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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Ópio de Frankfurt e a USP

 

STATO FERINO

Posted by Stato Ferino on novembro 26, 2011

Publicado em: A Ditadura do Politicamente Correto, Filosofia, Política. Marcado: ópio, Escola de Frankfurt, Jean Wyllys, Marx, PM. 5 comentários

Para Karl Marx, “a religião é o ópio da humanidade”. Para Raymond Aron, o marxismo é o ópio dos intelectuais. Para esses que vos escrevem, porém, a maior droga alienadora da comunidade acadêmica da Universidade de São Paulo é a sua própria – e abissal – carência de opiniões formadas.

Explicaremos.

Vivemos na época das imagens, na qual o “parecer” ganhou maior relevância em detrimento do “ser”. No palco do cotidiano, lê-se determinada revista para se mostrar atualizado. Aplaudem-se – de pé – determinados discursos para serem vistos intelectuais. Abstém-se de opinião formada para ser aceito. É a pura constatação da comunidade alienada em si mesma, como já trataram Adorno e Horkheimer, na elegantíssima Dialética do Esclarecimento.

Aqui fica evidente aquele preceito contratualista hobbesiano, pelo qual os homens voluntariamente se despojam da liberdade de julgamento sobre o bem e o mal, sobre o justo e o injusto, comprometendo-se a considerar bom e justo o que ordena o “soberano”. Mas quem é hoje, em termos sociais, o soberano Leviatã?

Fato é que em dias atuais não se pode ter mais conceito. É politicamente incorreto! Há obediência à opinião imposta, não porque esta é boa ou justa, frise-se, mas porque ela é imperativa. O indivíduo, nesse sentido, é a conjuminância daquilo que querem que ele seja. Exerce-se a liberdade virtual (aparente), por conseguinte, quando se está na maioria [que se manifesta], e esta maioria representa suas idéias.

E a “esquerda” protagoniza esse estupro do intelecto.

Sabe-se que o modelo educacional brasileiro vigente foi um projeto socialista. O método de Vygotsky foi o modelo de alfabetização responsável pelo surgimento dessa grande massa de analfabetos funcionais, necessários para a manutenção do status quo – da qual podemos extrair vultosos exemplos uspianos –, pois ensina a ler, mas não ensina a interpretar, nem, tampouco, a criticar o que foi lido.

Ora, se o indivíduo que lê um simples artigo é incapaz de tecer comentários críticos sobre o mesmo, também será inapto para fazer ressalvas ao que é propalado verbalmente, porque, logicamente, não tem argumento. Tira-se a capacidade da juventude de reagir ao que se está acontecendo.

Por que essa esquerda não questiona o teor dos argumentos contrários ao professado nos seus megafones, mas se foca na “fonte” destes argumentos, numa tentativa desesperada de viciar todo o discurso? Por que é tão freqüente o uso de sanções sociais (no sentido dado por Bobbio) para o pensamento adverso? Seria essa uma prova da evolução social como desenvolvimento da consciência moral, nos termos de Habermas?

É nesse contexto que observamos a curiosa dialética das opiniões sobre a PM. Ao afirmar “treme burguesia”, os manifestantes de ontem na Av. Paulista explicitam mais uma vez sua incapacidade crítica, sua inépcia intelectual. Do lado desses manifestantes, a polícia seria mais um instrumento da “burguesia” opressora, enquanto do lado dos moradores da Rocinha – ou seja, do povo –, um órgão apto para a manutenção da segurança.

Além disso, amigos, é cristalino que para se fazer uma manifestação às 16h de uma quinta-feira, de duas uma: ou o sujeito é patrão – e, portanto, dono do seu tempo –, ou não trabalha – seja porque não precisa, sejam por vicissitudes adversas (e, neste caso, convenhamos, seria melhor estar procurando emprego). Categórico é, contudo, que uma grande parcela desses manifestantes está inserida nessa segunda hipótese. Questiona-se: quem tem maior legitimidade para referenciar outrem de “burguesia” [como se fosse um grande mal ser burguês], os tais manifestantes ou aqueles moradores das favelas?

Outro exemplo jocoso está no recente artigo do Dep. Jean Wyllys (PSOL-RJ), publicado na CartaCapital, intitulado “O Começo de uma Teocracia no Brasil?“. O douto Deputado critica a PEC protocolada pelo seu colega Dep. João Campos, (PSDB-GO) que, grosso modo, pretende conceder legitimidade para as “associações religiosas” proporem ação de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos. Até aí tudo bem. Mas vejamos a linha argumentativa do eminente político: “O fundamentalista João Campos refere-se em sua PEC, malandramente, a ‘associações religiosas’. Porém, deve-se tomar essa expressão por ‘igrejas cristãs’”.

Não precisamos de muito esforço para saber que esse é um exemplo claro da existência do analfabetismo funcional no Brasil. É uma interpretação evidentemente absurda conceber “associações religiosas” como “igrejas cristãs”. Senão vejamos. A coisa mais óbvia do mundo é que, num raciocínio aritmético, qualquer “religião cristã” é um subgrupo de “religiões”. A teoria dos conjuntos faz este termo abranger aquele. Por analogia tão flagrante quanto primária, “associações religiosas” é um termo que necessariamente abrange “associações cristãs”, tanto quanto “associações muçulmanas”, “budistas” ou “evangélicas”; trata-se aqui, obviamente, de um problema entre gênero e espécies. A leviana construção do ilustre parlamentar é, por isso, absolutamente impossível, como impossível também qualquer interpretação diferente da (includente) terminologia agasalhada pelo PECGênero e espécie, “leia-se” jamais são igualáveis, como firmemente afirmaria uma criança de cinco anos, mesmo destituída de qualquer Ph. D. em Aristóteles.

Eis um exemplo pitoresco do tamanho do cadeado que, ao suprimir tanto a liberdade quanto a capacidade lógicas, aprisiona a consciência geral, tornando-a incapaz de conceber as constatações mais simples e indiscutíveis.

Atente-se, por fim, para a ressalva, demasiadamente relevante, que a idéia de ter conceitos formados não implica de modo algum que estes sejam absolutos ou inalterados. Ter opinião é exercer a atividade cognoscível que é peculiar dos seres pensantes. A liberdade, por essa ótica, é conquistada à medida que o indivíduo escolhe conscientemente o caminho que irá seguir, não obedecendo somente pelo casuístico de que o soberano ordena (ver Aurora, de Nietzsche).

“O soberano dá suas ordens. O soberano é inquestionável. Logo, não se podem questionar suas ordens!” A construção silogística, mesmo que simplória, dá os fatos. Ou seja, da imbecilidade dos dominados, extrai-se a força da sociedade.  Do ópio vem o domínio. Afinal, sociedade boa é sociedade quieta. Obedeçamos!

Um comentário:

  1. Aristoteles já tinha derrubado essa idéia de "comunismo" antes de Cristo, eu não entendo como isso ainda vingou.

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