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sábado, 5 de maio de 2012

O novo herege: aborto, eutanásia, drogas, casamento gay e um método para o ceticismo

 

LUCIANO AYAN

 

Há algum tempo o blog “Paio com Ervilhas”, publicou um post sobre mim com o título “O inimigo do meu inimigo”. A conclusão para o tópico dele era a seguinte: “O inimigo do meu inimigo… não é necessariamente meu amigo”.

Duas frases minhas foram citadas, em especial:

  1. “Acredito que o aborto deva ser liberado para os casos em que o bebê não sinta dor.”
  2. “Em relação aos direitos dos gays se casarem e adotarem crianças, eu acho aceitável”.

Jairo Filipe conclui sua análise sobre estas frases desta forma:

Com inimigos da esquerda e “conservadores” desta qualidade, gayzistas e abortistas militantes já não são precisos. Talvez o Luciano Ayan gostasse de ter sido abortado no ventre da sua mãe (sem sentir dor) e que uma parelha homossexual tivesse tido o “direito” de o adoptar quando ele era criança. Ou isso, ou o Luciano Ayan passa bem com o mal dos outros.Tendo em consideração aquilo que agora defende, esse autor passará a ser considerado e tratado comoadversário.

Não é preciso dizer que discordo de Jairo, embora respeite a opinião dele, e continuo gostando de várias postagens que ele faz.

Acredito que ele fez uma interpretação errada de meus posts.

Segundo ele eu “defendo” o aborto. Nada disso. Eu tenho a OPINIÃO de que o aborto não é um problema, desde que a criança não tenha ainda um desenvolvimento que a habilite a sentir dor. Ou seja, não é um animal lutando por sua sobrevivência ou anseiando por ela. Na verdade, nem esse instinto surgiu ainda. Isso nos primeiros estágios de gestação.

Explico.

Eu sou um fã de Arthur Schopenhauer. Segundo ele, “a maior felicidade é não nascer”. Então, essa “valorização da vida a qualquer custo” nunca foi parte de minhas crenças. É assim que sou.

Essa frase de Schopenhauer pode ser explicada da seguinte maneira. A vida é cheia de felicidade, e infelicidades. Muito mais infelicidades do que felicidades, diga-se. Até pessoas milionárias passam por isso. Na soma entre felicidades e infelicidades, a tendência é que o resultado seja negativo. Mas, antes do nascimento, a soma é zero. Ou seja, a maior felicidade é o estágio em que alguém não nasceu.

Isso não signifique que eu relativize a vida humana, pelo contrário. Entendo que assim que a criatura humana adquire seu instinto de sobrevivência, devemos valorizar a vida humana e proibir o aborto. Isso a partir de algumas semanas de gestação, quando temos certeza que estamos diante de uma criatura lutando por sobrevivência. É como eu já disse certa vez: a vida muitas vezes é uma merda, mas já que alguém luta pela vida, lutarei por esse direito à vida.

Está resumida a minha visão sobre o aborto, que me faz ser alguém que acredite que o aborto não é uma má idéia em alguns casos.

O erro de Jairo Filipe está em dizer que eu DEFENDO o aborto. Não é assim. Eu tenho uma OPINIÃO (mas não um bom argumento) a favor do aborto, portanto não gasto muito tempo DEFENDENDO ele. É mais ou menos como ouvir Paradise Lost. Eu tenho a opinião de que é uma ótima banda. Mas não gasto tempo DEFENDENDO a banda, quando sei que outros ouvem Michel Teló.

Já quanto a eutanásia, para mim não há acordo: sou a favor de sua liberação, de forma irrestrita.

Como eu não fui abortado, e por isso nasci e peguei GOSTO PELA VIDA, não tenho tantos motivos para apoiar o aborto. Ja a eutanásia é algo que, se aprovado, pode me beneficiar CASO EU NECESSITE.

Aí a questão é diferente: se eu não DEFENDO o aborto, embora eu ache que ele é uma boa idéia em alguns casos, eu DEFENDO a liberação da eutanásia. Isso não significa que as pessoas que sejam vítimas de acidentes que as deixem inválidas DEVAM SER OBRIGADAS a morrer, mas sim TER ESSE DIREITO, caso queiram.

Também temos a questão das drogas: sou a favor da liberação IRRESTRITA das drogas. Não importa o tipo de droga. Maconha, LSD, crack, óxi…

A diferença é que eu apóio, AO MESMO TEMPO, que o uso de drogas jamais seja um atenuante para crimes, mas um agravante. Portanto, se alguém pratica um assassinato, a pena poderia ser de 15 a 20 anos de cadeia. Caso seja descoberto que o assassino estava sob influência de drogas, AUMENTA-SE 5 anos na pena. Resumindo, ao mesmo tempo em que se liberam as drogas, aumenta-se a responsabilidade dos usuários.

Por fim, o casamento gay: eu não acho que os gays devam ter o direito de “se casarem”, mas sim de terem união civil, compartilharem bens, etc. AO MESMO TEMPO em que acho justo um heterossexual criticar todo o comportamento gay, assim como um ateu pode criticar o comportamento de um religioso, e um religioso criticar o comportamento de um ateu. Novamente, deve-se prestar atenção: ao mesmo tempo em que defendo o direito dos gays se unirem, defendo o direito dos heterossexuais criticarem esse comportamento.

