UNIÃO CONSERVADORA NACIONAL
O esquema que impregnou as universidades brasileiras nos últimos anos mostra um dos seus efeitos mais perversos para o desenvolvimento econômico. O sistema virou uma máquina de produzir funcionários públicos que precisarão de mais impostos e verbas para tocarem suas atividades no Estado e, principalmente, na própria universidade. Segundo um levantamento realizado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea -, recentemente divulgado, apenas 1,9% dos 26 mil doutores brasileiros, atualmente empregados, está na indústria, enquanto 66% permaneciam na universidade e outros 18% no setor público. A educação superior brasileira é descolada do setor produtivo e voltada para o seu próprio umbigo.
Enquanto prevalecer este abismo em relação à indústria, poucas chances temos de nos firmar na economia moderna, cada vez mais exigente em termos tecnológicos e de inovação. Na realidade, grandes grupos de professores universitários sempre demonizaram e lutaram contra qualquer relação institucional entre as universidades e os setores produtivos da sociedade. O velho pensamento, traduzido pelo clichê da universidade pública, gratuita e para todos, impregnou vários setores da educação, afastando a possibilidade da troca efetiva da universidade com as empresas nacionais e globais.
Com 66% dos doutores permanecendo nas universidades o que se tem é a máquina pública do ensino superior priorizando a formação dos seus próprios quadros e concentrando o investimento público na alimentação de sua burocracia e de suas relações de poder. Isto acaba por criar uma atmosfera fechada de reprodução social de grupos de professores e seus discípulos. Pior, gera uma rede intricada de benefícios e favores, já que os próprios professores escolhem por meio de concursos os seus alunos para serem os seus futuros colegas.
O espírito que produz o progresso e o avanço nas ciências exige uma outra lógica de comportamento institucional e formação da Capital Humano. A ciência para se desenvolver precisa do confronto de idéias, de experimentos e de metodologias, da curiosidade cultivada ao extremo, da rebeldia teórica e de muito treinamento e dedicação. Não se forma um verdadeiro cientista em ambientes fechados que se auto-reproduzem em função somente de suas demandas e acordos. O resultado disto tudo é a falta de oferta de cérebros para os setores que demandam criatividade, ousadia e espírito empreendedor, tudo que motiva, fortalece e gera riquezas para o País.
A separação entre educação e mercado de trabalho faz inúmeras vítimas. Em 1980, um trabalhador no Brasil produzia em valor agregado o equivalente a US$ 15,1 mil por ano, em 2005, esse valor caiu para US$ 14,7 mil, segundo a OIT. Na realidade as distorções começam de forma efetiva no chamado ensino médio. Destoando de todos os sistemas educacionais que são mais produtivos, o ensino médio brasileiro não oferece as oportunidades diversificadas de profissionalização aos mais jovens. Só há uma opção de ensino médio, então todos, que sobrevivem ao funil educacional, são obrigados a se submeterem a uma lógica de formação exclusiva para o enfrentamento de vestibulares. Não há oferta de formação de profissional para atender a demanda e a matrícula no ensino técnico não chega a atingir 900 mil alunos no Brasil.
Não há um só estudante de ensino médio no País que não se sinta pressionado a decorar conhecimentos para provas e esquecê-los em seguida. Não se desenvolve nos jovens as habilidades necessárias para que o mesmo possa se aprimorar de forma autônoma e adquirir novas competências para o mercado de trabalho. O Banco Interamericano de Desenvolvimento divulgou um estudo, em 2008, que constata que mais da metade dos latino-americanos entre 15 e 19 anos não têm um nível adequado de educação para conseguir um trabalho bem remunerado. No Brasil, o percentual nesta situação é de 71,6%.
Esta separação radical entre o mercado de trabalho, setor produtivo e sistemas e estratégias de ensino é a receita do fracasso econômico e do desperdício de dinheiro. Qualquer atitude séria em Educação no País passa por uma reforma vigorosa do sistema de ensino nacional, que fechado em si, forma pouca gente, com má qualidade e apenas a quantidade suficiente para repor peças de uma máquina pública de ineficiência.
* Mestre em Sociologia, 42 anos, Consultor em Educação e Ex-Diretor de Avaliação da Educação Básica INEP/MEC.
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