Do blog do REINALDO AZEVEDO
Segunda-feira, Julho 28, 2008
Comentário do Cavaleiro do Templo: de tudo que você vai ler abaixo, outra conclusão óbvia é que APENAS NA INTERNET (por enquanto...) nós temos como expressar nossas idéias, nossos objetivos, nosso modo de viver e de pensar o mundo. O outro lado tem TODA A MÍDIA, que como já disse o Olavo de Carvalho, é apenas propaganda disfarçada de jornalismo, publicidade ideológica e nada mais...
A Folha de S. Paulo publicou no domingo uma ampla pesquisa sobre o que pensam os jovens brasileiros. Rendeu até um caderno especial, de 20 páginas, chamado “Jovem Século 21”. Segundo informa o caderno, a maioria das reportagens “foi feita pelos integrantes da 45ª turma do Programa de Treinamento da Folha”, (...) patrocinada pela Philip Morris Brasil e pela Odebrecht”. Comentarei abaixo alguns dados muito interessantes que a pesquisa revelou e tratarei da seguinte questão: a maioria dos jovens brasileiros, a exemplo da população, é de direita. Boa parte da imprensa e, vejam só, as instituições políticas, incluindo partidos, não se conformam com isso. Estão todos tomados pela patrulha esquerdista. Já chego lá. Antes, um pouco de memória.
Memória
No dia 9 de abril de 2007, há mais de um ano, escrevi aqui um post intitulado O Povo é de direita, revela o Datafolha. Foi uma gritaria danada. O link com a íntegra está aí. Recupero dois trechos:
“ (...) um político que tivesse rigorosamente as opiniões do povo brasileiro (...) seria chamado de ‘direitista’ pela esquerda, certo? Quem sabe até de reacionário... E isso estaria a indicar que o povo brasileiro é, então, majoritariamente, ‘de direita’. Ora, se ele é de direita, por que, então, estamos sendo governados pela esquerda — ainda que essa ‘esquerda’ seja a petista, com seu fanatismo recém-adquirido pelo financismo? A resposta é simples: questões como as colocadas acima [aborto, pena de morte, drogas] simplesmente estiveram ausentes do debate eleitoral. E os politicólogos brasileiros, quase todos de esquerda, acham que isso é um sinal do nosso amadurecimento. Essas clivagens aparecem nos confrontos eleitorais dos EUA e da Europa — sabem?, eles são os bárbaros... Já os civilizados brasileiros preferem não entrar nesse mérito porque acham que esse é um debate grosseiro.” “DEM e PSDB cometem, a meu ver, dois erros crassos: não conseguem ter um discurso organizado sobre economia para confrontar o PT e renunciam a fazer o que chamo de guerra de valores com a esquerda. O Datafolha esfrega no nariz das duas legendas o óbvio: o povo brasileiro é conservador e, vejam só, não tem, no Parlamento, quem o represente a contento.”
Antes ainda, no dia 13 de agosto de 2006, escrevi aqui: “Uma boa leva de políticos no Brasil deveria olhar para os dados do Datafolha com vergonha. Vergonha de si mesmos e de sua covardia. Existe uma maioria silenciosa que hoje não encontra uma representação consistente. Uma boa pergunta seria a seguinte: como pode Lula vencer, ao menos por enquanto, a disputa presidencial no 1º turno se a maioria da população é mesmo de direita?”. Nas duas datas, havia pesquisas Datafolha investigando a opinião dos brasileiros sobre questões de comportamento. Vamos, então, ao levantamento de agora.
A nova pesquisa
Sim, senhores: dados os perfis ideológicos que se desenham a partir de certas opiniões, pode-se dizer que a maioria dos jovens brasileiros é de direita. Declaram ter essa posição ideológica, aliás, 37% dos entrevistados (na população como um todo, são 35%). Dizem-se de esquerda apenas 28% (contra 22% do total). No centro, estão 23% (contra 17% no conjunto). Mas notem: não quero me apegar a nominalismos. Parto do princípio de que os jovens possam não ter a exata noção do que tais nomes encerram. Assim, parece-me, é conveniente informar opiniões muito específicas.
Aborto
O ministro José Gomes Temporão e os nossos “pogreçistas” certamente ficam desgostosos, mas o fato é que 68% dos entrevistados não querem mudar a lei do aborto — pretendem que a prática continue a ser considerada um crime, com duas exceções: gravidez decorrente de estupro e risco de morte da mãe. É o mesmo índice do conjunto da população.
Pena de morte
No que respeita à pena de morte, os jovens se mostraram ainda mais severos do que o povo como um todo: 50% se disseram favoráveis (contra 47% no outro grupo). Dizem-se contrários 46% nos dois universos.
Maconha
Acham que deve ser proibido fumar maconha nada menos de 72% dos entrevistados (ligeiramente inferior aos 76% de todos os brasileiros). Apenas 25% acreditam que deve “deixar de ser crime” (contra 20% no outro grupo). Aqui: só uma lembrança ao caderno da Folha: fumar maconha já não pode mais ser considerado um “crime” — traficar é que é. Como se vê, “Uzome da lei” no Brasil são mais laxistas do que os jovens...
Maioridade penal
No caso da maioridade penal, defendem a atual legislação apenas 12% dos ouvidos — 13% no total. Para 83%, a idade deve baixar: 37% acham que pode ser inferior a 16, e 46% a partir dessa idade.
