Do blog MOVIMENTO ORDEM E VIGÍLIA CONTRA A CORRUPÇÃO
Por Ruth de Aquino – Revista Época
Como cidadã, o que eu queria é saber para onde vão os impostos que eu pago. E aí, vamos comemorar com o presidente Lula nosso “grau de investimento”, que finalmente aprova o Brasil como um país seguro para os gringos investirem? Ou vamos chorar pelo abandono de nossa educação básica, cientes de que só 53,8% das crianças brasileiras conseguem terminar, aos trancos, o ensino fundamental?
Na semana passada, em que fiz meu Imposto de Renda e percebi, mais uma vez, o tamanho da mordida do Leão, eu me perguntei até quando as crianças continuarão fora das escolas e em qual mandato o governo social de Lula, comprometido com o povo, começará a ter vergonha de nosso desempenho medíocre na educação.
Repetência maior nas escolas, só na África, concluiu na semana passada um estudo da Unesco. No Nordeste, só 38,7% das crianças terminam a 8ª série. Piorou nos últimos anos. Não sou amiga de porcentagens, mesmo as escandalosas. Mas está na cara, está nas ruas, nas esquinas, embaixo das marquises, está nos índices de prostituição infantil, na baixa qualificação dos jovens.
Nosso país vai na contramão dos que investiram a longo prazo no bem-estar de sua população. Coréia? Irlanda? Escandinávia? China? Todos colocaram a educação à frente da economia. Tive esperança quando Cristovam Buarque foi nomeado ministro da Educação de Lula. O senador pedetista durou um ano no governo do PT. Cristovam só pensa naquilo, ontem, hoje e sempre. “Precisamos convencer o Lula de que educação é capital”, diz.
O presidente não cabe em si de contentamento. “O país vive um momento mágico.” “Passamos a ser donos do nosso próprio nariz.” Diz Lula. Amém. É a economia, estúpidos. O bolo cresce sem fermento. O Brasil deixa o clube de risco. Risco financeiro e econômico. Mais da metade da população aprova um terceiro mandato do presidente, contrariando a Constituição.
O Bolsa-Família ajuda pobres a obter mais qualidade de vida, comprar eletrodomésticos e até manter filhos em escolas. Mas não resgata o Brasil do atraso abissal na educação. ÉPOCA denunciou um vexame: 99,7% das escolas públicas não atingem o padrão mínimo dos países mais ricos. É motivo para chorar.
Um país com nossa renda, com uma carga tributária (36,08% do PIB) bem maior que a do Japão e a dos Estados Unidos, teria a obrigação de garantir um Estado provedor. Os serviços essenciais – e a definição está aí, no adjetivo – teriam de ser fornecidos pelo Leão e por todos os tributos pagos pelo contribuinte. Não me venham com a história de que 18% dos impostos federais vão para a educação pública. Isso é conversa para cordeiro dormir. Alguém leva em conta as fraudes, os desvios e a falta concreta de uma política nacional para o ensino fundamental?
Por que o dinheiro do Imposto de Renda não se transforma em mais educação?
Cristovam Buarque tentou criar o programa Escola Ideal, que começaria em 250 cidades de porte médio. “Todas as escolas teriam horário integral, um concurso nacional escolheria os melhores professores, e eles ganhariam salário de R$ 4 mil. Construiríamos bibliotecas, começaríamos uma revolução. Em quatro anos, 10 milhões de alunos estariam matriculados em mil escolas. Aos poucos, ampliaríamos.” O Ministério da Educação só se preocupa com universidades e escolas técnicas, diz Cristovam, porque “criança não vota, e pai pobre não tem sindicato. As escolas públicas só foram boas no Brasil enquanto eram freqüentadas pelos filhos de ricos”. O ensino básico foi entregue aos municípios. Mas a preocupação teria de ser federal. “É preciso fazer com a escola o que se fez com o Banco do Brasil: funcionários passam num concurso federal, as agências são bonitas, têm computadores. Mas o PT ainda é um partido do tempo em que a revolução estava na economia. Não na educação. É um partido sindicalizado que se orienta para agradar aos grupos organizados”, diz Cristovam.
Não reclamo da carga tributária. O que eu queria mesmo, como cidadã, é saber para onde vão os impostos que pago. Pagaria alegremente se o objetivo fosse dar educação às crianças. Não precisaria ser ensino de Primeiro Mundo (embora o imposto brasileiro o seja). Mas que fosse decente e digno. E nos permitisse sonhar com um país menos ignorante.
O Leão vai fazer 30 anos em 2009. Já passamos da hora de avaliar aonde vai nos levar a lei do mais forte.
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