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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Uma Época revolucionária – III

JUVENTUDE CONSERVADORA DA UNB
domingo, 18 de dezembro de 2011


A reportagem “Os nervos expostos da ditadura” é a nova peça da série de matérias que a revista Época está publicando com base, segundo se diz, em microfilmagens de arquivos do extinto Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Segue a mesma linha das reportagens que a precederam: distorções, deturpações e toda sorte de desinformação, tudo no melhor estilo bolchevique. De acordo com a epígrafe da matéria, os tais documentos “revelam como seus integrantes temiam represálias da esquerda, tentavam proteger torturadores e investigavam até ministros do regime militar”. Abordarei neste artigo os pontos mais gritantes da matéria.

O texto começa relembrando quando o general Golbery do Couto e Silva, fundador do Serviço Nacional de Informações (SNI), referiu-se à agência de inteligência como um “monstro” criado por si. Essa informação, da maneira como foi colocada, denota a mea culpa tardia do responsável pela criação de um verdadeiro moedor de carne humana – aliás, coisa que muito se esforçou a escumalha marxista para divulgar, e que hoje é tomada como verdade inconteste. O que não se esclarece é que o Gen. Golbery disse isso num contexto bastante específico: um entrevero entre ele, Chefe da Casa Civil do governo Figueiredo, e o general Octávio Aguiar de Medeiros, então chefe do SNI, por ocasião do atentado do Riocentro, em 1981.

A seguir, tentando dar mostras de como os serviços de informação, notadamente o Cenimar, eram temíveis máquinas de arapongagem, a reportagem cita a investigação de um membro da alta cúpula das Forças Armadas durante o governo Médici. A matéria assim diz (grifos meus):
Em 26 de abril de 1971, o agente identificado como PT-73relatou um caso de abuso de autoridade perpetrado pelo então ministro da Marinha, almirante Adalberto de Barros Nunes. Ministro do governo Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), Nunes era conhecido por ter sido amigo do sambista Almirante e de ter conhecido os compositores Noel Rosa e João de Barro. Segundo PT-73, no dia 13 de janeiro de 1971, Nunes usou o poder do cargo de ministro para internar a caseira de seu sítio em Itaipava, no Rio de Janeiro, Floripe Lopes, no Hospital Nossa Senhora da Glória, administrado pela Marinha. Após uma série de exames, diz o relato do agente, o médico Marcos Blanc mandou que fosse dada alta a Floripe. A assistente social Maria Elizabeth Teixeira telefonou à mulher do ministro, dona Maria, para comunicar o fato. O agente escreveu que dona Maria ficou “indignada com a maneira de falar da assistente social” e “com a alta de sua caseira”. Ao saber disso, o ministro Adalberto Nunes deu ordem para punir a assistente social, o médico e a enfermeira que atenderam Floripe. O médico foi condenado a oito dias de prisão. As punições dos militares não foram incluídas em seus registros de carreira. A ficha de internação de Floripe desapareceu do hospital. Tudo foi apagado para não deixar rastros. Mas o Cenimar soube.
Essa informação é dada com o intuito de se provar como era perigoso o Cenimar. Afinal, “nem os chefes escapavam da bisbilhotagem”, e, se o ministro da Marinha havia sido monitorado, quem estava realmente a salvo? De acordo com a reportagem, essa é uma das provas cabais de que “o Cenimar se tornou [sic] um gigantesco aparato de conspirações e perseguição aos adversários do governo”. Entretanto, o que esse caso realmente mostra é que nem mesmo um ministro de Estado, membro da alta cúpula militar do País, podia ser blindado. Ao contrário de hoje, em que ministros caem apenas depois de diuturno e incansável esforço dos veículos de comunicação em dar publicidade a um sem-número de malfeitos – e, lembremo-nos, já foram mais de meia-dúzia deles a cair no governo Dilma –, desvios de conduta eram investigados e punidos. Um caso emblemático é o do Marechal-do-Ar Márcio de Souza e Mello, do qual tratarei mais adiante.