Deus
E Deus, hein? Deus está morto? Parece que não! Apenas 1% dos jovens se dizem ateus, e 10% dizem não ter religião: 59% são católicos; 16%, evangélicos pentecostais, e 8%, evangélicos não-pentescostais. As demais religiões: espírita (2%), judaica (1%), umbanda (1%), candomblé (1%), outras (2%).
Valores
E quais são os valores das moças e moços? Qual é a lista das coisas que acham “muito importantes”? Vejam: família (99%), saúde (99%), trabalho (97%), estudo (96%), lazer (88%), amigos (85%), religião (81%), sexo (81%), dinheiro (79%), beleza (74%), casamento (72%).
E então...
E, vejam que surpresa, o levantamento mostra que os nossos jovens querem casa, carro, grana, todas essas malditas coisas do “consumismo”, que deixam os comunistas que já têm todas essas malditas coisas muito decepcionados com a juventude...
Mais uma vez, constata-se o óbvio: há um enorme hiato entre o que pensa o conjunto da população — e, nela, sua fatia mais pretensamente inquieta — e os vários canais que vocalizam a opinião pública. Não, senhores! Não temos a imprensa que representa os valores que vão acima: a nossa, com as exceções de praxe, é majoritariamente “politicamente correta” e experimenta um verdadeiro divórcio em relação ao pensamento da maioria.
Até aí, tudo bem! Sou o primeiro a defender que veículos devam ter e defender pontos de vista. A questão que merece debate é outra: tais opiniões são verdadeiramente demonizadas pela patrulha politicamente correta do jornalismo. Pegue-se o caso do aborto: raramente alguém que se opõe à sua legalização é tratado, vá lá, com respeito ao menos. Do mesmo modo, descarta-se que um indivíduo civilizado possa considerar uma tolice a maioridade penal a partir dos 18 anos — o Brasil, saibam, faz parte das poucas exceções que adotam tal idade; na esmagadora maioria dos casos, é inferior. Em muitos países, nem mesmo há uma idade mínima: depende do crime. No que respeita aos costumes, temos uma imprensa de esquerda e um povo de direita.
Ora, o jornalismo — de fato, os meios de comunicação nas suas várias manifestações — são, sim, importantes formadores de opinião. Políticos temem afrontar a doxa. Daí que os partidos evitem ao máximo “politizar” as questões referentes a valores — politização que é corriqueira em qualquer democracia do mundo, a começar dos Estados Unidos. O povo, como se vê, não tem receio de ser ou de parecer de direita, mas os políticos evitam tal "estigma" — ou, mais apropriadamente ainda, fogem da palavra “direita” como o diabo foge da cruz — e acabam se alinhando com... o diabo, hehe. Vejam como é freqüente que lideranças se digam “de esquerda” sem qualquer vergonha, mas jamais de direita — quando muito, são todos de centro-esquerda... Será que temem o povo? Não! Temem o jornalismo politicamente correto. Líderes conservadores, mundo afora, tiveram a coragem de enfrentar a hegemonia esquerdista. No Brasil, até agora, todos se ajoelham no altar da hipocrisia.
O trabalho e a edição
Sem dúvida, a Folha e o Datafolha prestam um serviço relevantíssimo ao país, ao jornalismo e à política — especialmente para quem ler os dados com coragem e ousadia. O levantamento é bastante amplo. Trata até do desempenho escolar — lastimável, diga-se — da juventude. A edição merece algumas observações, talvez reparos. Aqui e ali vaza uma certa decepção com a caretice da molecada. A tentação de lamentar que eles não queriam mais virar a mesa — e quando é que quiseram, santo Deus? — se insinua, mas logo cede à realidade. Afinal, é insustentável criticar os moços porque revelam o anseio de subir na vida e se dar bem profissionalmente.
Mas aquele velho espírito da “revolução” — nem que seja a de costumes — espreita o caderno. Por alguma razão que o Datafolha não consegue explicar, ele é muito colorido, coloridíssimo, colorido até a irritação. O jovem é caretão, mas o caderno resolveu adotar uma estética meio Hair (o filme de Milos Forman), a que se somam alguns símbolos do “capitalismo” — porque, afinal, eles querem casa, carro e grana... As tabelas do Datafolha são editadas num misto de pichação com trapaça concretista: o número “60”, por exemplo, aparece num corpo maior do que o “30”, que é maior do que o “10”, sacaram? Legal, né? Às vezes, números e letras se esbarram, uns borrando os outros. Afinal, é um caderno feito por jovens, sobre jovens com uma edição... jovem. A questão é saber se foi lido por uma maioria de jovens — duvido. Caso tenha sido, o que há de errado com as tabelas que eles estão acostumados a ver nos livros e até na Internet? Em algumas páginas, publicam-se textos na diagonal... Pra quê? Suponho que seja para dificultar a leitura...
Sei que tal observação parece uma bobice (e reitero que se trata de um trabalho importante ), mas não é. Em certo sentido, a edição do caderno nos devolve para o centro deste longo texto: boa parte da imprensa (e não é muito diferente em todo o mundo democrático) não se conforma que o povo — os jovens também — possa ser careta, conservador, de direita. Recorre-se nem que seja a uma estética do inconformismo — “moderna” — para evidenciar o conservadorismo, ainda que ela crie mais dificuldades de leitura do que facilidades, ainda que ela mais turve a realidade do que ajude a explicá-la — como é da natureza, diga-se, de quase todos os inconformismos.
Os dados que ali estão, no entanto, são de grande relevância. Seria conveniente que muitos dos nossos políticos, especialmente os que não são de esquerda, começassem a refletir a respeito.
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