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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A REVOLUÇÃO GRAMSCISTA NO OCIDENTE



DIGESTO ECONÔMICO

Copyright©2002 by Sergio Augusto de Avellar Coutinho

"Antonio Gramsci era um marxista-leninista. Há uma diferença entre Lênin e Gramsci que eu explico no livro A Revolução Gramscista no Ocidente. Lênin liderou a revolução na Rússia em 1917, que resultou na União Soviética. A teoria leninista defendia o assalto direto ao Estado e a tomada imediata do poder. Gramsci defendia, primeiro, a conquista, ou melhor, a dominação (hegemonia) da sociedade civil via partido político. Ele achava que a experiência da Rússia não se aplicava ao restante da Europa. Sua estratégia era disputar com a burguesia a hegemonia sobre a sociedade civil e conquistá-la como prelúdio (primeiro passo) da conquista do Estado e do poder. Em resumo, Lênin e Gramsci representam o totalitarismo. Há representantes de Gramsci no Brasil. É aí que mora o perigo", explica o general Coutinho.


"ELE (GRAMSCI) CORRÓI A DEMOCRACIA POR DENTRO", DIZ O GENERAL COUTINHO.Sergio Kapustan
http://www.dcomercio.com.br/especiais/outros/digesto/gramsci_esp/07.htm

Foto: Marcelo Corrêa
Para o escritor Sergio Augusto de Avellar Coutinho, o pensamento do teórico italiano tem hoje seguidores no PPS (por ser o sucessor do Partido Comunista Brasileiro) e também em alguns setores do PT e do PSB.

Estudioso da política brasileira há mais de 50 anos, o escritor e general de reserva Sergio Augusto de Avellar Coutinho, 74 anos, analisa: a esquerda brasileira avançou nos últimos e as forças liberais democráticas perde ram espaço. Qual a razão? A demonização do lucro e do banqueiro deixou as forças liberais sem bandeiras. Por trás desse avanço, está a figura de Antonio Gramsci, um marxista italiano. "Ele (Gramsci) corrói a democracia por dentro", explica.

Segundo Coutinho, o Brasil corre o sério risco de sucessivos governos de esquerda, a partir da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), inviabilizando a disputa política no País nos próximos anos.

De formação liberal, Coutinho publicou, entre outros livros, A Revolução Gramscista no Ocidente, e Cadernos da Liberdade.

Sua crítica tem como base as duas obras. Elas, em síntese, tratam do mundo pós-colapso da União Soviética, a trajetória do pensamento de Karl Marx e de seus dois discípulos: Lênin e Gramsci.

Coutinho sustenta que ambos significam regime totalitários com uma diferença: Lênin defendeu a tomada do poder pela força.

Teórico italiano e autor de Cadernos do Cárcere, Gramsci defendeu a conquista do Estado de forma paífica, com a conquista hegemônica da sociedade e a neutralização das forças burguesas, como a Imprensa e a Igreja. Coutinho leu os cadernos de ponta a ponta. Para o escritor, o teórico italiano tem seguidores no PPS (por ser sucessor do Partido Comunista Brasileiro) e em setores do PT e PSB. O escritor cita como exemplos de ação gramscista a proposta do PT "democratizar a mídia" no segundo mandato Lula e o Código de Ética dos Jornalistas, proposta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), hoje abandonada. "O controle da mídia é uma medida autoritária e precisa ser combatido". O combate ao segundo governo Lula, esclarece, é na arena política, sem golpismo. Coutinho defende o PFL na ofensiva, único partido liberal que não se envolveu no mensalão (pagamento de propina a deputados da base do presidente Lula na Câmara em troca da aprovação de projetos). De acordo com o escritor, o partido deve enfatizar o liberalismo sem esquecer o social. Ele cita como exemplo o New Deal do presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt. A seguir, principais trechos da entrevista concedida ao Digesto Econômico, na sede Clube Militar, no Rio de Janeiro, fundado em 1887, onde o general é diretor cultural:


Digesto Econômico - Quem são as forças políticas identificadas com Antonio Gramsci no Brasil?

