QUARTA-FEIRA, 20 DE ABRIL DE 2011
Edmund Burke |
Isaiah Berlin |
Queria compartilhar com vocês um tópico especial no primeiro post da proposta de celebrar o ideal de Universidade. Porque o autor da tese que irei recomendar foi o responsável pela minha entrada na vida acadêmica e, posteriormente, honrou-me ao aceitar ser o orientador da minha tese de mestrado defendida em fevereiro passado.Em Dezembro de 2008, João Pereira Coutinho defendeu a sua tese de doutorado batizada de Politica e Perfeição: Um Estudo sobre o Pluralismo de Edmund Burke e Isaiah Berlin e apropriadamente aprovada com nota máxima (summa cum laude) pela banca.
O trabalho é um estudo crítico e bem fundamentado que, usando as categorias de Michael Oakeshott, identifica as afinidades teóricas entre Burke e Berlin na oposição de ambos à politica de fé e na defesa comum da política de ceticismo, posição compartilhada que suplanta os respectivos enquadramentos políticos com que normalmente são identificados (conservadorismo e liberalismo). JPCoutinho identifica naquelas categorias uma dupla concepção de natureza humana de onde emerge uma “proposta pluralista que evita a nemesis característica da «política de ceticismo»: por um lado, um convite à inação do agente; e, por outro, a ausência de princípios duradouros capazes de enformar a condução do governo”.
A parte substantiva do argumento desenvolvido na tese está centrada na crítica antirrevolucionária de Burke, cujo conservadorismo é indissociável de uma dupla concepção da natureza humana, e na crítica antiutópica de Berlin, ancorada numa concepção de natureza humana universal. JPCoutinho demonstra na conclusão que Burke e Berlin têm uma similar concepção pluralista da atividade política, “na medida em que a afirmação de uma multiplicidade de valores e fins últimos de vida não exclui princípios universais, transtemporais e trans-espaciais, que resgatam ambos da nemesis característica da política de ceticismo”. Ambos, assim, resgataram e atualizaram o espírito político do “trimmer” na concepção consagrada pelo 1º Marquês de Halifax, ou seja, o esforço para entender e conduzir a atividade política de forma a explorar uma via intermediária que garantisse um justo equilíbrio.
Oakeshott advertiu que a política não deveria ser entendida como uma atividade que transforma os arranjos de uma sociedade segundo os ditames de uma ideologia de perfeição alicerçada em princípios abstratos. O agente político, por seu turno, buscaria o equilíbrio adequado para “evitar a destruição e a autodestruição dos extremos”. Burke e Berlin, segundo JPCoutinho, defendiam uma via pluralista de equilíbrio e moderação que, diante da complexidade da política, necessitava reforçar o vigor do ceticismo político diante das ameaças da politica de perfeição contra a justo estabilidade da vida em sociedade.
A tese é dividida em duas partes (Parte 1 - Edmund Burke e a «Revolução Filosófica» e Parte 2 – Isaiah Berlin e a Busca do Ideal) e tem oito capítulos, incluindo a introdução e a conclusão. O capítulo sobre Burke e a explicação sobre a natureza do conservadorismo britânico são primorosos. Há muitas outras questões relevantes e tópicos de interesse, mas este post não é um ensaio crítico sobre a tese, mas apenas uma breve apresentação dos argumentos principais.
É o caso agora de esperar que o JPCoutinho publique urgentemente a tese em livro (ou dela faça dois ou mais livros, segundo ele me disse ser a sua intenção) porque, neste momento, os interessados só poderão ter acesso à tese se a consultarem na biblioteca do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa em Lisboa.
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