O ESTADO
Quinta, 14 de Abril de 2011
Rodolfo Oliveira - Jornalista
Outro dia vi pela TV o senador José Sarney, cercado de seguranças e prestes a entrar em um carro blindado, falar a jornalistas sobre o desarmamento supostamente necessário ao País. “Temos que sensibilizar a população para esta causa [o desarmamento]”. Ora, eu próprio seria a favor do desarmamento, desde que eu também pudesse contar com seguranças e carros blindados 24 horas por dia, uma prerrogativa ao alcance de 0,3% da população brasileira. Como pertenço à fatia dos 99,7% de deserdados, julgo ser absolutamente idiota uma campanha que vise desarmar apenas o homem comum.
Todavia, para provar que sou um sujeito supimpa, lançarei aqui uma idéia, atenção ministro da Justiça, OAB e ONGs em geral: e que tal se nós lançássemos uma campanha que tivesse por finalidade desarmar assaltantes, estupradores e assassinos? Sim! Poderíamos, através dos mais modernos métodos de propaganda, tentar sensibilizar a categoria criminosa a entregar seus instrumentos de trabalho que tanto mal fazem à sociedade – por ano, são cerca de 50 mil brasileiros assassinados, números que fazem de qualquer Iraque um retiro espiritual.
Opa! Acabo de ser informado aqui pelos meus assessores que homicidas também lançam mão de outros instrumentos para perpetrar seus crimes, como pedras, facas e foices. Então, meus senhores, que mudemos o foco da campanha. Diante da impossibilidade de confiscarmos todas as facas de cozinha do Brasil, que tal se fizéssemos uma campanha em prol da detenção e encarceramento de elementos potencialmente perigosos à sociedade, como traficantes e assassinos em geral? Hein, hein? Do balacobaco a idéia, não? Já pensou, capturar bandidos e deixá-los presos? Seria algo como o despertar de uma nova aurora.
O quê? Minhas sugestões pecam pela falta de originalidade? Ok. E que tal uma campanha em defesa do aumento da vigilância das fronteiras brasileiras, vias de entrada de armas e drogas que alimentam a violência nas cidades? Idéia muito pequeno-burguesa ainda? E que tal se, em vez de querer restringir o comércio legal de armas – que, no Brasil, já é um dos mais restritos do mundo –, nós buscássemos coibir o comércio ilegal, aquele que não paga imposto e cujos produtos fogem a qualquer controle privado ou estatal?
Sim, leitores, sei que minhas sugestões pecam pela caretice, afinal, vejam só, onde já se viu propor a prisão de bandidos como medida para reduzir a criminalidade corrente em nosso meio? Certo está o iluminista Sarney. Uma população armada é uma população violenta, portanto, o melhor a fazer é monopolizar as armas apenas à bandidagem, deixando-as nas mãos de profissionais que entendem do assunto.
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