ZENIT
ZP12020709 - 07-02-2012
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A baixa fecundidade e a crise econômica
ROMA, terça-feira, 7 de fevereiro de 2012 (ZENIT.org) - O desenvolvimento sustentável é a palavra de ordem do século XXI e não pode ser conseguido sem a melhoria da saúde reprodutiva. É o que disse em recente reunião da Comissão Executiva do UNFPA o diretor Babatunde Osotimehin, conforme comunicado de imprensa de 1º de fevereiro.
A UNFPA é o organismo da ONU responsável por promover o planejamento familiar, que inclui os contraceptivos e o acesso ao aborto. Reduzir a fertilidade, de acordo com o Diretor Executivo, é a chave para o sucesso econômico.
No entanto, esta afirmação é cada vez mais desmentida pelos fatos. O Japão é um dos exemplos mais evidentes. Os últimos dados oficiais prevêem uma diminuição de 30% da população nipônica, que deverá cair para menos de 90 milhões até 2060.
Para aquele ano, conforme publicado pela Reuters em 30 de janeiro, o número de pessoas de até 14 anos será inferior a 8 milhões na Terra do Sol Nascente, em contraste com os 35 milhões de cidadãos com 65 anos ou mais, que haverá na mesma época. As previsões apontam que a taxa de fecundidade no país, ou seja, o número esperado de crianças nascidas por casal, deverá cair para 1,35 em 2060, em comparação com 1,39 em 2010, muito abaixo dos 2,08 necessários para impedir o declínio da população.
Estas projeções se baseiam em estimativas do censo japonês de 2010 e apresentam três cenários: um moderado, um otimista e um pessimista. Todos foram traçados pelo Instituto Nacional de População e Pesquisa de Segurança Social, como informou o jornal Daily Yomiuri Online (31 de janeiro).
O prognóstico divulgado corresponde à estimativa moderada e prevê que 39,9% da população terá 65 anos ou mais em 2060.
Mesmo antes da publicação dos últimos dados, já havia preocupação com as consequências econômicas da baixa taxa de natalidade no Japão. Além disso, o que está acontecendo naquele país é uma prévia do que também acontecerá em outras economias maduras.
Uma reportagem da Reuters, de 12 de janeiro, cita um especialista do Deutsche Bank em Hong Kong, Ajay Kapur, que afirma que os mercados acionários estão preocupados com as tendências demográficas na maioria das economias desenvolvidas. Segundo Ajay Kapur, seria um erro fundamental pensar que a estagnação econômica do Japão nas últimas duas décadas seja um caso único.
"Ao longo dos próximos cinco anos, todos os dezoito países desenvolvidos dos quais o Deutsche Bank possui dados do mercado imobiliário ao longo dos últimos cinquenta anos vão sofrer um declínio nas suas relações de população em idade ativa", reforça o analista na matéria da Reuters.
A combinação de menos pessoas na força de trabalho e altos níveis de dívida leva a condições econômicas muito desfavoráveis, adverte ainda Kapur.
O envelhecimento da população significa que uma reforma séria da previdência social e do sistema fiscal é necessária no Japão, de acordo com o secretário-geral do governo, Osamu Fujimura, que se manifestou a respeito durante uma conferência de imprensa neste 1º de fevereiro (Daily Yomiuri Online).
Em 1960, um aposentado japonês era sustentado por 11,2 trabalhadores. Em 2010, para sustentar cada pensionista existem apenas 2,8 trabalhadores. Em 2060, espera-se que haverá no país apenas 1,3 trabalhadores para cada aposentado.
Muitos outros países estão tentando lidar com os efeitos de uma taxa de fecundidade que caiu abaixo do nível de reposição.
Conforme relatado pelo Guardian (23 de janeiro), o presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, alertou que a falta de crianças no país é "uma séria ameaça à segurança nacional". Em 1951, cada mulher na ilha tinha em média sete filhos. Em 2010, a taxa de fertilidade caiu para 0,89. Se hoje cerca de 14% da população tem mais de 65 anos, esse número poderá dobrar em apenas duas de décadas.
Ainda de acordo com o Guardian, atualmente sete pessoas que trabalham em Taiwan sustentam um aposentado, mas em 2045 essa proporção cairá para apenas 1,45.
"Um envelhecimento rápido significa um declínio na força de trabalho, e, no longo prazo, sugere um declínio da própria população, o que desacelera a economia", afirmou Mas Tieying, economista do DBS Bank, em Cingapura.
Seu alerta consta em um relatório sobre as prementes consequências econômicas da baixa fertilidade em Taiwan, publicado em 25 de janeiro do ano passado pela Bloomberg BusinessWeek.
Uma geração
Outro especialista que recentemente se manifestou sobre o assunto é Sarah Harper, diretora do Instituto Oxford de Envelhecimento Populacional, da Universidade de Oxford. Segundo Harper, em meados do século, a União Europeia registrará um aumento médio de 23% no custo das aposentadorias (The Independent, 31 de janeiro).
A pressão máxima, no entanto, não será na Europa, mas nos países da América Latina e da Ásia, que estão experimentando um rápido declínio das taxas de fertilidade.
A Europa, reiterou Harper, teve mais de um século para se adaptar a essas mudanças, mas a maioria dos países em desenvolvimento terão somente uma geração.
O rápido declínio dos nascimentos na América Latina, devido em parte a programas patrocinados pelas Nações Unidas, é evidente em dois exemplos recentes.
Um relatório divulgado em 25 de janeiro pela Prensa Latina indica que, provavelmente, a população entrará em declínio até 2025. Segundo o diretor do Centro de Pesquisa sobre População e Desenvolvimento, Juan Carlos Alfonso, 26% da população da região terá atingido até então a idade de sessenta anos.
Outro estudo, veiculado em 15 de janeiro pela emissora de rádio U.S. National Public Radio, revelou que, da média de seis filhos por mulher que o Brasil tinha há cinquenta anos, o país tem hoje uma taxa de fecundidade inferior à dos Estados Unidos: 1,9 filhos por mulher.
Quedas tão rápidas e dramáticas nas taxas de nascimentos empurram inevitavelmente para graves crises econômicas, muito distantes do suposto "desenvolvimento sustentável".
Pe. John Flynn, LC
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