GOSPEL+
Por Edson Camargo em 9 de novembro de 2012
Leio num artigo postado em um blog cujos editores garantem não serem esquerdistas (já ficou claro que mentem) a seguinte pérola:
“A convergência de fenômenos como: o estimulo ao capital e consumo, a abertura e flexibilização da mídia, aumento do poder de compra, e o desejo coletivo em consumir, proporcionaram o cenário ideal para o crescimento da teologia da prosperidade no Brasil.”
E lá vamos nós. Aí está mais um exemplo claro de “bufonaria paramarxista”, como dizia Raymond Aron. E, mais uma vez, disfarçada de crítica eclesiológica pretensamente apologética.
A começar pelo óbvio: para o autor, o problema da teologia da prosperidade é um problema decorrente da presença do livre mercado e de um estado de direito parecido com o das democracias liberais: com a possibilidade de que cada cidadão seja responsável pela melhoria de sua própria condição econômica, com imprensa livre e os direitos de propriedade e produção assegurados.
E o que os socialistas querem? Qualquer um sabe: regulação econômica brutal, controle da mídia, nivelamento entre classes. E então, para o pseudoeclesiólogo, a maldita teologia da prosperidade não será mais problema.
O engraçado é que essa turma culpa o livre mercado pelo consumismo e pelo materialismo (note: para eles não existe o indivíduo e suas decisões pessoais, apenas “classes” em disputa), mas dizem que estes são fenômenos recentes. O fato é que a intervenção estatal na economia é que é a verdadeira novidade na história, e em nada reduz o consumismo e o materialismo. Nós brasileiros talvez sejamos mais dinheiristas e mesquinhos do que muitos povos europeus que ainda desfrutam de mais liberdade de mercado do que nós. E se o livre mercado é de séculos anterior ao problema do consumismo e do materialismo, não pode ser necessariamente sua causa. Até por que ser assim é pura decisão pessoal, pecaminosa, e algo que pouco tem a ver com posições políticas. Nossa esquerda-caviar que o diga.
Mas os esquerdistas, estes sim, querem acabar com o pecado acabando com a liberdade humana de produzir, comprar, vender, investir, etc. E depois o autoritário é o “reaça” aqui. Temos ou não diante de nós um bando de criaturas asnificadas pela ideologia socialista?
Outra: quem mais fomenta esse relativismo moral, materialista, hedonista e consumista é a indústria cultural, dominada pela esquerda. Da maconha à glamurização sistemática de símbolos revolucionários, passando pelo ambientalismo e pelo aborto, tudo o que se tem hoje na mídia de massa é artefato produzido para destruir os valores tradicionais; é militância pura e simples, e os recentes surtos de idolatria obâmica, onipresentes em nossa grande imprensa, não me deixam mentir.
Como não culpar quem detém a hegemonia cultural pela crise de valores, pela própria derrocada cultural? Propondo sanar os problemas que eles mesmos produziram, os esquerdistas preferem defender o absurdo. Afinal, poder comprar e vender não faz de ninguém um boboca disposto a cantar música do Planet Hemp ou dançar imitando a Lady Gaga. Mas a hegemonia cultural, sim, faz um pelotão de cristãos imbecilizados nas universidades, seminários e lendo veículos de comunicação como as revistas Ultimato e Cristianismo Hoje saírem tagarelando clichês da New Left mal disfarçados de crítica eclesiológica respeitável.
O autor posa de analista mas não passa de ‘idiota útil’, como dizia Lênin destes militantes apaixonados que no fim das contas só vão se ferrar com a conquista do poder total pelanomenklatura.
O ridículo, para boa parte dessa patota, é que eles nem sequer fazem isso por opção. Ou alguém aí acha que muitos deles estudaram outra coisa na vida além de conteúdos esquerdistas? Até teologia, graças à “teologia” da “libertação” e à “missão integral”, eles já a aprenderam ‘esquerdizada’. Tanto que, vale destacar, qualquer artigo imbecil do pró-poligamia Robinson Cavalcanti (já enaltecido no blog em que foi publicado o artigo) de 10, 15, ou 20 anos atrás fala exatamente a mesma coisa deste que agora comento.
Mas é da mente esquerdista viver repetindo, como um robô, a doxa partidária como se fosse ciência e análise vinda da consciência autônoma do indivíduo. George Orwell percebeu isso com clareza e temos no romance 1984 a presença da newspeak, a ‘novilíngua’, papagaiada por um processo mental chamado duckspeaking, ou ‘patofalar’. Segue uma amostra do que se lê no artigo: “o desenvolvimento da teologia da libertação na América Latina, aconteceu em decorrência a corrupção, desigualdade e injustiças sociais.”
Mais marxista, mais subserviente ao esquerdismo e mais fiel à estratégia de infiltração revolucionária nas igrejas, impossível.
É claro que penso que a teologia da prosperidade e o materialismo grosseiro de nossas classes B e C devem, sim, ser criticados. Mas ter de aturar críticas com duckspeaking é dose para leão. E não menos nojenta é essa sanha ideológica que se disfarça de eclesiologia e apologética visando o lucro político: doutrinar cristãos incautos e despreparados visando fortalecer a corrente ideológica que está empreendendo há pelo menos 50 anos uma perseguição cultural ferrenha a tudo aquilo que representa o legado cristão no Ocidente. Essa sim, é a grande mesquinharia, o grande devaneio, a grande ambição que assola os setores de igreja contaminados pela ideologia socialista.
E nem vou entrar na questão do fiasco que é a teoria econômica socialista e social-democrata. Se eu trouxer ao debate as lições de Böhm-Bawerk, Ludwig von Mises, Hayek, ou dos cristãos R. C. Sproul Jr. e Gary North contra Marx, Keynes, cepalinos da América da Latina e seus fãs da mídia gospel-canhota-tapuia, serei acusado de agredir pimpolhos (intelectualmente falando) com armas contundentes.
Se há algo que essa turma não percebe, com toda esta subserviência intelectual a uma ideologia assassina que usa um cristianismo falsificado para atacar o verdadeiro, é o fato de que pensar sobre questões cristãs não é necessariamente pensar de forma cristã.
O alerta de Harry Blamires (foto), que foi aluno de C. S. Lewis, deve ser lembrado: sem uma mente cristã, não teremos um pensamento cristão; sem ele, não teremos ações dignas de serem chamadas de cristãs.
Passou da hora de se aprender esta lição.
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