Publicado em Agosto 29, 2011 por Fernando Simões Garcia
Luís Alberto De Boni, para quem não o conhece, é um dos maiores – senão o maior – estudioso de filosofia medieval do país. Sua contribuição na tradução de maravilhas da filosofia medieval é incomparável: uma simples passada de olhos na sua página da Wikipedia basta para confirmar o que estou dizendo. Sua contribuição vai desde Pseudo-Dionísio, o Areopagita, até Meister Eckhart. Além dos livros que publicou, deixou artigos em revistas na Alemanha. Foi professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e da PUC do Rio Grande do Sul.
Em um gesto de caridade excessiva – manifestando os contornos de uma verdadeira vida intelectual e amor ao estudo – de Boni nos oferece um valioso livro cujo tema até então não fora focado por nossos estudiosos: a recepção e a evolução das obras de Aristóteles no ocidente.
De Boni nos apresenta um retrato bastante agudo e profundo da dificuldade da tradução dos textos aristotélicos pelos medievais. Parte dos textos foram traduzidos do grego, e outra do árabe. Não tinham o rigorismo técnico que temos, e se preocupavam mais com a justa posição do conteúdo do que com a forma ou elegância do texto. O que não significa atribuir pouco valor ou desconsiderar o esforço dos medievais – como explica de Boni no decorrer do capítulo. A influência árabe também foi decisiva para o contato com as obras d’O Filósofo pelos ocidentais, pois graças a expansão ‘pelo Oriente e Norte da África, o mundo árabe deparou-se com o legado grego’. Foram quase três séculos de traduções, e elas foram bem aproveitadas. Os Elementa, de Euclides, “conheceram três traduções, todas elas do árabe”. A Metafísica, traduzida primeiramente do grego, no Século XII, por autor desconhecido, teve sua versão do árabe, de Miguel Scotus (Antes de 1220), mais difundida do que a primeira, pelo menos até a tradução de Moerbeke. de Boni também coloca a importância de Avicena na divulgação de Aristóteles, assim como a contribuição árabe na prática de comentar textos.
Outra dificuldade foi a ressalva das autoridades eclesiásticas. De Boni fala exaustivamente do problema, mostrando a lenta evolução do estudo da obra aristotélica na Escolástica, sua entrada pela chamada Faculdade de Artes, e a proibição temporária dos livros de filosofia natural e da Metafísica de Aristóteles, passando pela efetiva entrada da tradição aristotélica, e dos comentários de Averróis no Ocidente, até os embates entre a Faculdade de Artes e a de Teologia, dando especial foco à filosofia de Boaventura.
Mostra como a filosofia passa então a ser apenas filosofia, sem necessidade de acréscimos ou detalhes. E é esse o foco da última análise do livro: a compatibilidade entre a filosofia e a teologia, e alguns problemas suscitados por aquela.
Para aqueles que querem entender efetivamente a influência dos gregos na Escolástica, esse livro é fundamental.
Luis Alberto De Boni – A Entrada de Aristóteles no Ocidente Medieval. EST Edições, 2010.
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