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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O século da Ásia está ficando para trás


MÍDIA A MAIS

VW na China.

Por: Guy Sorman

A economia americana tem dificuldade para decolar, a Europa desacelera no norte e regride no sul: só resta, portanto, como motor possível de retomada, a Ásia. Mas falta fôlego à China, assim como à Coreia do Sul e Taiwan. O Japão acabará por ressurgir, mas certamente não antes de dois ou três anos.

As economias asiáticas não tomaram conta do Ocidente, ao contrário de algumas profecias midiática da moda. O “descolamento” tantas vezes anunciado entre a Ásia e o Ocidente não ocorreu: o Ocidente puxa o Oriente e não o contrário. Não se sabe ao certo quem inventou o termo “BRIC” (Brasil, Russia, Índia e China), mas ele “antecipava” o futuro do planeta; no entanto, um slogan não faz o crescimento, não nessas circunstâncias. Como então podemos explicar o sucesso inegável dos países emergentes da Ásia e também suas falhas?

Os economistas concordam agora em atribuir ao Estado de Direito e à qualidade das instituições públicas a capacidade de enriquecimento das nações. Essa teoria não é totalmente verificável na Ásia. Na China, as instituições estão falhando e, na Coreia, a aliança entre governos e empresários leva a quase monopólios (a Chaebol, como Hyundai e Samsung), que impulsionam aparentemente o motor da economia. Assim, é  preciso, nessa parte do mundo, voltar-se para uma outra teoria explicativa, um pouco ultrapassada e que serve para a cultura e para as instituições. Basta visitar as empresas na Ásia para constatar que a disciplina rigorosa prevalece e a ética do trabalho determinam a alta produtividade: os particularismos culturais coincidem bem com o que sabemos da ideologia confucionista. Mesmo em uma democracia e apesar da ascensão universal do individualismo, é presente o comportamento coletivista no Nordeste da Ásia. O rigor da organização do trabalho que desencadeia esclarece – sem jamais explicar completamente – a preferência das empresas pela produção de massa, mas também de qualidade, com um talento particular para a reprodução ao idêntico e para junção – quer se trate da produção de navios, de automóveis, de utensílios domésticos ou de microprocessadores. Reprodução e montagem de modelos, que são, muitas vezes, projetados no Ocidente, constituem a base industrial desses países emergentes (como a China e a Coreia do Sul e Taiwan).

A cultura confucionista que contribui tanto para a produtividade pode afetar, talvez, o desenvolvimento do mercado interno e a inovação. O consumo doméstico que poderia contribuir para a recuperação mundial é comedido na Ásia devido a uma certa pobreza, mas também pela obrigação de economizar porque existe um pouco de solidariedade coletiva e, finalmente, por uma tendência cultural de se misturar à massa, preferindo-se não se distinguir de seu vizinho pelo consumo suntuoso. A capacidade de inovação é menos convincente nas áreas da civilização confucionista. Nessa região, apenas o Japão, que está na periferia e é distinto, apresenta tantas patentes mundiais quanto os Estados Unidos ou Europa. A Coreia do Sul está fazendo um caminho notável entre os grandes, mais no aperfeiçoamento das atividades existentes que por avanços qualitativos. A China tenta esconder o atraso mediante a apresentação de inúmeras patentes válidas no território chinês e na construção de grandes universidades. Por enquanto, nada de novo: a ilusão não substitui a inovação autêntica e a falta de liberdade intelectual não pode favorecer a invenção.

O Nordeste da Ásia continua a ser essencialmente um espaço de terceirização, a China principalmente. Quando o Ocidente diminui seu ritmo, a Ásia assegura menos a continuidade de sua força, privada do oxigênio do comando americano e europeu.

Na economia, em última instância, é sempre a combinação de inovação mais consumo de massa que gera o crescimento. Um Steve Jobs simplesmente contribui mais para o crescimento global do que qualquer política econômica a curto prazo. Também é necessário que as circunstâncias geográficas, políticas e culturais favoreçam o surgimento de novos Steve Jobs. Com base nisso, os Estados Unidos continuam a frente da Ásia e da União Europeia, o que é lamentável. Por essa razão, enquanto os norte-americanos não renovarem com um crescimento significativo, a economia mundial permanecerá estagnada.

Tradução: Maria Júlia Ferraz

Disponível no blog do autor

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