A matéria também fala que um dos papéis centrais do Cenimar era a “conspiração”. No trecho seguinte da reportagem, lê-se (grifos meus):
A estrutura que fez de órgãos como o Cenimar tão poderosos começou a ser montada no fim da década de 1920. Mas a influência dos serviços de informação cresceu nos preparativos do golpe contra o governo do presidente João Goulart, derrubado pelos militares em 1964. A insubordinação da Marinha, fundamental na queda de Goulart, era alimentada desde 1962 dentro de seu serviço secreto. Numa investigação interna sobre o comportamento de um integrante do centro, um oficial do Cenimar fez um relatório que descrevia a conspiração. O texto afirma que o almirante Pedro Paulo de Araújo Suzano, ministro da Marinha de Goulart, tinha interesse em bloquear as atividades do Cenimar, definido pelo oficial como um “baluarte da ação anticomunista”, o que “contrariava os interesses do governo João Goulart”.
Jamais houve qualquer tipo de conspiração militar para derrubar o governo. É importante que isso seja dito. A Revolução de 31 de Março de 1964, que promoveu a deposição do presidente João Goulart, o “Jango”, foi a resposta das Forças Armadas ao chamamento da nação pelo restabelecimento da ordem constitucional. O que se esquece de falar é que o verdadeiro conspirador era o próprio Jango, que, apoiado por organizações comunistas – fartamente apoiadas logística, política, militar e financeiramente pelos governos comunistas da União Soviética, da China, da Albânia e de Cuba, dentre outros –, objetivava a instauração de um regime comunista no Brasil. Não é à toa que, num comício em Recife/PE no mês de março de 1963, Luís Carlos Prestes, então líder do Partido Comunista Brasileiro (PCB), disse: “Já temos o governo, só nos falta o poder”. Nesse contexto, o Cenimar teve, portanto, papel importantíssimo na prevenção da subversão da ordem no Brasil: afinal, seu compromisso maior, assim como o das Forças Armadas, é com a Nação, não com o governo.

Uma das seções mais indignantemente falaciosas do texto é a seguinte (grifos meus):
O temor dos militares com as ações dos inimigos cresceu em 1970, quando organizações internacionais começaram a divulgar, fora do Brasil, denúncias de tortura e nomes de torturadores. Com a ameaça de identificação no exterior dos torturadores, os oficiais do Cenimar foram instados a sugerir, com “urgência”, medidas para proteger os acusados e seus familiares. Um dos oficiais que responderam ao pedido de sugestões foi o capitão de corveta Aldir Bellotti da Silva. Em seu texto, Bellotti tratou os colegas explicitamente como “torturadores” e disse que, apesar da preocupação com sua identificação, nada havia a ser feito. “Já não é de hoje que nomes de torturadores vêm sendo fartamente publicados na imprensa internacional e em órgãos clandestinos”, escreveu Bellotti. “Em que pese meu sentimento cristão de amor ao próximo (no caso, os torturadores), acho que a curto prazo somente se pode adotar a política do fato consumado.” O medo de represálias explica, em parte, por que o Cenimar tinha dificuldades de completar os quadros. Em 1971, 15 oficiais da Marinha foram sondados para integrar o Cenimar a partir do ano seguinte, mas nenhum aceitou o convite.
De fato, a publicação de notícias falando sobre “tortura” e divulgando nomes de “torturadores” começaram a pipocar na imprensa internacional. Ao contrário do que a reportagem tenta forçar goela abaixo no leitor, essa tendência não foi algo natural, muito menos uma reação legítima a um pretenso estado de caos sanguinário instalado pelo governo brasileiro no País: foi o resultado de uma campanha meticulosa de difamação e agitprop(termo utilizado para designar o princípio marxista-leninista de agitação e propaganda) promovida pela Frente Brasileira de Informação – FBI.

