Do portal CINFORM ONLINE
Por RODORVAL RAMALHO em segunda-feira, 07 de abril de 2008
É impressionante a popularidade da tese sobre a diferenciação de uma esquerda carnívora e outra vegetariana na América Latina. Segundo esse raciocínio, Chávez, Correa, Morales e Ortega estariam no primeiro grupo e Kirchner, Bachelet e Lula estariam no outro. Essa tese desconhece o conceito gramsciano de guerra de movimento e guerra de posição. A primeira leva o protagonista a uma ação revolucionária violenta, aquela que envolve ações terroristas armadas, buscando atingir não somente alvos militares, mas também civis. A segunda é uma ação política voltada para ocupar espaços nos mais variados setores da sociedade civil e política. Nesse caso, a esquerda usa a democracia para corroê-la a partir de dentro. Assim, a ordem é agir nas escolas, na imprensa, nos movimentos sociais, nas igrejas, nas artes, mas também dentro do próprio Estado - polícia, parlamento, governos, judiciário.
A guerra de movimento ficou em segundo plano no mundo contemporâneo. Segundo o vocabulário de Antonio Gramsci, autor de Cadernos do Cárcere, essa forma de luta só faz sentido em sociedades pouco ocidentalizadas, onde a sociedade civil ainda é gelatinosa. Em outras palavras, guerra de movimento é sinônimo de um ambiente atrasado dos pontos de vista sócio-econômico e político-cultural.
A derrota do socialismo, ilustrada pelos eventos de 1989, obrigou a esquerda da América Latina, para ficarmos com um exemplo caseiro, a investir tanto no legado de Gramsci quanto na herança leninista. Quem acompanhou a origem do PT deve lembrar de discussões que hoje podem parecer bizarras sobre partido de quadros ou partido de massas, reforma ou revolução, democracia representativa ou democracia direta, parlamento ou luta armada.
Essas e outras discussões da mesma natureza faziam parte do debate que preparava os rumos a serem seguidos. Venceu Gramsci, que assumiu a "cabeça da chapa", mas Lênin foi indicado como vice, ou seja, a ação política da esquerda tem combinado as guerras de movimento e de posição. A ordem é: aprovar leis de reforma agrária, mas estimular as invasões e conflitos armados no campo; usar a liberdade de imprensa, mas tentar sufocá-la com intimidações diretas e indiretas; estimular o mercado, mas agredir o direito de propriedade; agir politicamente no parlamento, mas fraudá-lo através da cooptação, inclusive financeira; fazer diplomacia nos organismos internacionais, mas apoiar guerrilhas narco-terroristas nas suas localidades; garantir o "lucro burguês hoje, mas preparar seu enterro amanhã".
A grande virtude da construção petista foi ter elaborado essa estratégia de dupla-face, pois manteve os dois tipos de revolucionários à sua mercê. E mais, ainda aproximou amplos setores do empresariado e dos políticos que, por cretinice ou imediatismo financeiro, fizeram um verdadeiro cordão sanitário em torno dos seus próprios coveiros.
A construção petista foi lenta, gradual e ampla. Foram duas décadas de ação nas escolas, na imprensa, nos movimentos sociais, no judiciário, nas igrejas etc. Nesse sentido, soube construir de forma consistente a sua hegemonia. Não é por outro motivo que mesmo perdendo as próximas eleições presidenciais, dificilmente o lulo-petismo sairá do poder, pois está espalhado de tal forma no espaço público brasileiro que ninguém irá perturbá-lo, muito pelo contrário, precisará do seu apoio para governar.
Quando eu vejo políticos, empresários, diplomatas, banqueiros e alguns intelectuais do campo democrático elogiando o lulo-petismo e cantando loas à sua domesticação, inclusive afirmando que esse negócio de esquerda e direita é coisa do passado, só me vem à lembrança um bordão do humor televisivo - Ô, coitados!!
A tática gramsciana, também conhecida no sertão como "comendo pelas beiras", só pode ser limitada por ações contra-hegemônicas que afirmem os valores da liberdade e da propriedade, os dois melhores antídotos contra os coletivismos em geral. Mas, esse debate é tão distante do universo intelectual das lideranças políticas não-esquerdistas brasileiras que eu não tenho nenhuma ilusão de que sairá desses setores qualquer atitude que contribua para inibir a ascensão desse totalitarismo tardio.
É verdade que ainda existem alguns setores minoritários na imprensa e no judiciário (sobretudo no STF), que apresentam algumas reações anti-totalitárias. Entretanto, é no âmbito da internet que enxergo o universo da resistência democrática. Figuras como Olavo de Carvalho, Denis Rosenfield, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo e muitos outros nos permitem alguma esperança no combate a essa mistura de banditismo e esquerdismo que imperam na cena brasileira.
Portanto, senhores, não se iludam: a esquerda está vivíssima e com apetite pantagruélico tanto para saladas quanto para carne.
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