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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

DESASTRES NATURAIS?

VIVERDENOVO
SEGUNDA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2011

Por Arlindo Montenegro

Uma ilustre amiga, daquelas pessoas que percorreu o mundo, plantou árvore, criou filho, escreveu livro de poesia, brigou com autoridades e privilegia todas as ongues em defesa da vida humana e animal, escreve irritada diante da tragédia criminosa que afeta a região serrana, cartão postal do Rio de Janeiro: "Quem poderia escrever um artigo DAQUELES pondo o guizo nos pescoços dos responsáveis? Onde estão o Ministério Público e a OAB?"

Dona Maria, se acalme! O Ministério Público e a OAB, são partes do mesmo sistema, da mesma engrenagem política que tem a cara de pau de definir como "desastre natural", uma tragédia anunciada há muito tempo, do pleno conhecimento das tais "autoridades" municipais, estaduais e federais. Isto foi dito por dona "Margareta Wahlstrom, representante da ONU para a Redução de Desastres", não foi?

Os articulistas da mídia, seguem a versão do "desastre natural". Isto é muito natural para quem está compromissado até o talo, com as autoridades que firmam compromissos internacionais, ("compromisso firmado pelo Governo em 2005 com a ONU") pegam a grana e não fazem nada, em...
"Uma década de descaso por parte do governo, aliado a eventos climáticos cada vez mais intensos, (que) deixou 7,5 milhões de brasileiros sem casas, com prejuízos econômicos, físicos ou psicológicos.

O "guizo" que dona Maria pede, pode ser posto no pescoço do ex presidente, da atual presidente, dos ministros do planejamento e das cidades, dos governadores e prefeitos, dos engenheiros de obras, dos fiscais de obras... E do bolso deles deveria sair a indenização para cada uma das vítimas atuais e futuras, porque outras consequências estão por vir.

"É surpreendente que o Brasil não esteja mais preparado para algo que ocorre com tanta frequência", afirmou Debarati Guha-Sapir, diretora do Centro de Investigação sobre a Epidemiologia dos Desastres, que trabalha com a ONU." E o email do Jamil diz: "Só no ano passado, desastres naturais causaram prejuízo de US$ 109 bilhões, valor três vezes maior que o de 2009. As chuvas e suas consequências foram os desastres mais comuns da década e do ano." Desastres ou crimes continuados?

Do ponto de vista político, repetir que o crime é "desastre natural", reforça apenas a irresponsabilidade dos governantes, que ninguém sabe que fim deram aos recursos disponíveis para as obras de prevenção, para a defesa da segurança da vida e das propriedades das pessoas. Desastre natural é erupção vulcânica, tsunami, incêndio causado por raio.

Mas no entendimento dos psicopatas com aura de "líderes", "salvadores", "sabe tudo", alagamentos decorrentes do inexistente planejamento urbano, alagamentos em estradas e queda de barreiras, morte de peixes nos rios, de aves e insetos polinizadores, envenamento de lavouras e lençóis freáticos, contribuem para a redução populacional. Eles desprezam a vida humana.

Para construir uma casa, o sujeito paga imposto na compra do terreno, paga a planta elaborada por um engenheiro, paga a aprovação da Prefeitura carimbada no desenho da planta. Existe uma lei federal de proteção de mananciais e cada município e estado possui o mapeamento geológico, retor das permissões de ocupação. Antes de cumprir as Leis existentes, nossos governantes se preocupam com a arrecadação.

O Estado e as Prefeituras, são responsáveis por guias e sarjetas e conservação de ruas e estradas vicinais. Se uma prefeitura aprova um projeto, sabe que restrições cobrem a área e que obra de drenagem deve ser feita. Como se justifica permitir a construção de uma moradia sobre a linha d'água? Como omitir a exigência de obras adicionais de segurança nas encostas? Pra isto cada proprietário paga o imposto anual, variável e crescente, para que preservem afluentes, cuidem do lixo, distribuam água potável e no mínimo informem sobre os riscos e prevenção...

A gente delega ao estado, elege os administradores e tem o direito de exigir que sejam responsáveis pelas consequências de seus atos. Nestes "desastres naturais" cada pessoa sobrevivente, tem e deve exercer o direito de cobrar via judicial, do prefeito, do governador, do presidente, que no mínimo deveriam cobrir de imediato todas as necessidades, sem esperar a caridade pública, sem cadastros e sem despejar caminhões de roupas doadas pela generosidade do país inteiro, no meio da rua. Isto caracteriza o desprezo às pessoas.

É preciso olhar com muita atenção o mundo em que vivemos e pensar bem, antes de falar em desastre natural. Tudo quanto fazemos, de modo construtivo ou destrutivo tem consequências. A hidrelétrica no meio da mata, o colossal canal de desvio das águas do "velho Chico", as permissões de uso de agrotóxicos letais, as enfermidades contraídas pelo uso de águas cloradas, o fluor das pastas dentais, o aspartame nos refrigerantes e adoçantes, balas e biscoitos...

Nossos arrogantes homens públicos desprezam todo o conhecimento. Isto tem consequências trágicas . Estes são crimes de responsabilidade exclusiva do estado corrupto, viciado em informações mentirosas. Centenas de cadáveres não resgatados vão gerar consequências. E nem estamos em guerra. Somos reféns da incompetência.

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