Acredito que os 4 pontos acima fariam alguns conservadores mais puristas se “arrepiarem”, e talvez Jairo Filipe agora me considere pior do que antes. Um monstro, vá lá.

Um amigo até me disse: “com opiniões como essas a favor do aborto e do casamento gay, você se tornou um idiota útil dos esquerdistas”.

Nada disso. O meu apoio a alguns direitos gays é totalmente diferente daquele defendido pelos esquerdistas. Os esquerdistas querem proibir as críticas aos gays, e eu luto pelo direito de criticá-los. Os esquerdistas são contra as punições a responsáveis por crimes, e eu, no caso de drogados, peço a AMPLIAÇÃO da punição. Se os esquerdistas defendem o aborto, eu não estou nem aí se o aborto é aprovado ou não. Não dou a mínima. Até por que não tenho mais esse direito (risos). Acho que o único ponto em que estaria ALINHADO com esquerdistas seria na questão da eutanásia. Se um dia for preciso, QUERO esse direito.

A idéia de que eu estaria DO LADO dos esquerdistas somente por causa destas opiniões e posições ideológicas, não faz muito sentido.

Aliás, se há algum site que tenha sido mais incisivo contra os esquerdistas do que esse aqui, eu desconheço.

Abaixo, alguns posts que são aqueles que elenco entre os preferidos que já escrevi:

Posso garantir que, se o conhecimento nesses textos for assimilado (junto com o conhecimento das rotinas e estratégias dos esquerdistas), VOCÊ NÃO PERDE debates para esquerdistas. Com essa prática, você começa a tornar a vida deles praticamente um inferno.

É isso que tenho a oferecer, mas não um modelo de conduta. Eu não quero ser exemplo de comportamento para ninguém, e acho que é isso que o amigo Jairo parece não ter compreendido.

Não acredito que devamos avaliar argumentos e ideologias por causa de algumas idéias “incomuns” do argumentador. Suponhamos que Olavo de Carvalho resolvesse praticar surubas. Eu continuaria achando “O Jardim das Aflições” um dos melhores livros que já li. Ou até mesmo John Gray, que acredita no estado inchado. Mesmo assim acho o ceticismo dele contra o humanismo uma das coisas mais influentes para mim. Também acho que as vezes Pondé se perde em egocentrismo, como em seu recente e ótimo “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”. Mas seu ataque ao politicamente correto é empolgante.

Não acho difícil separar o autor de suas idéias, e acho que quanto mais praticarmos esse costume, mais é possível assimilar novos conhecimentos e ampliarmos nosso “core” de conhecimentos.

Enfim, se ainda assim for difícil separar o autor de suas idéias, sugiro que aqueles que se incomodem com minhas posições em relação à eutanásia e as drogas, que passem a me chamar da mesma forma que indico aos esquerdistas: um novo herege.

Estou aqui para questionar uma ortodoxia de crença ao homem, que atende por humanismo (e suas manifestações como marxismo, nazismo, fascismo, progressismo, positivismo e outras formas particulares de humanismo, como humanismo secular). Essa é a minha heresia.

Textos como os que citei fazem parte do meu método herético de questionamento à religião política.

É essa minha contribuição.Portanto, quando Jairo diz o seguinte: “Com inimigos da esquerda e “conservadores” desta qualidade, gayzistas e abortistas militantes já não são precisos”, ele se equivoca. Não é de “mim” que esquerdistas ou conservadores precisam. Mas sim do meu método. Não é de meu exemplo comportamental que precisam, mas do meu modelo de questionamento. Não é de minhas “opiniões” que precisam, mas da refutação das rotinas que desmascaram a esquerda.

Portanto, mesmo que eu não seja um “amigo” para o Jairo Filipe, eu ainda sou o maior inimigo possível (quer dizer, o meu método) que os inimigos dele poderiam ter.

2 comentários:

  1. Luciano Ayan,
    Não adianta combater o inimigo com uma única arma (idéia): o livre mercado.
    O inimigo socialista tem muitas armas (pontos fracos): intervenção estatal, aborto, casamento gay, ateísmo, cotas raciais, cooperação. Não adianta vencer nos argumentos contra a intervenção estatal (livre mercado) e não tomar posição nas outras. Ele vencerá com o uso das outras.
    Na verdade, a sua posição é contra a intervenção estatal, mas é maria vai com as outras nas outras questões. Daí o inimigo vence os capitalistas e você vai com o inimigo (maria vai com as outras).
    www.blogdonavarro.com.br

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  2. ABORTO E FELICIDADE

    Sou contra o aborto, de qualquer modo.
    Creio que o Ayan, a quem respeito, interpreta de modo radical a Schopenhauer.

    Só pode pensar sobre felicidade quem nasceu.
    Para quem não nasceu nada há, nem felicidade e nem infelicidade. Tais seres são inexistentes, assim a tal soma zero é inadequada para o caso.

    A felicidade ou infelicidade só podem ser avaliadas da perspectiva de um sujeito.

    Se houvesse uma felicidade total absoluta fora do sujeito, nada impediria a existência também de uma infelicidade absoluta, que fosse diminuída ao longo da vida. Por que não?

    Assim, dificilmente poderíamos nos colocar na posição de um feto que não sente nada. quem garante isso?

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