Material essencial

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Um liberal que fez dos meios os fins

 

MÍDIA SEM MÁSCARA

ESCRITO POR KLAUBER CRISTOFEN PIRES | 27 ABRIL 2012
ARTIGOS - CONSERVADORISMO

Do meu testemunho, sempre tive muitas mais razões para depositar confiança na obra do filósofo Olavo de Carvalho do que no comportamento evasivo de Rodrigo Constantino.

Ontem assisti a um vídeo que me foi enviado por um estimado leitor, no qual o economista Rodrigo Constantino descarrega uma série de impropérios contra o filósofo Olavo de Carvalho e aqueles que o seguem ou, usando cá eu de uma expressão mais adequada, concordam com os seus argumentos.

Primeiramente, lamento este tipo de coisa: tenho horror a picuinhas pessoais, e decididamente, não sou adepto do chamado “fogo amigo”. Em meu entendimento, sempre haverá, em grau menor ou maior, divergências entre liberais e conservadores, e mesmo entre os próprios, que serão saudáveis no tanto que forem honestas. Meu sonho é que um dia nossos parlamentos não sejam divididos entre marxistas de diferentes matizes, mas justamente entre variedades de liberais e conservadores.

Infelizmente, as coisas chegaram a um ponto de racha, de tal forma que se dirigiu, na fala do Rodrigo, a um grupo muito maior de pessoas, motivando-me, portanto, a tecer os comentários que seguem.

O vídeo possui quinze minutos, praticamente todo constituído de falas manifestando repúdio a Olavo de Carvalho, a quem chama diversas vezes de “astrólogo embusteiro” e de “incitador de teorias conspiratórias”, bem como pela direita que ele considera retrógrada, fanática e medievalista – os olavetes – epíteto “carinhosamente” lembrado por ele.

Se me lembro de mais alguma coisa, Rodrigo ainda lança dúvidas sobre o conceito de ser humano para fins da defesa do aborto, de estado laico, fala sobre suas experiências na Rússia, faz a apologia das drogas leves como a maconha e critica as teorias conspiratórias do Olavo de Carvalho, entre as quais o Foro de São Paulo. Se me passou algo mais, perdoem-me.

Há coisa de uns oito anos atrás, eu participava de uma rede de discussão pelo Yahoo, na qual frequentemente debatia com Rodrigo Constantino, e já naquela época, pude perceber uma característica peculiar em seu caráter: a frequência com que ele dava meia-volta retroativamente no que afirmava quando se via num beco sem-saída. O mais interessante é que jamais comentei isto com ninguém, especialmente com Olavo de Carvalho, justamente a pessoa que veio por si mesmo a constatar exatamente o mesmo que eu, anos atrás.

Naquele mesmo tempo, eu ainda me lembro, o Sr. Constantino trabalhava para uma grande instituição financeira e viajava constantemente para a Rússia, sobre a qual nos declamava todos os elogios como exemplo de nascente economia de mercado e as mais lisonjeiras esperanças de amplas liberdades civis, não obstante todo o ceticismo que nos acometia, munidos que estávamos das notícias que já tínhamos  - vindas do filósofo Olavo de Carvalho - das manobras para manter aquele país nas mãos dos dirigentes comunistas, agora transformados em milionários gangsters. Ainda demorou uns bons anos para que Rodrigo Constantino viesse a dar o braço a torcer e reconhecer que se enganara completamente a respeito daquela nação. Surpreende-me, portanto, que neste vídeo ele ainda reivindique como curriculum vitae seus desastrados prognósticos. Mentira minha: não estou tão surpreso assim não...

Tenho há muito me posicionado como um liberal. Não obstante, é preciso deixar bem claro, tal como o próprio filósofo-economista Ludwig von Mises alertou em Ação Humana, que a doutrina liberal austríaca é uma “ciência de meios”, e não de fins. Em outras palavras, o liberalismo austríaco não se propõe a ninguém indicar quais valores que deve adotar para si, mas apenas indica o caminho mais rápido para uma sociedade conseguir enriquecer mais rapidamente, dentro de um ambiente de paz duradoura e de um regime de não-agressão à vida e à propriedade privada.

Por isto mesmo, o liberalismo necessita do complemento valorativo. É um erro colossal transformar um sistema de meios em um sistema de fins. Os valores que adoto para mim mesmo e que recomendo a todos provêm do Cristianismo. Daí referir-me a mim mesmo como um liberal cristão ou se quiserem, para simplificar, de um “conservador”. (Não sou lá tanto chegado a rótulos, mesmo... Só não abusem: socialista, petista e o escambau, nem pensar!).

Um exemplo bem simplório de valor: muitos liberais acusam os socialistas de inveja, no que estão cobertos de razão. Mas em minha vivência, tenho percebido como a soberba de certos ricos provoca rancor e ressentimento entre as pessoas mais humildes. A inveja socialista se alimenta da imoral soberba capitalista. 

Eu cresci numa média cidade industrial  - Joinville, em Santa Catarina – e em minha fase pré-adolescente ainda pude testemunhar a simplicidade com que os próprios donos das fábricas chegavam ao trabalho e cumprimentavam seus operários como bons vizinhos que, acreditem, eram!

Outra: em um certo programa exibido pelo elegante cantor e apresentador Ronnie Von, pela TV Gazeta, fora entrevistado um cantor brega-sertanejo que nasceu no interior do Maranhão e que segundo o próprio, havia recebido dos pais uma educação bastante rígida. O que quero ressaltar aqui é a identidade entre ambos logo percebida e ressaltada pelo próprio apresentador, que embora tenha nascido em São Paulo no seio de uma família rica, salientou que recebeu dos seus pais e da escola a mesma educação e os mesmos valores do cantor de origem pobre nascido no interior daquele estado nordestino! Olhem só que coisa bonita!

