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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

HEITOR DE PAOLA



1ª PARTE - UM INTELECTUAL ORGÂNICO EM AÇÃO

HEITOR DE PAOLA

22/12/2011

“Um intelectual orgânico, segundo Gramsci, é aquele consciente de sua posição de classe. A organização da cultura é conseguida através da sua hegemonia, o partido-classe ou Partido Príncipe, o “intelectual coletivo”. Cabe a estes homogeneizar a classe que representam e levá-la à consciência de sua situação de classe, tornando-a de uma classe-em-si para uma classe-para-si. Esta atividade dos intelectuais, na prática precisa criar uma espécie de escola de dirigentes, um grupo de “especialistas” que servem para orientar os demais”

O Eixo do Mal Latino-Americano e Nova Ordem Mundial

Quando escrevi estas palavras jamais imaginei ler na atualidade um texto tão significativo, claro e insofismável de defesa pública do que popularmente se chama “fazer a cabeça”, construir uma falsa consciência, como o op-ed do Senador Cristovam Buarque n”O Globo de 17/12/2011 denominado sugestivamente Consciência em construção[1]. Buarque, por ser extremamente dissimulado, é um dos mais perigosos gramscistas do país. Tendo-se dedicado ao terreno mais fértil para estes “especialistas”, a educação, mudando de partidos ao sabor do momento – pois, o partido-classe não se enquadra necessariamente em nenhum partido político - suas análises deste setor no Brasil encantam a muitos que enxergam nelas apenas as críticas consistentes com o “mal estar da Nação” com a baixíssima qualidade de nosso ensino. Mas, e aí reside seu grande perigo, sempre deixa nas entrelinhas mensagens subliminares baseadas nas recomendações de Gramsci. No texto em questão a mensagem é direta.

Começa falando da Lei que criou o Dia Nacional da Consciência das Mudanças Climáticas (16 de março) afirmando que esta data deve passar

“a ser usada em todo o país para debater a tragédia que nos ameaça por causa da crise ecológica e também buscar soluções para os problemas que enfrentam”.

Note-se que no campo dos debates a inversão revolucionária se dá pela inversão entre premissas e conclusões: estas são apresentadas como se fossem as primeiras. Não é proposto um debate no qual se faça a pergunta: há algum problema com o clima que precise ser debatido? Não, os “especialistas” partem da premissa que existe e que eles sabem quais são! Como disse Al Gore: os problemas do “aquecimento global” já estão comprovados cientificamente e não há mais debate possível.  E isto lá é ciência? Claro que não, é ditadura intelectual marxista, digna de figurar no livro Impostures Intelectuelles, de Alan Sokal & Jean Bricmont.

Como diz Olavo de Carvalho: é “a aceitação quase universal de uma tosca mentira publicitária como teoria científica e expressão fidedigna de um fato incontestável”. Esta crença precede “a etapa seguinte, em que a mentira consolidada se torna premissa legitimadora de uma infinidade de novas mentiras, (e) já não denota simples vulnerabilidade, e sim um estado de corrupção profunda, estrutural.”

Segue Cristovam:

“Imaginemos todos os estudantes brasileiros, debatendo em suas escolas qual o tipo de progresso que estamos realizando, quais os problemas que a humanidade tem adiante e como enfrentá-los, usando esse dia para buscar respostas às perguntas que o mundo apresenta”.

Qual mundo apresenta as perguntas, o mundo todo? Não, a Sub-Comissão do Senado para a cúpula Rio+20 repetindo as falácias dos ambientalistas da ONU e das grandes corporações e suas ONGs, os “exterminadores do futuro” como já denominei [2]. Vejam que, de forma subliminar, se introduz a discussão crítica do imenso desenvolvimento realizado pela civilização ocidental [3] sob a égide da economia de livre mercado, vulgo capitalismo, o ”tipo de progresso que estamos realizando”. Na mesma frase atribui-se a este desenvolvimento a causa dos “problemas que a humanidade tem adiante” e sugere que estes têm que ser “enfrentados”. É óbvio que não se pretende estudar nem investigar fenômenos, mas “fazer cabeças”: partindo de premissas falsificadas, que na verdade já são conclusões, o que se quer é doutrinar os “estudantes brasileiros” na direção que bem quiserem os “especialistas”. No último parágrafo o Senador apresenta a base do terrorismo que deverá ser incutida, por lobotomia dialética, em nossos jovens, a afirmação de Celso Furtado:

“Os homens de minha geração demonstraram que está ao alcance do engenho humano conduzir a humanidade ao suicídio. Espero que a nova geração comprove que também está ao alcance do homem abrir caminho de acesso a um mundo em que prevaleçam a compaixão, a felicidade, a beleza e a solidariedade”.

E acrescenta Buarque:

Esta nova geração só pode ser formada por debates entre os jovens. E o Dia Nacional da Consciência das Mudanças Climáticas poderá ter um importante papel na construção dessa consciência.

