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quinta-feira, 22 de março de 2012

Contra o narcoterror vermelho não basta apenas a contra-guerrilha

 

MÍDIA SEM MÁSCARA

ESCRITO POR CEL. LUIS ALBERTO VILLAMARÍN PULIDO | 21 MARÇO 2012
NOTÍCIAS FALTANTES - FORO DE SÃO PAULO

A ação militar é fundamental, porém demanda o mesmo compromisso dos demais entes estatais.

Nota da tradutora:

O vídeo abaixo ilustra o fato citado pelo autor do texto onde pode-se ver o estado em que ficou a igreja. Neste atentado, o padre chamou as pessoas idosas, mulheres e crianças a fim de se protegerem do brutal enfrentamento entre as FARC e as AUC pela posse do território que, como bem salienta o autor, é um corredor muito cobiçado pela sua posição geoestratégica banhado por dois oceanos. As imagens são chocantes, pois os terroristas das FARC, que dizem lutar com e pelo povo, não titubearam em jogar um cilindro-bomba dentro da igreja provocando esse massacre. Nos jornais da época dizia-se que “havia pedaços de corpos grudados nas paredes”, e a maioria era crianças...

 


Presidente Santos: o Chocó necessita muito mais do que um batalhão de contra-guerrilhas

O problema de desordem pública do Chocó não é novo, em que pese ser um estado abençoado com riqueza ecológica sem par no planeta, minerais, costas virgens, privilegiada posição geoestratégica e mil bondades mais. Entretanto, governado desde sempre por castas corruptas e ineficientes, mais de 90% de sua população vive em condições infra-humanas e como um vergonhoso apêndice de sucessivos e incompetentes governos centrais.

A fronteira com o Panamá, a posse de costas sobre os oceanos Pacífico e Atlântico, a mineração ilegal, a ausência de presença estatal e a pobreza crescente, converteram-se no caldo de cultura para incubar desde sempre delinqüentes de todos os tipos, situação que aumentou com o narcotráfico, o contrabando de armas, a passagem de dinheiro das máfias e carregamentos de drogas, e a ambição geoestratégica das FARC e das auto-defesas ilegais para instalar seus domínios em terras de ninguém.

Assim, hoje as FARC, o ELN, os Rastrojos, os traficantes de seres humanos para os Estados Unidos, os contrabandistas, os prófugos da justiça, etc., encontraram neste paraíso terrenal um território apto para se esconder e delinqüir ante o olhar impávido dos donos do poder na capital, com a circunstância agravante de que, com escassas exceções, a comunidade chocoana tem carecido de líderes honestos e com visão estratégica que a impulsionem para adiante.

O dantesco episódio da morte de mais de 150 pessoas na igreja de Bojayá [1], produto da guerra particular e sem quartel entre as FARC e as AUC, é apenas um reflexo do que sucede lá. Devido à ausência de Estado no desenvolvimento das tendências do Plano Estratégico para a tomada do poder mediante a combinação de todas as formas de luta, o Partido Comunista e as FARC infiltraram empobrecidas comunidades no selvático estado e criaram espécies de repúblicas independentes, nas quais com o conto chinês da paz pretende-se desconhecer a institucionalidade, a autoridade oficial e evitar a presença militar ou policial.

Por óbvias razões, os comissários políticos do narcoterror promoveram todo tipo de manifestações públicas dessas comunidades e as fizeram parte ativa da guerra jurídica contra o estamento militar, enquanto a solícita Frente Internacional das FARC procuraram ações internacionais de ordem política, diplomática e propagandística, direcionadas a legitimar a rebelião camuflada e evidentemente deslegitimar o Estado e suas Forças Militares.

Por desgraça, e do mesmo modo que ocorreu em outras regiões do país que padecem situações semelhantes de abandono e carência de ação estatal, os governos de turno - sem exceção - desde 1968 em diante que apareceram os primeiros brotos de terrorismo comunista em Chocó, além de seus antecessores que nunca se preocuparam com essa região, recorreram à solução facilitadora de enviar as tropas para combater os grupos armados ilegais, sem que simultaneamente com elas fossem programas concretos de desenvolvimento com objetivos a médio e longo prazo.

