terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
O japa-esquerdista Sakamoto tem um post divertido, no qual conta uma historinha supostamente edificante:
Em uma esquina movimentada de São Paulo, caras-pintadas abordavam os veículos:
- Oi, tudo bem? Você poderia me dar uma moedinha. Eu passei.
Vendo a cena, um morador de rua que também fazia ponto naquele local, provido de uma ironia deliciosa, achegou-se:
- O senhor também poderia me dar uma? Eu também passei. Passei fome, passei frio, passei necessidade…
A moral sakamotiana esquerdista não explicita, mas sugere que o mendigo seria quem deveria ganhar a moeda, afinal, "a cada um de acordo com sua necessidade, de cada um conforme o seu bolso", parafraseando Marx. Mas eu não sei se é bem isso.
Ao dar grana a um mendigo - ou pior, a uma criança de rua -- o que estamos fazendo é simplesmente incentivando esse "trabalho". Em outras palavras, estamos pagando a um mendigo, ou a uma criança, para que fique nas ruas. Então, em vez de estar acabando com a mendicância, a estamos é aumentando. Amanhã o mendigo vai estar de novo ali, e a criança no sinal? Já serão duas, ou três. E quanto mais moedas o sujeito dá, mais crianças e mendigos aparecem. É como dar migalhas aos pombos.
O mesmo ocorre no nível macroeconômico, com quase todos os programas sociais. Todo tipo de ajuda governamental termina criando mais do mesmo tipo de comportamento que, em teoria, estaria tentando eliminar. Ou seja, a maioria dos programas "contra a pobreza" acabam mesmo é perpetuando-a. Sua função, ao contrário do que se acredita, não é acabar com a pobreza, mas sim dar emprego às burocracias encarregadas do problema.
Um exemplo claro é visto aqui nos EUA, onde os gastos com a "guerra à pobreza" aumentaram exponencialmente, sem contudo muitos resultados práticos. Diria-se até que a situação piorou, se não em termos materiais, ao menos em termos de patologias sociais.
Pobreza é causa ou conseqüência? Como diria a propaganda do Tostines, mendigam por que são pobres, ou são pobres por que mendigam? (Em vez de estudar, trabalhar, etc.)
No mesmo blog do Sakamoto, mais de um leitor observou que no Brasil são raros os mendigos de origem japonesa ou judaica. Natural: são comunidades unidas que costumam ajudar-se entre si, além de valorizar o estudo e o trabalho (sem falar da questão da inteligência, provavelmente genética).
Um outro leitor observou que há mendigos japoneses no Japão. Certo, mas a explicação não é tão complexa: tem a ver com acurva normal. Em qualquer sociedade, há os mais talentosos e os menos, os mais inteligentes e os menos, os mais estudiosos e os menos, os mais ricos e os menos, os que têm famílias que os ajudam e os menos. Como quase só há japoneses no Japão, há maior concorrência e a distribuição normal ocorre entre os próprios habitantes. (Também deve haver judeus pobres em Israel.)
Em 1994, dois estudiosos americanos escreveram sobre o tema, em um livro polêmico chamado justamente "A Curva Normal". (Aqui uma entrevista com um dos dois autores, em português)
Fora isso, a obsessão pela igualdade monetária termina levando a outros problemas sociais bastante mais graves. A situação das classes baixas na Inglaterra é exemplar, e foi muito bem ilustrada por Theodore Dalrymple no seu livro: embora, em termos de recursos materiais, nem sejam tão pobres, tendo casa e comida garantida pelo Estado, e acesso a muitas outras facilidades, o índice de ilegitimidade, violência, gravidez adolescente, alcoolismo, drogas, entre outros problemas, aumentou muitíssimo. O mesmo se deu nos EUA com o welfare state que, se em termos de recursos materiais melhorou um pouco a vida da comunidade negra, arrasou completamente com os seus valores sociais e familiares.
Significa tudo isso que não devemos ajudar os pobres, que a caridade é um mal? Negativo. Tampouco devemos ter o coração tão frio.
Ajudar os outros, na medida do possível, e dentro de um certo realismo, é bom. Há sim pessoas que, devido à idade, doenças, ou as próprias circunstâncias da vida, têm dificuldade em conseguir trabalho. Há sim pessoas que verdadeiramente precisam de ajuda, ou ao menos de um empurrãozinho.
Chamou a atenção recentemente nos EUA o caso do "mendigo da voz de ouro", que graças a um vídeo viral postado no Youtube conseguiu um emprego de radialista. (Bem, ele já tinha emprego de radialista antes, mas caiu nas drogas e na bebida, e por isso terminou como homeless).
Mas dar esmola a crianças? Ora, a mendicância infantil é exploração. Muitos pais e outros familiares vivem disso, porque adulto tem mais pena de criança. Há até mendigos que alugam bebês, e isso nem é algo novo: já uma crônica dos anos sessenta comentava esse problema, bem como o fato de existirem mendigos de classe média, que voltavam para seus apartamentos no fim do "expediente". (Esmola ainda é voluntária. Uma coisa que odeio, e e pudesse não pagaria, é flanelinha. Isso é extorsão sob ameaça velada de violência, e deveria ser coibido pelas forças policiais.)
Devemos dar esmola? Devemos dar migalhas aos pombos? Acho que depende de cada um.
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