Ressalte-se que os objetivos principais são dois: 1- assustar os jovens no sentido de tudo que se fez até aqui leva a Humanidade ao suicídio coletivo e somente se escutarem e seguirem os “especialistas” é que salvarão a Terra da catástrofe iminente, explorando a crendice da juventude de qualquer país, em qualquer época, de que serão eles a construir o “mundo em que prevaleçam a compaixão, a felicidade, a beleza e a solidariedade”. 2- além de assustar é preciso culpar a humanidade passada como causa dos problemas climáticos, inculcando nos jovens também a rebeldia contra seus ascendentes e a forma cruel e indigna que escolheram como meta: o progresso que destrói a natureza. Parte-se, portanto, de uma observação psicológica facilmente observável: na adolescência todos os jovens acreditam que os pais erraram em tudo e eles devem consertar seus erros.

Neste sentido a primeira pergunta, na qual a resposta já está implícita como nas demais, é crucial:

1- Água, como conservá-la? Se não adquirirmos uma consciência da escassez de água potável no mundo e não usarmos esta consciência para encontrar formas de poupar e reciclar a água potável que temos, nossos descendentes vão passar por graves dificuldades em um futuro não muito distante.

A ameaça às futuras gerações põe mais lenha da fogueira do narcisismo próprio das idades imaturas: eu farei com meus filhos melhor que meus pais fizeram comigo e deixarei para meus descendentes um mundo de paz e concórdia. 

Analisando melhor a resposta: não há nenhuma evidência científica que comprove que haverá escassez de água no mundo. Este argumento infelizmente é partilhado por sinceros nacionalistas que acreditam na falácia de que a água será o petróleo do século XXI e que é por isto que as grandes potências olham com cobiça os maiores aqüíferos do mundo (Amazonense e Guarani), localizados aqui no Brasil. O que ninguém explica é como as tais potências vão aproveitar esta água. Mudar-se-ão em peso para Manaus e Foz do Iguaçu? Vão bombear toda a água para aquedutos ou gigantescos navios petroleiros transformados em “aqüeiros”? Isto me lembrar um candidato meio maluco a Vereador em Rio Grande, minha cidade, na década de sessenta, uma espécie de Cacareco local, que, num discurso em Pelotas (que se saiba não havia eleitores que pudessem votar nele lá!) prometeu levar água para salvar o Nordeste (onde também não tinha eleitores, de avião! Não seria mais viável dessalinizar a água do mar, processo usado em Israel há anos?

A próxima pergunta é ainda mais importante:

2- Energia, para quê e como? Este é um problema perceptível por causa do esgotamento do petróleo, mas temos deixado o assunto para os técnicos, esquecendo que ele é também de comportamento pessoal e de política social. Buscamos aumentar a oferta, sem procurar como elevar o Bem-Estar usando menos energia. Os governos lutam desesperadamente por novas hidrelétricas, sem perceber que é possível reduzir o consumo de energia elétrica, nem entender que há outras fontes que já deveriam estar sendo utilizadas extensivamente.

Cristovam sugere aqui claramente que o país – e o mundo, o objetivo da tropa de choque ambientalista transcende fronteiras – que reduzamos o uso de energia elétrica e paralisemos a construção de hidrelétricas e busquemos “outras fontes de energia” as quais, certamente não incluem as eficientíssimas centrais nucleares. Recentemente os painéis solares dos chuveiros da praia de Ipanema mostraram que não servem para nada em dias de sombra, só para encher as burras dos empreiteiros! Todos os banhistas reclamaram. Já abordei no artigo anterior a “maravilhosa” energia eólica. Que fontes alternativas são estas, então? Não se iludam os leitores, o que Cristovam et caterva desejam é levar o mundo para um passado medieval à luz de velas e aquecimento por lareiras. Mas como, se elas também produzem o terrível veneno COpela queima de madeira? Abaixo uma fotografia noturna de satélite da península coreana. Note-se o contraste entre o fulgor das luzes da Coréia do Sul, que aderiu ao progresso, e a escuridão da do Norte, com pequenos trechos iluminados em Pyong Yang e seu entorno, onde reside a elite do Partido Comunista! É possível ver também parte da escuridão chinesa com esparsa iluminação.

 

Modifico a ordem, pois na última pergunta ficam bem claras a sugestão de “decrescecimento”, além do controle total sobre a economia, impedindo o livre mercado de funcionar:

6- Decrescimento com Bem-Estar é possível? Se o crescimento começa a se esgotar, como a Europa mostra, cabe perguntar se é possível melhorar o Bem-Estar com a economia decrescendo. Aumentar a oferta de alguns bens e reduzindo de outros, mesmo que a soma não represente crescimento de um ano para outro.

Como corolário, surgem as 3ª e 4ª perguntas:

3- Crescimento, até quando poderá continuar? A crise européia mostra na prática o que há décadas se discute teoricamente: que não há como a economia da produção material continuar crescendo eternamente. Mais do que um problema financeiro, a crise européia é o resultado do esgotamento de um tipo de civilização que define progresso como sinônimo de crescimento econômico: o progresso medido pela velocidade da utilização dos recursos materiais para servir à voracidade do consumo.

