21/08/2010 - 14h39
da Livraria da Folha
Divulgação |
Norman Gall, pesquisador da América Latina, passa Brasil a limpo |
O Brasil, terra de aspirações e esperanças, país do futuro. O Brasil dos escândalos de corrupção e das crises, do desespero geral. Extremos que oscilam e se alternam diante de perplexos brasileiros. Em "Lula e Mefistófeles" (A Girafa), o jornalista Norman Gall, diretor executivo do Instituto Fernando Braudel de Economia Mundial, faz uma análise profunda do panorama complexo da política recente do Brasil. Nos artigos, o país visto pela lente de quem pesquisa a América Latina há quase 50 anos.
O artigo inaugural do livro recupera o momento da maior crise política sofrida pelo governo Lula, em 2005 - o episódio, conhecido como "escândalo do mensalão", que teve força de terremoto sobre o governo Lula e o Partido dos Trabalhadores. No texto, segundo a introdução do jurista e diplomata brasileiro Rubens Ricupero, o jornalista "sugere a natureza demoníaca do poder e de sua corrupção". A antiga lenda de Fausto, segundo Norman Gall, ganha com "o escândalo do mensalão" uma versão brasileira à altura.
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Em transmissão nacional pela televisão, a versão brasileira de Mefistófeles surgiu na pele do então deputado federal do PTB, Roberto Jefferson Monteiro, e vomitou denúncias. Com gestos teatrais, o "arcanjo da corrupção" destacou o código de honra da política: "se o governo não o tivesse traído", ele teria mantido silêncio. Na cascata de revelações, fraudes, lavagem de dinheiro, financiamentos ilegais de campanhas eleitorais, compra de votos de parlamentares, contratos ilícitos do governo, roubo de prefeituras e bancos e investimentos suspeitos.
Em meio à indignação pública e o medo geral de que as investigações terminassem em pizza, o Fausto brasileiro, para o jornalista nada menos que Lula em pessoa, o homem que fez o pacto com o demônio, grita em seu momento de perigo: "Não me abandonem! Fiquem ao meu lado em minha hora de julgamento". Nessa tragédia brasileira descrita por Gall, "Lula teve suas escolhas". E, para o jornalista, elas refletem uma personalidade muito complexa, "alguém cuja ascensão espetacular gerou uma arrogância que o fez perder seu norte moral".
Sob a inspiração deste escândalo-tragédia, o jornalista revisita a história do Brasil, situa-o no cenário internacional e põe o dedo nas debilidades institucionais brasileiras, como a educação. No país onde as elites políticas, administrativas, empresariais e sindicais têm uma escolaridade média que não passa de 10 anos, a melhoria do "ensino público é a via mais eficaz para promover a justiça social". Somente com qualidade de ensino, poderemos formar mais e melhores profissionais para essa sociedade que se torna mais e mais complexa, diz.
Nos artigos de Gall, esse nova-iorquino que afirma ter "renascido" no Brasil, o país precisa de uma nova estratégia "que mobilize apoio ao longo de um período prolongado, sustentada por uma série de governos eleitos". A palavra chave dessa estratégia deve ser credibilidade, porque, para ele, só assim, poderíamos ter um "programa de longo prazo que fortaleça as instituições públicas" e realize o "potencial do país". Dessa forma, acredita Gall, "o Brasil terá um futuro brilhante".
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