AUGUSTO NUNES
12/12/2011 às 20:22 \ Direto ao Ponto
Desde que a procissão indecorosa começou, os pecadores pendurados nos andores não se limitam a jurar inocência amparados em álibis mais fantasiosos que discurso de Dilma Rousseff: para confundir a plateia, também culpam meio mundo. Algum assessor trapalhão, a mídia golpista, a oposição demotucana, a elite reacionária, o fogo amigo, adversários impiedosos, inimigos do povo em geral e, em particular, loiros de olhos azuis ─ a lista dos culpados cresceu tão espetacularmente que, até o fim de semana, só estavam fora a CIA e FHC. Depois da entrevista de Fernando Pimentel publicada pela Folha neste sábado, falta apenas a sigla americana. Fernando Henrique Cardoso entrou na relação dos acusados no meio da amistosa conversa entre o jornalista Fernando Rodrigues e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Para provar que o que andou fazendo em 2009 e 2010 é a mesma coisa que o ex-presidente faz, Pimentel revelou o que ouviu há dias do amigo e cliente Robson Andrade, que contratou seus serviços de “consultor” quando comandava a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. “O Robson me deu um exemplo interessante de 2010, quando estava na Fiemg”, começou a história contada pelo atual presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Esteve lá o Fernando Henrique. Passou a manhã, conversou, tomou café, não me lembro se almoçou. Cobrou oitenta mil reais pela conversa, pela consultoria. E foi pago”.
Até as máquinas de café das redações sabem que FHC nunca exerceu o ofício que transformou José Dirceu em milionário, enriqueceu Antonio Palocci e, depois de garantir-lhe a boa vida, ameaça tirar o emprego de Pimentel. (Garotas de programa se apresentam como “manequim e modelo”. Figurões do PT que caem na vida de traficantes de influência se disfarçam de “consultores”). Como o entrevistador não se espantou com a enormidade, o conto do vigário foi em frente: “O Larry Summers esteve lá outro dia, acho que foi na CNI, e cobrou 150 mil dólares para ficar um dia lá”. Para o ex-prefeito, tanto o ex-presidente da República quanto o ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos são meros colegas de ofício. E não tem motivos para invejá-los: para apressar a falência de uma fábrica de refrigerantes pernambucana, por exemplo, Pimentel ganhou o dobro do que teria recebido FHC para melhorar a cabeça do empresariado mineiro.
Papo de 171, cortou nesta segunda-feira o ex-presidente com um esclarecimento publicado pela jornalista Renata Lo Prete, da Folha, na nota de abertura da seção Painel. “Eu cobro por palestras”, corrigiu FHC. “Não recebi da Fiemg o referido montante nem qualquer outra remuneração, pois não fiz palestras lá. Devem ter-se enganado de pessoa”. À comparação fraudulenta, portanto, Pimentel havia adicionado uma mentira deslavada. Dessa fusão, paradoxalmente, resultou a verdade que desmoralizou a farsa: ao comparar-se a Fernando Henrique e Larry Summers, o “consultor” Pimentel confessou que não fez nada parecido com o que se chama de consultoria. Não produziu documentos, não redigiu análises, não fez sugestões por escrito, não escreveu uma escassa e mísera linha. Só conversou sobre negócios em curso ou em gestação. Conversou com os clientes e sabe Deus com quem mais.
Deus e Robson Andrade, berram as justificativas esboçadas pelo empresário e amigo para o contrato que permitiu a Pimentel embolsar R$ 1 milhão da Fiemg. “Quanto vale um dia de conversa com uma pessoa que tem um conhecimento estratégico sobre como trabalhar com o governo, discutir ações tributárias, ações de crescimento nas indústrias, de desenvolvimento?”, perguntou e respondeu o ex-presidente da Fiemg. O problema é que esse Pimentel familiarizado com as catacumbas federais só surgiu mais de um ano depois, quando virou ministro. Em 2009, era mais um ex-prefeito, com um currículo que Nelson Rodrigues acharia árido como três desertos. Pois conseguiu subtrair da Fiemg o equivalente a 13 palestras de Fernando Henrique e sete de Larry Summers. Ou cinco apresentações de Lula.
O Pimentel palestrante jamais valeu mais que R$ 10 por hora. Ganhou um dinheirão para fazer outra coisa ─ em 2009 e sobretudo depois de janeiro de 2011. Poderia ter até cobrado bem mais. Nunca será caro um traficante de influência que faça direito o serviço encomendado.
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