Ora, seu Buarque, você sabe muito bem que a crise européia é realmente “o resultado do esgotamento de um tipo de civilização”, mas não a civilização de consumo, um excelente desenvolvimento real por mais que queiram criticar o “consumismo” – seja lá o que querem dizer, porque até um bebê já nasce consumindo leite e mais tarde papinhas! – mas sim o fracasso do modelo econômico social-democrata – aqui no Brasil dos seus kamaradas tucanos – baseado no welfare state,aumentado exponencialmente pela imigração das antigas colônias, dos países árabes e da Turquia. Os que chegavam queriam, com razão, as mesmas benesses da “pilantropia” estatal custeada pela classe média    

4- Progresso, como redefini-lo? Não é mais lógico nem ético adotar progresso como sinônimo de crescimento econômico, conseguido graças à depredação ambiental, ao aumento da desigualdade, à produção de armas e ao consumismo. Mas ainda não temos um conceito alternativo ainda não se definiu com clareza o que é desenvolvimento sustentável, ainda não se aceita a idéia de que é possível elevar o Bem-Estar mesmo sem Crescimento Econômico.

O grande educador provavelmente esqueceu-se de estudar história: desde os primeiros progressos da Humanidade houve crescimento econômico, utilização da natureza, aumento da desigualdade, produção de armas e aumentou o consumo. Presumindo, só para argumentar, que o primeiro progresso foi a descoberta de como fabricar uma clava. Temos aqui a produção de armas em proporções muito maiores do que na atualidade: passou-se de zero clava a uma clava e rapidamente outras tantas. Certamente quem as possuía depredou a natureza, matando animais para saciar a fome e adquiriu uma força que os demais não tinham, mas queriam ter. Olha aí, seu Cristovam: o início da desigualdade entre os que possuíam clava e os demais, que desejavam ardentemente possuir uma para caçar. Com a inevitável divisão do trabalho, surge o primeiro industrial: o fabricante de clavas! Aumento da produção e venda de clavas: consumismo! Mas não bastava a carne, era preciso cultivar a terra – mais uma depredação da natureza – e inventaram-se os instrumentos rudimentares de agricultura: surgem os primeiros latifundiários, aqueles cuja produção excedia ao consumo próprio e vendia o excedente aos demais. E por aí vai! Entendeu seu Cristovam, ou quer que eu desenhe?

Porém seu Cristovam deseja, com seus compadres, “redefinir com clareza um conceito alternativo de progresso” que chama desenvolvimento sustentável, “ainda não se aceita a idéia de que é possível elevar o Bem-Estar mesmo sem crescimento econômico”, isto é, a lobotomia ainda não terminou e a proposta é querer que alguém acredite no inacreditável. Vai fundo, seu Cristovam, Orwell já provou que é possível fazer as pessoas acreditarem que mentira é verdade, ódio é amor etc.

Quando estudar a falácia do CO2 falarei deste objeto de consumo, o vilão-mor, que todos querem: o automóvel. É o transporte por excelência dos homens livres que, ao invés de se espremerem como sardinha em lata em trens, ônibus ou metrô, andam sós ou com companhia de sua livre escolha, para onde quiserem, escolhendo o caminho que bem entenderem. Seu Cristovam e seus sequazes jamais entenderão porque a primeira coisa que um pobre compra, quando ascende economicamente, é um carro para sua família! Mas não, claro que não, quem entende o que é bom para os pobres não são os próprios, mas os “especialistas” que querem transformar o mundo numa imensa Coréia do Norte.

A 5ª pergunta é sobre indicadores de progresso e começa pelo “decreto” digno de Humpty Dumpty:

Se o progresso não é determinado pela taxa de crescimento econômico é preciso encontrar outros indicadores que meçam o nível de bem-estar

Pronto, está decretado que o progresso não é assim determinado, então lá vem a pérola globalista: o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, que se é inventado pela ONU é sempre um “avanço”. Este índice incluiexpectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capita.

Mas este poço de sabedoria não alcança que o aumento da expectativa de vida foi obtido pelos rápidos avanços da medicina com invenções de seres livres, visando lucro, e aumento da quantidade de alimentos graças ao agro-negócio, também visando lucro, e não a alguma decisão dos planejadores estatais. Não houve nenhuma reunião de planejadores para obrigar a indústria de aparelhos médicos, decretando: inventem um tomógrafo computadorizado! A evolução tecnológica – na medicina e no campo – depende do progresso econômico e não de planejamento estatal, capice? [4]








[3] Civilização ocidental não é um conceito geográfico, pois inclui os países do Oriente que aproveitaram a lição da civilização Greco-romana e o incomensurável acervo judaico-cristão. 


[4] É claro que não sou inocente a ponto de acreditar que o Senador não sabe de tudo isto. Certamente sabe, e aí está o grande perigo: ele age de má fé, fingindo inocência!

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