18th setembro 2010 written by Paulo Nogueira
DISSE OUTRO dia que a Piauí é a revista mais superestimada da imprensa brasileira.
Na hipótese altamente improvável de que seu diretor, Mario Sergio Conti, me chamasse para dar a ele consultoria, diria o seguinte.
A revista não faz sentido. As pautas não têm, entre si, um elo que dê ao todo nexo e razão de ser. Quando vale tudo, nada vale.
Comprei a última edição. Começa no comediante islandês que se tornou prefeito de Reiquijavique. Não está dito o essencial ali. Que ele, ao contrário de Tiririca e derivados, é um homem politizado e refinado intelectualmente.
Mas o problema não está exatamente no conteúdo das matérias, embora neste tópico eu teria uma conversa profunda com Conti, caso ele me consultasse. Está na origem delas. Qual a lógica? Fico imaginando uma reunião de pauta. Alguma idéia é barrada, quando você pode escrever desde uma banda de Birigui até um perfil do presidente da Natura?
Dizem que é inspirada na New Yorker. Se é verdade, é uma das mais canhestras reproduções que vi em minha vida. A New Yorker tem nexo, tem fio condutor. Antes e acima de tudo, representa a intelectualidade novaiorquina, com seus interesses e idiossincrasias.
Conti foi editor da Veja. Uma revista semanal de informações é mais simples de dirigir, paradoxalmente, do que uma mensal de assuntos diversos. A semana dita uns 70% do conteúdo de uma semanal. Na mensal, você tem que ser mais inventivo.
Não admiro Conti como jornalista. Acho-o maldoso e ao mesmo tempo alpinista, a pior combinação. Mas, como leitor, gostaria que ele fizesse da Piauí uma revista interessante. Escreveria que, mesmo não indo com a cara do editor, não perco sua publicação um único mês.
Mas infelizmente não dá.
A única coisa em comum que vejo entre a New Yorker e a Piauí é a pretensão. Mas numa isso até se justifica. Na outra é apenas ridículo. É mais fácil se destacar no Hemisfério Sul do que no Hemisfério Norte. A Piauí é uma pequena lembrança dessa verdade amarga.
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