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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

JOHNSON E OS INTELECTUAIS

NIVALDO CORDEIRO
16/07/2003

Acabei de reler o livro Os Intelectuais, de Paul Johnson (Rio de Janeiro, Imago, 1990), depois de muitos anos. Se algum dia voltar à cátedra, não tenho dúvida de que, em qualquer programa de curso que venha a dar, esse livro encabeçará a lista de leituras obrigatórias. Com a sua prosa sóbria e elegante, Johnson faz um retrato de cada um dos principais intelectuais, desde Rousseau. Se um aluno iniciante nos cursos superiores ler esse livro com atenção, ficará vacinado contra a sedução socialista e comunista que é a tônica em nossas universidades.

O traço peculiar a todos os chamados engenheiros da alma humana (definição acertada de Stalin para os intelectuais) é a mistura de mau-caratismo e a incongruência daqueles que possuem uma vida torta quererem consertar o mundo. De todos os autores estudados no livro, os capítulos que considero absolutamente relevantes são aqueles dedicados a Marx e a Rousseau. O estudo da vida desses dois monstros morais vai mostrar onde se assenta a origem das suas taras sociais, que sustentam as idéias totalitárias. São os arquétipos de todos os sociopatas.

Os tempos em que vivemos no Brasil de hoje convidam especialmente a uma leitura como essa. Tempos de grandes perigos. Johnson escreveu, no capítulo final:

“A agora chegamos ao ponto central da vida intelectual: a atitude em relação à violência. Essa é a cerca na qual a maior parte dos intelectuais, sendo ou não pacifistas, esbarram, caindo na inconsistência – ou melhor, numa absoluta incoerência. Eles a rejeitam em teoria, como de fato a lógica os leva a fazer já que se trata da antítese dos métodos racionais de resolver problemas. Porém, na prática, eles se vêem, de tempos em tempos, a favor dela – o que poderia ser chamado de Síndrome do Assassinato Necessário – ou aprovando seu uso por aqueles com quem eles simpatizam. Outros intelectuais, diante da violência praticada por aqueles que eles desejam defender, simplesmente transferiam a responsabilidade moral, por meio de uma argumentação ingênua, para os outros, a quem desejavam combater”.

Não é mera coincidência o que acontece com a classe letrada do Brasil com relação a pelo menos três temas explosivos: a guerrilha do MST, o apoio à Cuba de Fidel Castro (veja-se as recentes declarações do embaixador de Lula naquela ilha) e as relações com os EUA, em especial à sua política de combate ao terrorismo. Aplica-se o que Johnson escreveu ipsis verbis.

A existência imunda desses feiticeiros que hipnotizaram as elites não pode ser ignorada, pois as suas vida mostram o que de fato foram, monstros morais. Johnson foi muito feliz ao resumir:

“Tinha-se uma perversidade especial – com a qual qualquer um que estude as carreiras dos intelectuais se torna desanimadoramente familiarizado – para se chegar a essa conclusão... Com efeito, por várias razões, o planejamento social foi a principal fraude e a maior desgraça da época moderna. No século XX, por causa dele morreram muitos milhões de pessoas inocentes, na Rússia soviética, na Alemanha nazista, na China comunista e em outros lugares. Porém, trata-se da última coisa que as democracias ocidentais, com todas as suas falhas, jamais adotam. Pelo contrário. O planejamento social é uma criação dos intelectuais milenaristas, que acreditam poderem remodelar o universo à luz de sua razão auto-suficiente. Esse planejamento é um direito inato da tradição totalitária. Teve como pioneiro Rousseau, foi sistematizado por Marx e institucionalizado por Lênin. Os sucessores de Lênin administraram, por mais de setenta anos, a mais longa experiência de planejamento social da história...”

Mais não precisa ser citado. Johnson vai direto ao ponto. O livro é um convite ao despertar, em meio ao sono trágico em que está mergulhado toda a nossa classe pensante.

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