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quinta-feira, 24 de julho de 2008

A MÍDIA E O MODO COMUNISTA DE PENSAR

Do portal do HEITOR DE PAOLA - PAPÉIS AVULSOS
MSM 20/02/2003



O fenômeno que ficou conhecido como “revolução gramcista” - que não passa de uma nova e mais eficiente estratégia subliminar de doutrinação marxista – foi bem sucedido porque há muitas pessoas ávidas por encontrar um meio simplista e esquemático de fingir que pensa. Quem jamais entrou neste esquema terá dificuldades de entender este artigo; quem entrou e ficou, está tão obliterado pelo que se vai dizer aqui que se recusará sequer a pensar sobre isto. É preciso ter entrado e saído para entender plenamente. A tentação da palavra fácil é tão grande e a saída tão dolorosa e custosa, que são poucos os que se dispõe a enfrentar a si mesmos e admitir o quão burrificados estavam.

A razão é que mesmo os grandes mistérios que há milênios deixam a Humanidade perplexa perante sua própria ignorância, são explicados de maneira simplificada e compreensível para qualquer sujeito que decore as regrinhas básicas do pensamento “dialético”. Todas as relações humanas são facilmente explicadas dentro da noção de “luta de classes”. A metafísica é negada como “ideologia burguesa”, a religiosidade como superestrutura de justificação do domínio de classes. Não há mistérios. Tenta-se apresentar como ciência o que não passa de uma tentativa pífia de fazer uma religião “laica”.

Mas esta simplificação não se mantém sem pelo menos dois outros componentes. O primeiro é a necessidade de compartilhar as explicações com o maior número de pessoas possível. O comunista não pensa, substitui o pensamento por dogmas, é incapaz de uma opinião própria, sua, independente dos demais. Se não for compartilhado numa “consciência coletiva” a qualquer momento o dogma pode falhar, como freqüentemente ocorre, e o sujeito que não aprendeu a pensar por si mesmo, sente-se como um náufrago sem terra à vista. A perplexidade o ameaça de sucumbir ou de acabar pensando de verdade, com tudo de sofrimento que isto implica, pois pensar é um ato solitário e muitas vezes frustrante. A solução então é suspender a perplexidade até saber a opinião “do grupo”, que o reanima.

Estes grupos não funcionam iguais a outros, não se busca ali a livre troca de opiniões ou, como no caso de grupos decisórios, de chegar a uma maioria. É preciso mais, é necessário o “consenso”, a burra unanimidade, sem a qual a antiga perplexidade voltaria a ameaçar. Foi baseado na persistência nos adultos desta necessidade infantil, ou no máximo das “patotas” adolescentes, que Lênin criou o conceito de “centralismo democrático”, onde após a discussão “fecha-se uma posição” que passa a ser incontestável. Tais grupos funcionam obrigatoriamente de forma orgânica, isto é, não são grupos de indivíduos completos em si mesmos, mas de uma massa orgânica disforme na qual cada pessoa não passa de um órgão de um organismo completo, que é o próprio grupo. Decorre daí a noção errônea de que um grupo é mais do que a soma dos indivíduos que o compõe, que domina os debates sociológicos e psicológicos há décadas.

Como esta consciência coletiva não passa de uma falsa consciência, a simplicidade e unanimidade não são suficientes. É preciso evitar a qualquer custo o aparecimento de opiniões contrárias que venham a emergir dentro do grupo ou fora dele e que possam por a nu esta falsidade. O terceiro passo, portanto, é o que conhecemos por “patrulhamento ideológico”. Sobretudo é preciso impedir que alguns dos elementos do grupo escapem do condicionamento em que estão programados e, simultaneamente, ampliar ad infinitum o número de adeptos. Ora, felizmente a mente humana nem sempre é tão dócil assim e é preciso impedir a tentação de se deixar influenciar por “más companhias”, pessoas que efetivamente pensem e tenham idéias próprias.

É neste ponto que a necessidade da tomada de assalto dos meios de comunicação se torna fundamental. A mídia prolífica, fértil e polêmica que tínhamos há umas três décadas era combatida como “imprensa burguesa” à qual se opunham os jornais “populares”, que ninguém, a não ser os “adeptos”, lia, dada a indigência intelectual dos mesmos. Era preciso mudar este estado de coisas e como de nada adiantava o combate limpo e aberto, era necessário tomar por dentro, minar a criatividade, substituindo-a paulatinamente pela massa amorfa em que a máxima divergência seja a do “sim” com a do “sim, senhor” e todos concordem quanto aos slogans fundamentais, palavras que perderam todo significado, como “justiça social”, “cidadania”, “progressista” , “neoliberal” e tantas outras que conhecemos muito bem. Não tenho dúvidas que a obrigação de estudar jornalismo para ser profissional de imprensa foi um dos golpes mais duros na criatividade, pois os tais grupos tomaram de assalto as faculdades de jornalismo e passaram a criar uma choldra que nada mais faz do que repetir uns aos outros.

Finalmente, quem discorda é imediatamente anatematizado com outros slogans, como reacionário, direitista, conservador. Isto de público, dentro dos seus grupelhos os termos utilizados são impublicáveis. A Internet propiciou uma saída para esta situação, mas já é alvo do mesmo patrulhamento, com a expulsão de quem pensa diferente dos editores de sites interessados em manter a belíssima unanimidade da ignorância.

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