DIÁRIO DO COMÉRCIO
Publicado em Quarta, 28 Setembro 2011 19:54
Escrito por Olavo de Carvalho
Leiam, por favor, este parágrafo, publicado pelo site Último Segundo, do portal iG (abreviatura de iGnóbil), assinado por Nara Alves e Ricardo Galhardo (http://ultimosegundo. ig.com.br/politica/skinheads-usam-briga-politica-como-pano-de-fundo-para-violencia/n1597225790382. html):
"Nas últimas semanas o iG conversou com skinheads – inclusive aqueles que tumultuaram a Marcha da Maconha e a Parada Gay – sobre suas preferências políticas e suas crenças ideológicas. Embora considerem que, de maneira geral, o sistema político-partidário seja ineficaz, os jovens da extrema direita ouvidos pela reportagem disseram apoiar parlamentares que estão minimamente de acordo com o que pregam, a exemplo de Bolsonaro e dos senadores Kátia Abreu e Demóstenes Torres, ambos do DEM.
Estes jovens recebem orientação teórica. As bases são os seminários promovidos pelo Instituto Plínio Correia de Oliveira (criador da extinta TFP, que defendia a Tradição, a Família e a Propriedade) e o jornalista Olavo de Carvalho."
O sentido do parágrafo é claro: o iG entrevistou skinheads, os quais disseram receber orientação teórica do Instituto Plínio Correia de OIiveira e de mim. Todo e qualquer leitor entenderá a coisa exatamente assim: Olavo de Carvalho é um dos mentores dos skinheads, portanto um inspirador de crimes violentos.
Só há um problema: os "jovens de extrema direita" referidos na segunda sentença não são os skinheads mencionados na primeira. Só parecem que o são porque o parágrafo foi redigido de maneira propositadamente nebulosa para dar essa impressão. Quando você lê o restante da matéria, verifica que os jovens cujas declarações o iG reproduz não são os skinheads, e sim apenas os militantes estudantis da União Conservadora Cristã e da Resistência Nacionalista, que eu não conhecia até agora e que a própria reportagem do iG, mais adiante, confessa não serem skinheads de maneira alguma.
Do começo ao fim da matéria, nenhum, absolutamente nenhum skinhead aparece dizendo que recebeu orientação teórica nem mesmo remotamente vinda da minha pessoa. Mas, quando o leitor chega lá, a má impressão já ficou: o Olavo é o inspirador dos skinheads, e ponto final.
Isso não é jornalismo.
É crime de calúnia e difamação. Crime ardiloso, premeditado, construído mediante uma trucagem gramatical que maliciosamente confunde os sujeitos de duas frases para ludibriar o leitor e sujar a reputação de um inocente.
O pior de tudo é que a coisa vem inserida no curso de uma reportagem sobre o assassinato de um punk por skinheads, de modo a me fazer parecer não só inspirador de arruaceiros, mas de assassinos.
É o truque difamatório mais tosco e mais sujo que já vi em quatro décadas de jornalismo. A artimanha é pueril, mas funciona para toda uma classe de leitores sem experiência jornalística ou senso lógico apurado, que não conferem o fim da matéria com o seu começo.
Gente como Alves e Galhardo deveria ser expelida da profissão jornalística a pontapés.
Olavo de Carvalho é ensaísta, jornalista e professor de Filosofia
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