No ano de 1968, Miguel Arraes – fundador do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e avô do atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos – fundou o Movimento Popular de Libertação (MPL). O objetivo do MPL era criar uma única frente socialista no Brasil, unificando todas as organizações atuantes no País. De acordo com o Projeto Orvil,
o MPL estabeleceu ligações com o PCB, AP, ALN e com os padres dominicanos de São Paulo. Através das facilidades oferecidas para que as organizações subversivas enviassem seus militantes a Cuba, o movimento estabeleceu vínculos com várias delas, entre as quais o PCBR e o COLINA.
Diante do fortalecimento do combate à subversão, proporcionado pelo AI-5, o projeto de Arraes foi dificultado em grande medida. Residindo na Argélia desde 1965, Miguel Arraes, seguindo a cartilha leninista com devoção, começou a trabalhar na criação de uma frente de agitprop que, a um só tempo, manchasse a reputação do governo brasileiro no exterior (sobretudo através de denúncias de tortura e outras agressões aos direitos humanos) e arrebanhasse a simpatia e o apoio internacional para as organizações terroristas brasileiras. Assim sendo, “em outubro de 1969, tomou a iniciativa, juntamente com o ex-deputado Márcio Moreira Alves, o padre Almery Bezerra e Everardo Norões, de criar, em Paris, a Frente Brasileira de Informações (FBI)”, conforme relata o Projeto Orvil. Prossegue o documento (grifos meus):
A criação da FBI ocorrera sem grande publicidade. Havia a necessidade da realização de uma solenidade de impacto que ajudasse à promoção da entidade. No dia 15 de janeiro de 1970, ocorreu no grande Salão de Mutualité, em Paris, a “Reunião de Solidariedade com o Povo Brasileiro”, prestigiada por personalidades da esquerda mundial e transformada no marco do nascimento da FBI ou “Front”.

Tendo ao fundo um grande mural com a fotografia do finado Carlos Marighela, George Casalis – professor da Faculdade de Teologia Protestante de Paris – presidiu a cerimônia, com a participação de uma mesa diretora composta pelo advogado Jean Jacques de Félice, Blanquart, Miguel Arraes, Jean Paul Sartre, Michel de Certau – padre jesuíta, redator da revista “Notre Combat”, professor do Centro Experimental Universitário de Vincennes –, Pierre Jalée – presidente do Comitê de Defesa da revista “Tricontinental”, e autor de diversas obras sobre a economia do Terceiro Mundo –, Jan Talpe – físico belga, ex-professor da USP, expulso do Brasil por envolvimento com a ALN –, Luigi Maccario – secretário-geral da Federação Italiana de Metalúrgicos – e M. Ghisenti. Essas presenças, por si só, davam aos espíritos menos desatentos, a nítida orientação ideológica da solenidade.

[...]

