PERSPECTIVAS
Quarta-feira, 29 Setembro 2010
« A ciência é a maior força para remover barreiras de desentendimento [entre seres humanos]. »
O revolucionário é um doente mental — não no sentido clínico stricto sensu, mas no sentido cultural e social; trata-se de um sociopata incurável.
Omaior perigo da modernidade tem sido — e é, infelizmente — a mente revolucionária que surtiu do Iluminismo. A ciência e a técnica não têm culpa do descalabro humanitário do século XX. Foi a mente revolucionária a responsável por mais de 200 milhões de vítimas, muitas delas inocentes, só no século XX. Naturalmente que a ciência e a técnica foram usadas na criação da morte em massa, mas não podemos responsabilizar a ciência e a técnica em si mesmas; devemos, antes, pedir responsabilidades à mente revolucionária.
É por demais evidente que a ciência, por sua própria natureza, não se ocupa do sujeito, ou seja, do indivíduo como ser humano. Só podemos fundamentar a noção de sujeito de uma forma tautológica, baseando-a na experiência subjectiva.
O conhecimento científico só concebe acções determinadas e determinísticas; não concebe a autonomia, o sujeito, tão pouco a consciência e a responsabilidade. Esta última é não-senso e não-científica. As noções de autonomia, sujeito, consciência e responsabilidade, pertencem à ética e à metafísica — e não à ciência positiva.
Quando a ciência positiva criou as ciências humanas, varreu paulatinamente o sujeito, colocando em lugar dele as leis, determinações e estruturas. Rapidamente a ideia de sujeito tornou-se mistificadora e insensata, à luz da ciência positiva e da opinião opinativa (Doxa).
Por um lado, foi esta aparente erradicação do sujeito que não só caracterizou a mente revolucionária moderna — como é exemplo o marxismo —, como esta passou a classificar toda a moral comum como sendo subjectiva, enganadora, mistificadora e mitificadora. E quanto mais a moral e a ética comuns criticam a acção revolucionária, mais a mente revolucionária aponta o dedo à moral e à ética comuns, denunciando a sua essência mistificadora. A crítica ética à acção revolucionária é sempre legitimadora da própria acção revolucionária contra o alegado embuste da ética e da moral comuns.
Por outro lado, e seguindo as características básicas do gnosticismo da antiguidade tardia, a mente revolucionária ou gnosticismo moderno cai invariavelmente num excesso moralista, através de um processo de metanóia ou conversão — tal como aconteceu com o puritanismo europeu nos séculos XVII e XVIII. Tal como no puritanismo, esse excesso moralizante é político, e não ético. Todo o desvio ideológico e político, toda a oposição e contestação à mente revolucionária são diabolizados por esta, e a moral e a ética comuns são denunciadas e criticadas de uma forma moralizante. O conceito marxista cultural de “tolerância repressiva” (tudo o que vem do desvio em relação à moral comum, é bom; tudo o que está de acordo com a moral comum, é mau) espelha bem a moral politizada do gnóstico moderno e revolucionário.
Quando a mente revolucionária utiliza o argumento da ciência para negar o sujeito, pretende deturpar a nossa visão da realidade humana e reprimir toda a possibilidade de consciência responsável — exactamente porque a ciência não se pode ocupar do sujeito!
Porém, a mente revolucionária apresenta o argumento científico como sendo “libertador da condição humana”, quando na realidade o propósito do revolucionário é exactamente o oposto daquilo que ele diz pretender com o referido argumento. É exactamente devido à perversidade e tortuosidade dos argumentos da mente revolucionária, que podemos dizer que estamos perante uma força do mal e de morte.
Com a implosão do marxismo-leninismo-estalinismo-maoísmo em finais da década de 80, deu-nos a sensação de que a mente revolucionária se teria extinguido. Porém, o que aconteceu na realidade foi que a missão salvífica — protagonizada por uma minoria ínfima portadora da verdade histórica messiânica, apocalíptica, fascista e terrorista — do revolucionário clássico e marxista se pulverizou numa miríade de movimentos políticos aparentemente autónomos entre si: o gayzismo, o ecofascismo, o aquecimentismo, o feminazismo, o eugenismo, o abortismo, o ateísmo, o neo-ateísmo, o naturalismo, o cientismo, etc., todos estes movimentos políticos têm uma raiz comum e são subprodutos da implosão e do fracasso marxista. Contudo, a doença da revolução não morreu.
O revolucionário é um doente mental — não no sentido clínico stricto sensu, mas no sentido cultural e social; trata-se de um sociopata incurável. O exemplo de Althusser e a sua história pessoal são paradigmáticos daquilo a que podemos chamar de “doença mental revolucionária e ateísta” : não tem cura, e o corolário, no caso da sociopatia de Althusser, foi o assassínio da sua própria esposa.
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