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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Bispo recusa homenagem do Senado em protesto contra aumento de salários

VEJA
21/12/2010 - 16:00


Dom Manuel Edmilson da Cruz foi à tribuna e afirmou que o reajuste dos vencimentos de parlamentares, ministros e presidente é um "atentado"




Gabriel Castro
Os senadores podiam ter encerrado o ano sem essa. A repercussão negativa do aumento concedido pelos parlamentares em benefício próprio e a cargos do Executivo causou um constrangimento nesta terça-feira, no Senado Federal. O bispo emérito de Limoeiro do Norte (CE), dom Manuel Edmilson da Cruz, seria agraciado com a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, premiação entregue pela primeira vez. Eram cinco os homenageados. Dom Manuel compareceu ao parlamento, subiu à tribuna e... recusou a comenda.

O religioso disse que a decisão dos parlamentares envergonharia Dom Hélder Câmara: “Só me resta uma atitude: recusá-la. Ela é um atentado. Uma afronta ao povo brasileiro, ao contribuinte para o bem de todos com o suor de seu rosto e a dignidade de seu trabalho”, declarou. O prêmio recusado por Dom Manuel leva o nome do sacerdote católico que militou na defesa dos direitos humanos durante o regime militar.
O bispo de Limoeiro do Norte pediu que os parlamentares reanalisassem a decisão. E, depois, adotou um discurso conciliador: “A atitude que acabo de assumir, assumo-a com humildade, sem pretensão de dar lições a pessoas tão competentes e tão boas”. Dom Manuel desejou um Feliz Natal e encerrou o discurso. Os outros quatro homenageados com a comenda foram Dom Pedro Casaldáliga, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e os defensores públicos Wagner de La Torre e Antônio Roberto Cardoso.
A recusa do religioso ocorre seis dias depois que deputados e senadores reajustaram os próprios salários de 17,5 mil para 26,7 mil reais – um aumento de quase 62%, três vez maior que a inflação acumulada. O salário do presidente da república, do vice-presidente e dos ministros também foi alçado ao mesmo valor, o que significou uma elevação de mais de 130%. Já para o salário mínimo, o aumento concedido pelo governo e defendido pela maioria governista é bem mais modesto: 5,8%.

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