Os organizadores do encontro propuseram, ao final da reunião, uma “Campanha Contra a Repressão Política na América Latina” – típica das organizações de frente comunistas –, visando a: “apoiar as forças de libertaçãoque lutam no Brasil e em toda a América Latina; fazer com que todos os franceses tomem conhecimento e comunguem com os interesses dos povos latino-americanos; e informar, suscitar reuniões públicas e estudar de maneira profunda as relações da Europa e da América Latina, descobrindo meios de ação e de pressão.” A programação da campanha foi articulada em Paris, tendo como principais articuladores Miguel Arraes, Almino Afonso, Jean Paul Sartre e Waldech Rochet, secretário-geral do Partido Comunista Francês.
Para se ter uma idéia da completa falta de caráter dessa gente, um fato bastante ilustrativo foi a sucessão de tentativas mal-sucedidas de seqüestro de Cutis Curter, cônsul norte-americano em Porto Alegre, em 1970. Após uma coleção de erros de operação – da terceira e última tentativa infrutífera de seqüestro, o cônsul saiu ferido com um tiro na omoplata –, a atenção das autoridades foi atraída para o grupo de terroristas da VPR que planejaram a ação. Por ocasião de sua prisão, apreendeu-se, dentre outras coisas, uma minuta de comunicado da VPR que seria divulgada à imprensa. Assim diz o comunicado (grifo meu):
O cônsul norte-americano em Porto Alegre, Curtis Cutter, foi seqüestrado às ... horas do dia ... de Março pelo Comando “Carlos Marighella” da Vanguarda Popular Revolucionária.Esse indivíduo, ao ser interrogado, confessou suas ligações com a “CIA”, Agência Central de Inteligência, órgão de espionagem internacional dos Estados Unidos e revelou vários dados sobre a atuação da “CIA” no território nacional e sobre as relações dessa agência com os órgãos de repressão da ditadura militar. Ficamos sabendo, entre outras coisas, que a “CIA” trabalha em estreita ligação com o CENIMAR, fornecendo inclusive orientação a esse último órgão, sobre os métodos de tortura mais eficazes a serem aplicados nos prisioneiros. A CIA e o CENIMAR sofrem a concorrência do SNI, sendo que essa rivalidade é tão acentuada que em certa data um agente da “CIA” foi assassinado na Guanabara por elementos do SNI. Esse informe foi cuidadosamente abafado pela ditadura, mas o depoimento do Agente Cutter, nosso atual prisioneiro, permitiu que o trouxéssemos a público.
Como é possível que, em jamais tendo conseguido abduzir o cônsul, os subversivos soubessem dessas informações tão “sensíveis” sobre o funcionamento interno do aparato de segurança do Estado? Diante dessa evidência incontestável, é ainda possível crer, sem receber a imediata recomendação de tratamento psiquiátrico severo, que todas essas informações não foram deliberadamente inventadas pela VPR com o único objetivo de enfraquecer, através da mentira e da calúnia, o governo Médici?

Contra a questão (já esgarçada) da tortura no Regime Militar, interpõem-se, além do caso acima, dois fatos importantíssimos (ambos relatados pelo finado Gen. Div. Agnaldo Del Nero Augusto em seu livro “Médici: A Verdadeira História”):

1) Em seu livro “Na diplomacia, o traço todo da vida”, o diplomata brasileiro Mário Gibson Alves Barboza, que foi chanceler no governo Médici, relata que o Gen. Emílio Garrastazu afirmou categoricamente: “Os nossos estão morrendo e têm o direito de revidar com as armas. Esta é uma guerra, em que se mata ou morre. Mas prender alguém para submetê-lo à tortura é de tal modo covarde e ignóbil, que não posso encontrar palavras adequadas para condenar prática tão sórdida. Proíbo, terminantemente, torturas em meu governo.” Muito longe de ser uma política oficial de governo, o presidente havia mostrado explicitamente sua preocupação com a mera possibilidade de ocorrência de tortura.

2) No final do ano de 1971, recaíam sobre um oficial-aviador da Aeronáutica acusações de violência contra prisioneiros. Instado pelo presidente Médici a punir o oficial, o Marechal-do-Ar Márcio de Souza e Mello, ministro da Aeronáutica desde o governo Costa e Silva, tardou em adotar alguma medida punitiva contra o acusado. Essa falta de ação tornou o ministro alvo de crescente pressão, o que o levou, com discrição e sem alarde, a apresentar sua carta de demissão ao presidente Médici. Quando, após a “redemocratização”, sobretudo durante o governo do PT, algum ministro foi demitido sem alarde, sem pressão midiática, por não punir um subalterno acusado de algum malfeito?

De maneira completamente voluntária e abjetamente dedicada, a revista Época dá prosseguimento à campanha de mentiras orquestrada pelo Movimento Comunista Internacional – que, como ilustra a própria existência do Foro de São Paulo, continua mais vivo e ativo do que nunca – ao interpretar os fatos não através das lentes transparentes da verdade, mas com os óculos vermelhos do marxismo-leninismo. Enquanto matérias repugnantes como essas continuarem a ser publicadas, recebendo a falsa aura de legitimidade e isenção conferida freqüentemente aos principais meios de comunicação de massa do Brasil, é dever cívico vir a público e expor essas inverdades com todos os meios de divulgação de que dispomos.

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