A riqueza é boa, não se negue, mas a soberba, esta corta como navalha! Não há a quem não doa a alma testemunhar jovens ricos dirigindo perigosamente pelo trânsito, ou tratando com despeito professores nas faculdades ou quaisquer outras pessoas trabalhadoras que se enquadrem em uma classe social mais modesta.

Os hábitos comedidos, os bons modos e o respeito sincero, aqui só a guisa de exemplo, são alguns valores que complementam um sistema de liberdades, harmonizando e adoçando a convivência entre pessoas de diversas posses. Pois, se a um é solicitado conter a sua inveja, a outro também deve ser requisitada a humildade.

Agora, sobre o caso dos fetos anencéfalos, cumpre informar que Rodrigo Constantino comete a imperdoável confusão teórica e demonstra escassos conhecimentos jurídicos. No seu vídeo, ele argumenta que não há um consenso preciso de quando um feto venha a se tornar um “ser humano”, e claro, alijada desde já a religião, uma vez que a sua é o ateísmo. A quem se dispuser a ouvir sua fala, perceberá a confusão que ele faz entre o termo biológico “ser humano” e o termo jurídico “pessoa civil”.

O conceito biológico de ser humano compreende o embrião desde a concepção. Oras, não se tratando de pedra, nem de vegetal, nem vírus ou bactéria ou um bolinho de bacalhau, é óbvio de se trata de um ser humano, na fase de feto, assim como eu sou um ser humano, na fase de um senhor quarentão.

Já o termo jurídico “pessoa civil” presta-se a definir o momento da personalidade civil, tal como prevista no art. 2º do Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que diz: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.

Para ser mais exato, o que é necessário para que um bebê recém-nascido adquira personalidade civil é que faça pelo menos uma inalação e uma exalação de ar. Respirou uma única vez, adquiriu status de pessoa civil. A marcação exata da personalidade civil serve para prover necessidades jurídicas específicas no âmbito do direito civil, especialmente no que diz respeito a heranças e linhas sucessórias.

No entanto, percebam, em tempo, que a própria redação já assinala a garantia dos direitos do nascituro desde a concepção. Ora, como alguém pode ser sujeito de direitos se não tiver o direito ao maior dos direitos, isto é, à vida? 

Quanto à questão de estado laico, é bom frisar que não estamos diante de um estado ateu. Porventura não me prospera o direito de empurrar goela abaixo de qualquer ateu as minhas convicções religiosas, razão pela qual o Sr. Constantino pode dormir sossegado. Entretanto, as minhas concepções espirituais informam-me os meus valores, e aí o buraco é mais embaixo! Quem há de alegar que os meus direitos políticos devem ser preteridos em favor dos de qualquer ateu?

Finalmente, sobre as drogas leves, ou mais diretamente, sobre a maconha: sou contra a descriminalização! Sou contra, porque não é droga leve coisa nenhuma! Já ficou demonstrado como a maconha mata as células neurais, tornando seus usuários pessoas lentas, indispostas, de fraca memória e raciocínio lento.

Aqui vale também contrapor meu testemunho vivencial ao de Rodrigo Constantino. Eu também viajei muito para o exterior, e no meu caso, principalmente para os “tigres asiáticos”, especialmente Cingapura, Coréia do Sul, Taiwan e Japão. Pois, o que vi lá foram povos pujantes e cheios de energia, com sua juventude viçosa e intensamente dedicada aos estudos e ao trabalho. E o que vemos das juventudes americana e brasileira? Jovens frívolos queimando o cérebro com todo tipo de drogas!

Tenho a mais firme convicção de que as drogas fazem parte do arsenal de guerra civilizacional. Um povo drogado é um povo destruído. Simples assim!

Finalizando: eu não tenho por conduta a adesão. Eu leio permanentemente do Olavo de Carvalho e concordo com seus argumentos quando me convencem, ou, dada a respeitabilidade do filósofo por um imenso histórico de acertos, quando coloco um assunto de molho para melhores reflexões. Nem sempre concordo, e tenho isto mesmo por muito saudável.

No âmbito da defesa do liberalismo austríaco e da denúncia do socialismo, Rodrigo Constantino costuma escrever muito bem, e tanto assim que vez por outra faço questão de reproduzir seus artigos. Entristece-me, porém, a aplicação de tanta energia em causas vãs ou duvidosas.
Do meu testemunho, como demonstrei nos parágrafos acima, sempre tive muitas mais razões para depositar confiança na obra do filósofo Olavo de Carvalho do que no comportamento evasivo de Rodrigo Constantino.

Um comentário:

  1. Caro KLAUBER,
    Também vivi muito tempo em Joinville (1989-2002) e pude testemunhar a mesma coisa que você: a simplicidade dos megaempresários de lá: Edgar Meister, Ingo Doubrawa, Wittich Freitag, Udo Dohler e tantos outros. Sobre essa porfia sem sentido - fogo amigo, como bem lembraste -, também estou contigo. Leio e gosto do Constantino, quando ele fala de economia, assim como leio, ouço e gosto muito do que nos revela mestre Olavo.

    ResponderExcluir

Olá internauta

O blog Cavaleiro do Templo não é de forma algum um espaço democrático no sentido que se entende hoje em dia, qual seja, cada um faz o que quiser. É antes de tudo meu "diário aberto", que todos podem ler e os de bem podem participar.

Espero contribuições, perguntas, críticas e colocações sinceras e de boa fé. Do contrário, excluo.

Grande abraço
Cavaleiro do Templo