um não-ente, um burocrata – com falsas noções de nobreza que invertem o elevado e o baixo. O Último Homem está enredado na lógica descendente do igualitarismo: ele não mais aspira a nada, não mais olha para coisas mais altas. Seu olhar se fixa para baixo, na sarjeta, e não até o Paraíso no alto.
Ainda que muitos dêem de ombros ou riam, é inegável que um punhado de estadistas manteve o Ocidente. Onde estão esses estadistas agora? Os pais conscritos do antigo senado deram lugar ao Último Homem. A confusão reina enquanto o governo americano ignora a primeira lição da política do século XX: não subestime o mal. Os críticos do governo, porém, de forma tola, ignoram a segunda lição da política do século XX: apaziguar o mal promove o mal.
E o que acontece quando o bem é confundido com o mal? Fiquem ligados e assistam ao que acontece. De acordo com Melanie Philips, o britânico médio pensa “que os Estados Unidos são a fonte de todo o mal, que George W. Bush é um criminoso de guerra maior do que Saddam Hussein jamais foi e que Israel oferece uma ameaça à paz mundial”. Isso seria chocante, mas nós já sofremos tantos choques. Estamos entorpecidos e sobram poucos sentimentos. Talvez já seja mais tarde do que imaginávamos. Talvez a duradoura aliança entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos tenha acabado. Qual o apelo, qual a correção, que remédio ainda há para essa estupidez crônica? Philips está certa ao dizer que “a Grã-Bretanha tornou-se uma sociedade decadente“. Mais que isso, ela ainda acrescenta: “A implacável demonização dos Estados Unidos e de Israel pela mídia britânica serviu como um poderoso agente de recrutamento para a jihad...”.
© 2008 Jeffrey R. Nyquist
Publicado por Financialsense.com
Tradução: MSM
[1] NT: Melanie Philips escreve na The Spectator, uma das mais prestigiosas revistas britânicas, ainda relativamente conservadora e onde Paul Johnson também tem coluna fixa.[2] NT: Congresso Nacional Africano, organização comunista liderada por Nelson Mandela.
[3] NT: Slogan político em 1984 que, em sua versão completa, equivaleria a algo como “O redespertar da América: mais orgulhosa, mais forte, melhor”.
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