Sergio Augusto de Avellar Coutinho -
 Em primeiro lugar, o ex-Partido Comunista Brasileiro (PCB), hoje PPS. Ele não se saiu bem nas urnas (a legenda não atingiu a cláusula de barreira e perderá a representação parlamentar na Câmara, a verba do Fundo Partidário e o horário gratuito no rádio e TV), mas tem origem comunista. Há também influência de Gramsci no PSB e no PT, que defende socialismo heterodoxo, à moda do partido, na imprensa (formadores de opinião) e na cátedra (universidade). Qual o perigo que Gramsci representa? Ele corrói a democracia por dentro. De uma forma light e despercebido, o partido vai conseguindo as mudanças de senso comum e o enfraquecimento das trincheiras liberais democráticas, como a imprensa. 

DE - O PPS perdeu força na eleição e faz oposição ao PT. Isso não complica a sua projeção?

Coutinho -
 Ele perdeu força, mas as pessoas que estão no partido estão presentes na política. Essas forças de esquerda podem se unir no futuro. Nada impede, por exemplo, de no futuro, o PPS e o PT, que estão separados, se unirem. É possível unir um partido gramscista com um partido que prega a revolução passiva.

DE- Durante a campanha presidencial, foi divulgado na imprensa um documento do PT que anunciava medidas rigorosas para regular e democratizar os meios de comunicação no segundo mandato de Lula. Recentemente, surgiu o projeto de Código de Ética dos Jornalistas, proposta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), com o apoio do governo, mas foi abandonado porque houve reação contrária . Qual sua avaliação?

Coutinho -
 Os dois casos são indicativos de quem tem práticas gramscistas. O controle da mídia é uma medida autoritária e precisa ser combatida. É por meio de um governo autoritário que o PT fará as transformações definitivas da sociedades que ele defende desde a sua fundação. Vou dar um outro exemplo da influência nefasta de Gramsci no Brasil: o plebiscito do comércio de armas. Se o "sim" fosse vitorioso, teríamos o Estado controlando o direito do cidadão.

DE - Em linhas gerais, o que Antonio Gramsci representa?

Coutinho - Antonio Gramsci era um marxista-leninista. Há uma diferença entre Lênin e Gramsci que eu explico no livro A Revolução Gramscista no Ocidente. Lênin liderou a revolução na Rússia em 1917, que resultou na União Soviética, mas ela entrou em colapso em 1991. A teoria leninista defendia o assalto direto ao Estado e a tomada imediata do poder. Gramsci defendia, primeiro, a conquista, ou melhor, a dominação (hegemonia) da sociedade civil via partido político. Ele achava a experiência da Rússia não se aplicava ao restante da Europa. Sua estratégia era disputar com a burguesia a hegemonia sobre a sociedade civil e conquistá-la como prelúdio (primeiro passo) da conquista do Estado e do poder. Em resumo, Lênin e Gramsci representam o totalitarismo. Há representantes de Gramsci no Brasil. É aí que mora o perigo.

DE - Como ficam as instituições, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Supremo Tribunal Federal (STF)? Elas não representam um freio à essa onda gramsciana?

Coutinho - Não creio. É possível infiltrar aliados nessas instituições. Cito o exemplo do STF. Cabe ao presidente fazer a nomeação de ministros, por exemplo. Reeleito, é certo que o presidente Lula nomeará pessoas que se identificam com a sua política.

DE - O sr. se apresenta como um liberal. Como o sr. avalia a força do liberalismo no País ? 