Reiteramos, pela enésima vez e não cessaremos de fazê-lo, à falta de visão político-estratégica dos governantes de turno frente a esta rica região, soma-se a ignorância crescente de governantes, ministros, legisladores e juízes colombianos frente ao Plano Estratégico das FARC. De maneira incrível passaram quase cinco décadas de terrorismo comunista contra a Colômbia, e ainda os politiqueiros de turno, os honoráveis magistrados, os experts ministros, os sábios diretores de departamentos administrativos e essa elite de sabichões que pululam na Colômbia, acreditam que a solução para este problema é unicamente militar.

Finalmente, com bom critério mas sem examinar a fundo os demais componentes do complexo conflito, os comandos militares afirmaram que estamos no fim do fim, que o problema se resolve em dois anos, que as mortes dos principais cabeças conduzirão à rendição dos demais bandidos, etc.

Também temos insistido desde há mais de 20 anos em múltiplos escritos, cenários acadêmicos, meios de comunicação e trabalhos investigativos, que o problema do narcoterror comunista se soluciona com ações integrais de Estado. Que a ação militar é fundamental, porém que ela demanda o mesmo compromisso dos demais entes estatais, quer dizer, que assim como os soldados dão até suas vidas por um soldo miserável, os funcionários públicos devem trabalhar para o que os elegeram e não para seus bolsos, suas prebendas ou suas conveniências politiqueiras.

Nessa ordem de idéias, requer-se um presidente que elabore com sua equipe de trabalho uma estratégia integral convertida em política de Estado, não em conjuntura de quatriênio, na qual se fixem objetivos concretos, dos quais não se pode ficar com o pé atrás em todos os campos da administração, para que regiões como o Chocó se harmonizem com o desenvolvimento do resto do país, para que os comunistas não encontrem incautos prontos para se juntar à guerrilha, para que os narcos não tenham mão de obra e para que os politiqueiros não roubem mais.

Construir estradas dignas que unam o Chocó com Antioquia, o Valle e o Velho Caldas e - por que não? -, construir o canal inter-oceânico na fronteira com o Panamá, redundariam em fontes de emprego, projetos de eco-turismo, agricultura, criação de gado, pesca e muito mais.

De posse destas ações chegaria o desenvolvimento social e econômico em todos os sentidos, pois os ministérios em seu conjunto imersos dentro de um esquema político-estratégico, participariam com efetividade em programas de longo fôlego, não em conjunturas demagógicas como o recente conselho de governo em Quibdó.

O refinamento do Plano Estratégico das FARC feito por Cano e Iván Márquez uniu em um só conjunto de trabalho os Blocos Caribe e norte-ocidental, que se articulam com o Comando Conjunto sul-ocidental para fazer presença geoestratégica sobre litorais e fronteiras, com vistas a construir milícias bolivarianas e células do Partido Comunista Clandestino nas regiões Pacífica e Caribe. E Chocó está no meio desse esquema.

Tal situação merece respostas estratégicas de Estado a longo prazo, não a manipulação oportunista da situação levando tropas para enfrentar os bandidos com as armas, enquanto os politiqueiros corruptos de Quibdó e os acomodados de Bogotá continuam felizes a custa do sangue de colombianos de ambos os lados.

A ação militar contra o narcoterror comunista é necessária mas não única nem definitiva. O Chocó necessita de força pública mas também estratégia integral do Estado, investigação exaustiva a todos os que governaram esse empobrecido estado e soluções políticas, sociais, econômicas e psicossociais para educar as novas gerações em um entorno diferente ao delito com o qual têm convivido por décadas, devido à inoperância dos demagogos que governaram a Colômbia.

Por essas razões, não basta instalar um batalhão no Chocó. A solução é mais profunda. Do contrário, será mais do mesmo e o que é mais dramático, como em outras partes do território nacional, o Exército acabará com a carga da irresponsabilidade político-administrativa dos governos nacional, estadual e municipal. Simples assim.

Tradução: Graça Salgueiro

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