Coutinho - O liberalismo democrático ou a liberal democracia está de tanga no Brasil. Quais são os partidos que representam a liberal democracia brasileira? O maior deles é o PFL, que não lançou candidato a presidente da República. Os demais partidos, que seriam do mesmo campo, como o PP e o PL, envolveram-se no mensalão. Outro partido, o PTB, de origem corporativista, mas liberal hoje, também envolveu-se no mensalão. Dessa maneira, sobrou apenas o PFL que ainda não encarou o seu papel histórico de defesa da liberal democracia. O PFL fez ano passado um encontro de refundação, mas é preciso avançar. Falta ao PFL mostrar a pregação e o apego à democracia. E mais: o liberalismo deve contemplar a parte social. É só lembrar o New Deal (programas sociais implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, sob o governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt, com o objetivo de recuperar e reformar a economia norte-americana, e assistir os prejudicados pela Grande Depressão de 1929).

DE - O PFL tem hoje uma aliança nacional com o PSDB .........

Coutinho - Pela lógica da política, encerrada a eleição a aliança acabou. Cabe ao PFL tratar de encontrar o seu caminho e se tornar uma alternativa eleitoral em 2010. É certo que a esquerda gramsciana disputará a eleição e cabe enfrentá-la.


Foto: Marcelo Corrêa
"Falta ao PFL mostrar a pregação e o apego à democracia.
E mais: o liberalismo deve contemplar a parte social."
DE - O PFL seria uma alternativa ao PSDB e PT? Uma terceira via?

Coutinho - O Brasil precisa de um modelo liberal democrata que nos empurre para sua a prosperidade. Se não houver mudanças, vamos passar a vida toda pagando Bolsa Família. Qual foi o País socialista que foi salvo pelo socialismo? Vá à Angola e conheça a miséria de lá. O socialismo é bom para fazer oposição ao liberalismo econômico. E pára por aí.

DE - Qual é a dificuldade dos liberais no Brasil?

Coutinho - É necessário afirmar que houve um crescimento das forças de esquerda no Brasil. Ele começou nos anos 60 e avançou nos 70. A esquerda fez uma grande estrago aos liberais ao demonizar o lucro e o banqueiro. O tema da campanha eleitoral hoje é demonização das privatizações. Acompanhei a privatização da Cosipa no governo Itamar Franco e sou testemunha da lisura do processo. Na verdade, foram criados anti-copos contra as práticas liberais e os resultados estão aí: só PSDB e PT disputam o poder".

DE - Como deve ser a oposição num eventual segundo governo Lula?

Coutinho - Eu defendo o fortalecimento dos partidos políticos. Não tem outro jeito. As forças políticas que saírem derrotadas terão que aprofundar a luta política. Sem golpismo. Se você fizer um discurso na Cinelândia, aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, é possível que algumas pessoa parem para ouvir. Mas isso não resolve. É preciso instrumentalizar esse tipo de ação. Cabe aos partidos de oposição mobilizar a sociedade e fazer a disputa no campo político. Lula continuará a obra do primeiro mandato. Ele investirá no social e continuará a apropriação partidária do Estado. O presidente tentará aprovar algumas reformas (Previdência e Política). Na área política, ele já defendeu a convocação de uma Constituinte (para fazer a reforma política). A Constituinte foi um balão de ensaio, mas tudo é possível. Na área econômica, ele precisará de ter força política para fazer as mudanças que ele entende necessárias aos País. Elas serão feitas na medida em que ele for acumulando forças - a chamada revolução pelo alto. Sempre é bom lembrar: Lula não está mais à esquerda hoje por não ter plenos poderes.

DE- O que virá depois?

Coutinho - Reeleito, Lula cuidará do seu governo e depois fará o seu sucessor. No meu entendimento, governos sucessivos do PT ou de esquerda podem inviabilizar o País politicamente no futuro, justificando um clima revolucionário em favor de uma força política identificada com a teoria gramscista.

DG - Qual o político que o sr. citaria como modelo de liberal?

Coutinho - O ex-presidente Juscelino Kubistchek foi um um político liberal. Apesar das falhas de seu governo, como a corrupção, é precisa saudar o seu espírito democrático. A corrupção é um ônus e uma carga que um regime liberal carrega, como outras forma de governo, inclusive as ditaduras marxistas. JK é um grande exemplo ao País.

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